LEMBRANÇAS DA VELHA ANA PEDRO

LEMBRANÇAS DA VELHA ANA PEDRO

Antonio Agostinho

Eu tinha uns quinze anos quando conheci em Malhadinha uma senhora por nome de Ana Pedro que tomava umas canas e ficava violenta com quem encontrava levando todo mundo ao ridículo. Fosse com quem fosse a velhota falava de modo arrebitado mandando todo e qualquer cristão para o inferno. A senhora Ana Pedro era quase uma louca e quando bebia ficava muito pior. Com esta senhora ninguém podia discutir assunto algum sobretudo quando ela estava alcoolizada. O seu esposo chama-se Pedro Paz e era um cidadão honesto que tinha bastante vergonha quando a velha Ana se excedia na bebida ou na sua total burrice. A meninada de Malhadinha levava a velha à chacota e ela respondia com todo tipo de palavras horríveis. A tia Marica não gostava de ouvir o falatório da velha cachaceira e louca. Quando a senhora Ana Pedro passava na estrada a tia Marica se benzia dizendo hoje nós temos muita zoada e sobretudo o mais triste vocabulário. A velha Ana Pedro era sempre odiada pelo povo de Malhadinha porque a velha não respeitava ninguém e levava todo mundo ao deboche. A tia Ana Pedro tinha muita raiva da meninada que quando a encontrava passava a fazer a maior fofoca com aquela senhora de alta idade. Quando eu me encontrava com a tia Ana Pedro a tratava com respeito como se ela fosse uma pessoa de grande fidelidade. Sempre eu tomava a benção aquela velhota que virou alvo de crítica para a meninada do meu tempo. A nossa velha Ana Pedro passava todos os dias estrada acima estrada a baixo, levando na mão direita uma bolsa de palha e na mão esquerda um cassetete de jucá que ela ameaçava a gurizada sem vergonha. A velha Ana Pedro foi a figura mais excêntrica que já houve em Malhadinha.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 29/01/2024
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