A verdade do verso
Se leres neste verso algum desgosto,
se a solidão notares transparente,
se achares meu pesar desnudo e exposto,
lembra-te, amor, que um verso nunca mente.
Lembra-te, amor, que escrevo ao sol deposto,
já se apagou a tarde efervescente,
já vincam, as tristezas, o meu rosto
e de saudades chora o meu presente.
Mas neste verso, amor, vivo e revivo
e nele não se afia a vil mentira,
mas antes guarda um álibi pretenso,
uma verdade e um cântico assertivo:
das minhas duas vidas, uma expira,
das minhas duas mortes, uma venço!