SONETOS DA CONFISSÃO.

1

Que sejam essas palavras de desabafo,

A confissão de um poeta moribundo,

Um catador de versos ao luar,

Que seja esse derradeiro depoimento.

Embora, no decurso dessa jornada,

A cada estrofe à beira do abismo,

Arrancadas violentamente do peito,

Desnudas aos olhares contemplativos.

Confesso em cada verso deixado,

Com todas as forças eu confesso,

De alma limpa e coração sincero.

Confesso o meu desastroso amor,

O dolorido sentir que no peito anela,

As minhas nuances nunca antes reveladas.

2

Lembro-me da vez primeira,

Dos meus olhos pousando em sua beleza,

O coração batendo descompassado,

Inundado por um amor secreto.

Eram os meus olhos janelas do pecado,

Desejando-te em todo o tempo,

Configurando pensamentos delirantes,

A imaginação é um cárcere sem grades.

A sua sua voz ainda é de um anjo lêdo,

Ainda trás o mesmo encanto de outrora,

Os meus olhos ainda são janelas do pecado.

Ainda te vejo do mirante solidão,

O seu esplendor ilumina os meus dias,

Ainda desejo os teus lábios nos meus.

3

Lembro-me de quando nos aproximamos,

Da inocência daqueles nossos olhares,

Da convivência tão cristalina daqueles dias,

Você nunca percebeu o que eu sentia.

Os versos rabiscados no caderno,

O meu coração inocente se iludiu,

Bebeu do cálice de sua divina beleza,

Embrenhando-se de teus olhares.

Quando eu percebi o abismo,

Escancarado diante destes olhos,

Era tarde demais para um passo atrás.

Sem calcular os riscos me atirei,

De braços abertos e peito nu me joguei,

Ainda estou a cair nesse abismo.

4

Quisera eu, minha doce donzela,

Queimar-te a face em ardentes beijos,

Estilhaçar com os meus desejos,

Minha amada, tão serena, tão bela.

Lembra desses versos de outrora?

Da primeira vez que os publiquei?

Na perecível folha de um jornal,

Rabisquei o meu destino de perdição.

Quando teus meigos olhos os leu,

Tal foi sua surpresa com minha ousadia,

Que de pronto irritou-se comigo.

Não me arrependo do meu ato,

Eu o faria quantas vezes fosse possível,

Arde ainda em meu peito esse amor.

5

É o amor esse sentimento complicado,

Que nos arrebata todos os sentidos,

Nos deixando como que desnorteados,

Tomando decisões e atitudes impensáveis.

É assim que eu fiquei com você,

É assim que permaneci por tempos,

É assim que ainda continuo ao vê-la,

É assim, que infelizmente, vou morrer.

Confesso não somente o meu amor,

Também todo o meu fracasso,

A minha incapacidade perante você.

Você nunca se importou com nada,

Embora tenha conhecimento de tudo,

Para você, sou uma folha seca ao vento.

6

Os poetas são almas sensíveis,

Captando sentimentos nus,

Alheios aos olhos dos outros,

Imperceptíveis as almas simples.

No entanto, não somos compreendidos,

Poucos são os que de fato nos conhecem,

A criação literária oriunda de nosso ser,

É algo extraordinário, único, belíssimo.

Nem sempre falamos de nós mesmo,

Nem sempre gritamos as nossas dores,

Nem sempre cantamos nossos amores.

Entretanto, estes meus versos ao vento,

É uma particularidade somente nossa,

Desrespeito ao que nós dois sentimos.

7

Confesso o meu desespero,

Uma agonia me corroendo,

Sugando as minhas energias,

A força vital do meu viver.

Confesso, estou cansado de tudo,

Já não tenho mais alegrias,

Já não tenho ânimo nenhum,

As coisas perderam o sentido.

Sou o que não queria ser,

Vivendo em lugar estranho,

Onde eu não deveria estar.

Fingindo um sorriso,

Mentindo que estou bem.

Não estou, definitivamente não.

8

Também confesso novos amores,

Sentimentos que surgem repentinamente,

Faz o coração se renovar novamente,

E os olhos brilharam na escuridão.

Tua face jovem, de vívido esplendor,

Tua pele alva, delicada, perfumada,

Os seios nus, fartos, cheios de vida,

As pernas fortes como torres de marfim.

A tua voz delicada, suave, como de um anjo,

Cantando doces palavras em meus ouvidos,

Palavras de um amor de impossibilidades.

É a distância o nosso maior obstáculo,

Quisera eu estar no alcance de seus braços,

Me embriagar no hidromel de seus lábios.

9

O amor é cheio de estranhezas,

Confuso, às vezes, indecifrável,

Quem, afinal, poderá compreendê-lo?

Alcançá-lo então é uma tarefa impossível.

Sou dominado por esse sentimento,

Não somente isso, tornei-me escravo,

Vivendo em função de suas vontades,

De suas ordens, mandos e desmandos.

O amor se esconde facilmente

através de belos e luminosos olhos,

Lábios de diferentes formatos.

O amor é especialista em ocultar-se,

Ele se veste da beleza do anjo lêdo,

Me torturando todas as noites.

10

Confesso, estou completamente louco,

Já não sei mais o que devo fazer,

Sou essa pessoa descontrolada,

Poeta de palavras desesperadas.

É os teus olhos o meu declínio,

Os teus lábios meu delírio,

A tua face majestosa um encanto,

O teu corpo é um oásis completo.

Os meus versos te desenham,

Cada palavra é uma confissão,

Uma entrega sem retorno.

A solidão tornou-se minha prisão,

O luar um carrasco carcereiro,

Tenho senão, palavras ao vento.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 16/01/2024
Código do texto: T7978019
Classificação de conteúdo: seguro