TRILHA DE SONETOS CXXI- DIÁLOGO COM TIM MAIA
🎵🎶*AZUL DA COR DO MAR*🎵🎶
(Tim Maia)
Ah, se o mundo inteiro me pudesse ouvir
Tenho muito pra contar, dizer que aprendi
E, na vida, a gente tem que entender
Que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri
Mas quem sofre sempre tem que procurar
Pelo menos vir a achar razão para viver
Ver na vida algum motivo pra sonhar
Ter um sonho todo azul, azul da cor do mar
Mas quem sofre sempre tem que procurar
Pelo menos vir a achar razão para viver
Ver na vida algum motivo pra sonhar
Ter um sonho todo azul, azul da cor do mar
------------------- 🎵🎶 ------------------
*SIMBIOSE*
Falo da vida e o mar me vem à mente,
Na simbiose eterna do balanço...
Na brisa, na procela ou no remanso
Da travessia, sempre, rumo à frente.
Neste processo, inevitavelmente,
Enquanto caio e nado, sofro e alcanço
O aprendizado e, sem qualquer descanso,
Progrido na subida de patente.
Muitos, porém, sucumbem pela rota,
Por águas revoltosas e a derrota
Faz, do oceano, um cemitério escuro.
Pois na dualidade do destino,
No regramento ou mesmo em desatino,
Todos verão as plagas do futuro.
Ricardo Camacho
*REMÍGIO*
As dores, por reflexos penitentes,
Germinam desde a consciência alerta,
Que, na alvorada interior desperta,
Após os pesadelos veementes...
Quando as angústias, inconvenientes,
Deslocam-se da ilhota mais deserta,
Quebram as asas da emoção liberta,
Na fúria dos relâmpagos dolentes...
Não há vingança! Mas, da ação, o efeito
Que educa o bruto pelo amor perfeito,
Até que o próprio, um dia, assim, o sinta...
E, então, sentindo-o à luz dos atos ternos,
Será mais um dos pássaros eternos
Num voo de alegria mais distinta.
Ricardo Camacho
*ANTES E DEPOIS*
Na estrada, lembro, à meia-luz, andava
Sob o estelário divinal, sozinho,
Sentindo a dor do mundo no caminho
E, no caminho, via, ao longe, lava...
Ainda lembro que meu pé sangrava,
Cansado, sustentava o pergaminho,
Curvado e em prantos, num redemoinho,
Sentia-me uma sementinha escrava...
Do espaço, feito testemunha, a lua,
Com seu fanal em minha face nua,
Tirou-me, do ideal, a morbidez...
Até que despertei, foi só um sonho,
Revendo à vida com o olhar risonho,
Passei a não sofrer... e assim se fez.
Ricardo Camacho
*EFÊMERO*
Consiste, o meu presente, num suplício
Que não tem prazo para retirar-se,
Ainda que no riso do disfarce,
Ainda que sentindo um benefício.
Na implícita moral do sacrifício,
Enquanto a Eterna Lei não me ressarce,
Aguardo a punição finalizar-se
Antes que eu chegue ao pé do precipício.
Contudo, enxergo a luz além da bruma,
Na espera da medalha, apenas uma,
Que sirva-me de símbolo no mérito.
E os sonhos, certamente, voltarão
Tirando-me da trágica ilusão
Que vem de imensas garras do pretérito!
Ricardo Camacho
*MAZELAS*
Da lógica transcendem corolários
Que explicam a apatia dos lamentos
De atores, tediosos e sedentos,
Com a perseverança em refratários.
Vagam, os momentâneos solitários,
Por ventos dissonantes de tormentos,
Na antítese do bem, em passos lentos
E exaustos... sem os olhos visionários.
Ó cegos! Não vislumbram a verdade
Que vem, com natural intensidade,
Bastando apreciar o céu presente
Na elevação sublime da alegria,
Tirando o foco da melancolia
E, assim, seguir cotidianamente...
Ricardo Camacho
*DIRIA AO MUNDO...*
Se o mundo inteiro, atento, me escutasse,
diria: esqueça o sofrimento, não
lamente a luta, busque a solução
de colocar o riso em sua face.
