*** *SONETOS DESTAQUES "ABSC" - ANTOLOGIA DE "POESIA RETRÔ-XIV"-2023* ***

*O GRITO*

Soneto classificado e selecionado para a ANTOLOGIA DE "POESIA RETRÔ-XIV"-2023

Caminho a sós em rotas casuais

Pela cidade e nada faz sentido...

Ouço uma voz falando ao meu ouvido,

Depois algumas outras... e outras mais.

Começo a ter delírios visuais

E enxergo tudo meio distorcido;

No peito, um sentimento dolorido

Se junta aos elementos irreais.

Prossigo devagar, respiro um pouco...

Se alguém disser que estou ficando louco,

Por certo, não incorre em exagero.

Aflito, melancólico, confuso,

Eu paro sobre a ponte e, então, produzo

Um grito singular de desespero.

Gilliard Santos

*DESTEMIDO*

Soneto classificado e selecionado para a ANTOLOGIA DE "POESIA RETRÔ-XIV"-2023

Nada há que me machuque ou que me vença,

Que me enclausure num caixote preto,

Que me proíba de fazer soneto

Ou que me faça sucumbir à crença

De ser um mal a perfeição pretensa,

Muito maior que o fútil e obsoleto...

Portanto, nestes versos, pois, prometo

Não desistir da evolução intensa!

Sou eu o autor do próprio desempenho,

Eu organizo as letras... vou e venho

Feito um soldado da arte nas estradas...

Concedo ao meu leitor o acolhimento,

Tirando-o da tristura ao dar o alento

Na porta das saudáveis madrugadas!

Ricardo Camacho

*AMPULHETA*

Soneto classificado e selecionado para a ANTOLOGIA DE "POESIA RETRÔ-XIV"-2023

A areia ali se move lentamente

Neste artefato frágil e incolor...

E em sua ação mecânica e silente,

Vai alcançando o bojo inferior.

Os grãos de areia nunca irão se opor

À lei da gravidade contundente...

Transcorrem, exercendo seu labor,

Cumprindo sua sina, tão somente.

Naquele artigo que hoje adorna a sala

A areia nunca volta, nunca entala

E vai, por ele, sendo consumida.

O tempo, em categórica faceta,

Trabalha assim, conforme essa ampulheta,

Levando, pouco a pouco, nossa vida.

Gilliard Santos

*VOZ DA CONSCIÊNCIA*

Soneto classificado e selecionado para a ANTOLOGIA DE "POESIA RETRÔ-XIV"-2023

"Chores, mas nunca morras na tormenta!"

Ó nobre consciência, sentinela,

Oculta atriz e artista que pincela

Todo o futuro que o presente ostenta.

Humilha, cura, nutre e tudo enfrenta

Na treva ou no invisível que revela

A chama fértil, vívida, amarela,

Que purifica mais do que água benta!

Defende e guia, ó ponto cardeal,

Na eterna vigilância contra o mal,

Com seu dourado escudo e espada de aço...

Pois sendo a soberana imperatriz,

Ressoa nos ouvidos do infeliz:

"Sorrias sem fazer-te de palhaço!"

Ricardo Camacho