SONETOS DOS SENTIMENTOS.

CANTO 19.

1

Canta o amor, solitário poeta,

O sentimento que te move,

Que surge, comove, transforma,

Canta em alta voz toda essa dor.

Em teus versos de liberdade,

O amor é reescrito, centrado,

As tuas muitas vivências,

Os dias de angústia suprema.

Ainda que seja a última vez,

Que seja derradeiras suas palavras,

Do dizer nunca antes dito.

Quem lê que entenda o quanto dói,

Compreenda quem é que se esconde,

Se oculta fugitivo em cada estrofe.

2

Canta a sua dor, solitário poeta,

A dor de ter amado tanto,

De ter devotado tamanho sentimento,

E perceber que não valeu de nada.

Hoje os teus escritos são de agonia,

Versos riscados à beira do abismo,

Prontos a cair no esquecimento,

Quem nessa vida os lerá?

Joga-os aos quatro ventos,

Ao sabor das estações,

Talvez alguém os encontre.

Coloque-os em uma garrafa,

Atira-os ao sabor das marés,

Talvez algum náufrago os encontre.

3

Já se faz alta a noite,

De estrelas brilhantes,

Estendidas no firmamento,

A luz de desatento luar.

O poeta a tudo contempla,

Do alto da janela solidão,

Os sentimentos desnudos,

Passeando soltos no peito.

Quem é ela, poeta?

Revela-nos o seu nome,

Onde habitas o teu amor?

Quem é essa que te enlouquece?

Que faz teu coração parar ao surgir,

Por favor, revela-nos, quem é ela?

4

Amanheceu e nada mudou, nobre poeta,

O sol se levantando lentamente,

Pássaros cantando na copa da árvores,

Homens e mulheres passando por tu.

Faces serradas, sisudas, indiferentes,

Outros acenam sem querer respostas,

Corações pesados, almas cansadas,

Sentimentos fervilhando por dentro.

Somos observadores da vida alheia,

De papel e caneta nas mãos,

Derramando versos na folha em branco.

Procuras por ela em cada rosto que passa,

Às vezes, algumas enganam o teu olhar,

Pensas nela, enganoso coração apaixonado.

5

Canta as tuas quimeras, nobre poeta,

Os medos ocultos no coração,

Os teus muitíssimos desejos proibidos,

Aquartelados no calabouço da alma.

Se derrame em cada estrofes,

Enlouquecendo em cada verso,

Delirante em cada palavra,

Desvario completo em cada poema.

Tornastes o que não querias,

Encontrando o que não procuravas,

Vivenciando todas as outras vidas.

A tua vida ficou esquecida,

Lutastes tanto por tantos amores,

Sobrou-te apenas o barco da solidão.

6

Aquele teu desejo oculto,

Acorrentado no peito,

Desejo nunca compreendido,

Flagelando aedo seio.

Quem é ela, nobre poeta?

Revela-nos o seu nome,

Que é que te atormenta,

Te faz perder o sono.

Tantos foram os versos riscados,

Feitos e refeitos na tábua do coração,

Versos de um amor inalcançável.

Os sentimentos desnudos,

Cambaleantes diante dos olhos,

Quem os poderá compreender?

7

Canta uma vez mais , nobre poeta,

Ainda que teu mundo seja ilusões,

Ainda que tuas quimeras pareçam reais,

Ainda que teus devaneios o assombre.

Canta pela última vez, nobre poeta,

Sacie a tua alma com teus pensamentos,

Transforme-os em doces palavras,

Sejam os versos teu porto seguro.

Entenda, nobre aedo das palavras,

Ela nunca terá olhos para você,

Em nenhuma existência, aliás.

Ainda persiste nesse louco amor?

Escrevendo dia após dia e noite após noite

Tua infinita dor em amar tanto?

8

Amar tornou-se uma luta,

Interna e externa, infinita,

Uma busca pelo inalcançável,

É uma quase desistência o tempo todo.

Você a vê todos os dias, nobre poeta,

Ela está diante da janela da tua alma,

Os olhos brilhante, a face formosa,

O sorriso desconcertante de enlouquecer.

O teu coração arrebenta-se no peito,

Falta-lhe uma porção do ar,

Pernas e mãos ficam trêmulas.

Basta um olhar, o timbre da voz,

Um simples aceno, uma ou duas palavras,

E o seu mundo vira de cabeça para baixo.

9

Ela, sempre ela, nobre poeta,

Desfilando sua bela juventude,

Por onde passa ela é admirada,

Enfeitiçando outros olhos inocentes.

É sempre ela, nobre poeta,

Oferecendo graciosos sorrisos,

A sonoridade da voz de anjo lêdo,

Quem, afinal, poderia resistir tal.

Sei o quanto sofrer, caríssimo poeta,

Todos esses sentimentos aí dentro,

Corroendo a tua alma e coração.

Talvez um dia ela te perceba,

Note o teu desesperado amor,

E valorize cada verso do teu sofrer.

10

Canta uma última vez,

Chore um pouco mais,

Escreva os versos derradeiros,

Jogue-os ao sabor do vento.

A tua canção não será esquecida,

Alguém o lerá em algum momento,

Perceberá o quanto você amou,

Em cada palavra e em cada poema.

Laça os teus versos ao mar,

Deixe-os ao sabor das marés,

Que sejam navegantes solitários.

Um último pedido te faço, nobre poeta,

Revela-me em segredo o nome dela,

De quem é a face do teu tormento.

( Fragmento do livro: canções do amor em quatro estações)

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 03/01/2024
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