Dor
Esta visão sonâmbula que vaga
Pelo meu ser, guardando um ar profundo;
Em cuja face de feição presaga
Rolam todas as lácrimas do mundo;
E, embora abrindo a minha vida em chaga,
Torna tão presa a voz em que a difundo;
Voz que, na angústia da garganta, apaga
O clamor que ergue em mim seu mal fecundo;
Envenenando a argila em que palpito,
Comunica-me o anceio do Infinito,
Que, em sua essência cósmica, me eleva.
Irmã da noite, cerra-me o horizonte,
E talvez possa constelar-me a fronte
De tanto encher-me o coração de treva!