TRILHA DE SONETOS CXXVI - DIÁLOGO COM LEGIÃO URBANA

*VIA LÁCTEA*

Quando tudo está perdido

Sempre existe um caminho

Quando tudo está perdido

Sempre existe uma luz

Mas não me diga isso

Hoje a tristeza não é passageira

Hoje fiquei com febre a tarde inteira

E quando chegar a noite

Cada estrela parecerá uma lágrima

Queria ser como os outros

E rir das desgraças da vida

Ou fingir estar sempre bem

Ver a leveza das coisas com humor

Mas não me diga isso

É só hoje e isso passa

Só me deixe aqui quieto

Isso passa

Amanhã é um outro dia

Não é?

Eu nem sei porque me sinto assim

Vem de repente um anjo triste perto de mim

E essa febre que não passa

E meu sorriso sem graça

Não me dê atenção

Mas obrigado por pensar em mim

Quando tudo está perdido

Sempre existe uma luz

Quando tudo está perdido

Sempre existe um caminho

Quando tudo está perdido

Eu me sinto tão sozinho

Quando tudo está perdido

Não quero mais ser quem eu sou

Mas não me diga isso

Não me dê atenção

E obrigado por pensar em mim

Não me diga isso

Não me dê atenção

E obrigado por pensar em mim

Compositores: Renato Manfredini Junior / Eduardo Dutra Villa Lobos / Marcelo Augusto Bonfa / Enrique Martin Morales

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*HÁ, SEMPRE, LUZ*

Às vezes, uma sensação estranha

Macula a minha consciência inteira

E, triste, choro a enlamaçar poeira

Com a amargura em convulsão tamanha.

Meu pensamento, na armação da aranha,

Preso aos espinhos da maior roseira,

Foge da luz ao pressentir cegueira,

Pois sofre a angústia que uma fase ganha.

Durante a noite, a escuridão piora

E a minha lágrima, que alcança aurora,

Reflete a dor de um coração vencido.

Naturalmente, a decadência passa

E penetrando a luzidia graça

Vejo que nada, enfim, está perdido.

Ricardo Camacho

*INCUBAÇÃO*

Perduram minhas horas descontentes

Num Miserere - Oh, canto de capela! -

Adeus aos dias belos, florescentes,

Que se perderam, todos, na procela!

A ardente ação das dores inclementes,

Feito uma nuvem sobre mim revela

A baba de Caim que, em gotas quentes,

Parece a choradeira de uma vela.

Nos derradeiros anos, a tristeza

É minha companheira na certeza

Pela ascensão crepuscular de traumas!

Mas Deus, no infindo Amor, nos ilumina,

Sob o Lençol Real da Luz Divina

É lenta a incubação das tristes almas.

Ricardo Camacho

*HÁLITO DA MORTE*

A minha vida, um dia, qual jardim

viçoso, floresceu... mas ressecada

as folhas, pelas dores, na calada

da noite trouxe à margem o estopim.

Agora tudo está perdido... Enfim,

os dias passam lentamente e nada

pode mudar a narrativa... cada

minuto, morre um pouco mais de mim.

Os dias são tristonhos e eu me sinto

perdido, percorrendo um labirinto,

como a exibir a minha vida inteira.

O corpo exausto entregue à dita sorte

já sente o sopro do hálito da morte...

Entrego-me à viagem derradeira!

Aila Brito

*ESTRELAS*

Nem tudo está perdido enquanto resta

alguma estrela cúmplice que brilha,

convite para um passo a mais na trilha

e para que aparemos outra aresta.

Às vezes, o caminho se encruzilha,

mas toda escuridão tem uma fresta,

por ela passa a graça manifesta,

que faz com que escapemos da armadilha.

Estrelas choram lágrimas de luz

que lavam a poeira dos caminhos

e assim a nossa angústia se reduz.

Estrelas que cintilam como dança

nos lembram que não somos tão sozinhos

e mostram que a esperança nos alcança!

