À deriva
Exposto a tudo que a rua lhe oferta
Camisa aberta, sempre continua;
O calçado ganho, quando não aperta,
Folgado lhe faz tropeçar na rua.
Sua vida é única, sua via é incerta
Desperta com o sol, desperta com a lua
Se parece são, mas tem chaga aberta
Vive uma realidade que é nua e crua.
Sua face já foi bem mais macia,
Mas tornou-se áspera como o dia a dia
Que pouco lhe traz alguma leveza,
O brilho nos olhos já não existe mais,
Como barco à vela, sem vento, sem cais
Segue à deriva ante a correnteza.