Falta de assunto

Com a falsa modéstia de poeta,

Que já versificou pra quase tudo,

Até para os sinais do surdo-mudo

Aos pés da plebe rude e da seleta,

 

Vos digo: minha obra é incompleta,

E jaz empoeirada, inda no prelo,

Por trás do triste drama de Otelo,

O pai da minha rima predileta.

 

Sem a falsa modéstia, todavia,

Hoje escrevo bem mais que escrevia,

Quanto Carlos Dumont carpiu José.

 

E agora José? Então pergunto!

O que hei de fazer sem ter assunto?

-Põe um versinho a mais no rodapé.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 21/11/2023
Reeditado em 22/11/2023
Código do texto: T7937049
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