Diria ainda ao "mundo" que entoasse
o riso, em notas, como na canção,
vibrando a melodia ao coração...
no acorde, a luz do amor se propagasse
e um sonho azul (azul da cor do mar),
chegasse na plumagem colorida,
para nos braços da emoção valsar
e acreditar na obrigação cumprida
à luz de um novo e belo caminhar
para ofertar sentido flóreo à vida.
Aila Brito
*TEATRO REAL*
Como no palco, a vida se apresenta...
e cada ator recebe o seu papel.
Se algum artista chora e se lamenta,
o outro, contente, encena um menestrel.
Porém o ator que o seu papel contenta,
recebe aplausos -- saboreia o mel --
enquanto aquele cuja falha ostenta,
sofre com vaias, degustando o fel.
A cada cena, um novo aprendizado...
que a vida só consome o "prato" dado,
e os atos têm sentença de um juiz.
Mas, no cenário alegre ou no aflitivo,
sempre haverá de se encontrar motivo
de ter um sonho azul... de ser feliz!
Aila Brito
*CONTRASTES*
Os risos do passado são escassos,
O tempo devorou-me a juventude,
Às vezes me pergunto como pude
Diminuir de mais os firmes passos.
Perdi o meu vigor e sem saúde
Não há a liberdade em belos traços...
Assim pretendo achar os meus pedaços
Bem antes que eu me vá num ataúde.
Enquanto muitos riem, outros choram,
Uns vivem sem um Deus, e muitos oram,
Entendo as diferenças, dessa vida.
E sigo agradecendo o tempo todo;
Jamais plantei intriga nem engodo,
Minha cabeça segue sempre erguida.
Douglas Alfonso
*O SONHO AZUL*
Não posso concordar com o Tim Maia
Que diz que alguns nasceram destinados
A ser, do regozijo, degredados,
Enquanto os outros caem na gandaia.
As dores sempre ficam de tocaia,
Seremos, cedo ou tarde, sorteados,
Sorrisos dão lugar a tristes brados,
O aplauso se reveza com a vaia.
O certo é que, em qualquer situação,
Sempre haverá razão para viver,
Pois há um sonho azul a se buscar.
O certo é que, por trás da escuridão,
O sol, calado, aguarda o alvorecer
Para nos revelar o azul do mar!
Luciano Dídimo
*NO BALANÇO DO MAR…*
Podemos, sim, ninar a própria vida,
tomando, como exemplo o imenso mar…
Seguindo o balanceio, sou vencida
pela cadência — bálsamo invulgar.
A ondulação, no vai-e-vem da lida,
nos deixa em prontidão, sem alquebrar,
pois toda tempestade se revida
com tempos de bonança em seu lugar.
O mar é minha singular escola…
em seu compasso danço a barcarola,
ciente de que a vida, tão binária,
teceu, em mim, atenta comissária
que, nesse azul do mar, a hostil gangorra
controla com audácia, até que morra…
Elvira Drummond
*CRUELDADE INATA*
Se a humanidade a paz, enfim, buscasse,
Quanta certeza o mundo nos daria:
Fim da tristeza e amplexos de alegria
Se a belicosidade se acabasse.
Se o amor, fecundo, a Terra dominasse
Disseminando ao vento a poesia...
Das guerras: chegaria o ledo dia
Que ser guerreiro não nos animasse.
Em todos os períodos da história,
Buscando para si dinheiro e glória,
Os homens se mataram por poder...
Conflitos pavorosos, inclementes,
Eclodem por motivos inerentes
À sede de matar e ver morrer.
José Rodrigues Filho
*O ESCUDO*
Nas provações da vida, algum alento
assoma quando o olhar desvanecido
descobre, à sua volta, o colorido
de parcas luzes, onde me alimento.
No passo pode haver comedimento
e o golpe da fadiga ser sentido
que venço cada estorvo se decido
seguir a fé, sublime mandamento.
Refaço pontes, firme na vereda,
pedindo que a esperança me conceda
o escudo necessário para a luta.
O instante de fraqueza, passageiro,
jamais atinge o espírito guerreiro
de quem os próprios medos pouco escuta.
Jerson Brito