Marche funèbre
(A Jon Matthew Kennedy, 1977–2023)
“Dieu, amour et poésie sont les trois mots que je voudrais seuls graver sur ma pierre, si je mérite une pierre.”
(LAMARTINE)
“Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz – e escrevam nela:
‘Foi poeta, sonhou e amou na vida’.”
(ÁLVARES DE AZEVEDO)
Deixai-me dormir o sono eterno afastado
Do bulício infindo da Humanidade;
Sem pompas, cortejo, lágrimas, vaidade,
Longe – bem longe – quero ser sepultado.
Longe – bem longe…! No bosque, olvidado
De qualquer vestígio da Humanidade,
Surdo ao pranto que mascara a falsidade
É onde hei de repousar, sem ser perturbado.
Só tu, Lua, minha amiga predileta,
Vinde, carinhosa, teus olhos pousar
De quando em vez em minha lápide secreta –
E que, nela, mão amiga venha a gravar:
“Cá jaz aquele que um dia foi poeta.
Cantou, sonhou – e isso deve-lhes bastar”!