Luciano Dídimo

*ESTOU EM PAZ!*

No aconchegar da noite, em mim absorto,

reflito a minha vida, a minha história,

o mundo de prazer, a minha glória...

Tudo o que conquistei e o meu conforto.

Segui por um caminho um tanto torto...

extasiado fiz a trajetória

repleta de glamour, mas ilusória,

"até o limiar do desconforto".

Meu corpo está febril, e sobre a alfombra

repousa, mas de tudo, só a sombra

é indolor... o mundo, inteiro, jaz!

Mas quando tudo está perdido, vem

a luz divina e nos bem diz o amém...

E nada mais importa... estou em paz!

Aila Brito

*GRATIDÃO*

Aplaudo-te por teres meditado...

Pensado em mim de modo solidário,

Exatamente quando, solitário,

Pensei que tudo havia terminado.

Olhando o céu, escuro, pontilhado

De estrelas, feito contas de um rosário,

Localizei em ti o sagitário,

Então bendisse o teu gentil cuidado.

Já não me sinto mais no breu, sozinho...

Na madrugada sigo, de mansinho,

Provando da manhã que se inicia...

Um novo mundo está ao meu alcance!

Graças a ti ganhei mais uma chance

De perdurar no palco ou na coxia.

José Rodrigues Filho

*TORMENTO RUDE*

Às luzes liriais de um céu distante,

Estrelas, sentinelas lumiadas,

Fanais do meu estado agonizante,

Revelam minhas lágrimas pisadas.

Acima do teatro agonizante,

Os astros, feito reis das madrugadas,

Vigiam meu tristíssimo semblante

Como se eu visse o sangue nas espadas.

E, ainda, sem cessar no rosto o pranto,

Contemplo na alvorada o desencanto

E as fechaduras das etéreas portas.

A angústia não dá trégua... acorda, o dia,

Em névoas plúmbeas da melancolia,

Trazendo, junto, a noite em sombras mortas.

Ricardo Camacho

*RETALHOS…*

Um cobertor de estrelas — céu aberto —

agasalhando cada belo sonho,

é tudo o que queria ter por perto,

além do seu semblante anil, risonho…

No mar de escuridão — total deserto —

meu verso escolhe um léxico tristonho

que, tendo no passado o amor liberto,

ressente-se do caos… (com fé, transponho!)

Em nome da lembrança gloriosa

que aponta, sobre o chão, suave rosa,

dos olhos brotam gotas (puro orvalho),

cabendo a mim rasgar um tal momento;

e em outros ver com lupa, com aumento,

pois sei o que costuro e o que retalho!

Elvira Drummond

*ISABELA*

Um anjo cabisbaixo, certo dia,

Pousou nas grades pretas da janela

Do quarto singular em que eu dormia,

Contente por estar com Isabela...

Às vezes, o anjo triste me dizia:

"O mundo é doloroso, a morte é bela...

Ninguém merece a tua companhia,

Nem essa mulherzinha e nem aquela!..."

De tanto ouvir aquele ser sofrido,

Tornei-me, lentamente, convencido

Que nada tem, na vida, solução...

Fiquei, então, sozinho no passado,

Ouvindo só o choro acabrunhado

De um anjo que se chama Depressão...

Guilherme de Freitas

*ROSA NEGRA*

Caminho sob um denso nevoeiro,

meus olhos ardem, minha boca amarga

e, pouco a pouco, a estrada, outrora larga,

comprime o passo neste cativeiro.

Sem pressupor o golpe derradeiro,

suporto ainda o peso desta carga,

atormentado pelo algoz que embarga

o meu clamor perdido no roteiro.

A languidez percorre o sangue e esfria

o peito entregue à imensa opacidade

onde me falta crença e valentia.

Procuro estrelas, mas o céu que invade

o pensamento tem a cor sombria

da rosa negra, flor da mortandade.

Jerson Brito

FÓRUM DO SONETO
Enviado por FÓRUM DO SONETO em 08/01/2024
Reeditado em 08/01/2024
Código do texto: T7971465
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