Chapéu de lebre

 

A saudade? Um chapéu, marrom... De lebre.

A presença, por certo, numa ausência...

Quando tudo parte, menos a essência,

e meu poema, intáctil, a celebre.

 

Lembrança, eu digo: és tú uma febre.

Delira pelos cantos e carências,

paredes brancas... Pelas evidências...

E não há, decerto nada, não há, que a quebre.

 

Exceto a aba macia pela testa

de alguém especial, meu velho pai,

seja indo pra cidade, alguma festa...

 

A cortina do tempo? Quase um ai.

Ah! Rimas soluçadas que me empresta!...

Resiste o chapéu... Lembrança vem. Vai.

 


 

 

JUSTIFICATIVAS

Imagem autorizada por meu sobrinho Adriano. Trata-se do chapéu  que meu pái usava para ir à cidade, festas, visitas. Meu pai partiu. O chapéu ficou no lugar de sempre lá na roça. Esse final de semana meu sobrinho Adriano clicou essa imagem e minha irmã Nária Regina, mãe do Adriano me desafiou a fazer um poema. Respondi que estava sem inspiração. Ela me respondeu: tudo bem, quando tiver inspiração você faz. Só que depois do almoço me senti tentada a cumprir o desafio e, com muita dificuldade, escrevi esse Soneto, misturado à saudade de meu pái que partiu há três anos. Espero que gostem. abraços.