*TRILHA ABSC 2 - SONETOS COM PALAVRAS "MEDO" E "CORAGEM"*
*FILOSOFIA DO ESPELHO*
Mais uma vez, converso com os dedos,
Numa estratégia singular mantida
Para driblar preocupações da vida
E bloquear, ao mesmo tempo, os medos
Sempre invasores dos momentos ledos,
Por uma sutileza indefinida,
Teimosa, natural e percebida
Pela potência astral de alguns segredos...
Os sonhos, tão voláteis, dia a dia,
Estão nos meus instintos vacilantes,
Num limbo da coragem que a energia
Retém à luz dos chacras mais vibrantes,
Obedientes à idiossincrasia
Presente em meus aspectos variantes!
Ricardo Camacho
*MEDO*
Esta minha coragem tão franzina,
de coragem apenas arremedo,
é a tentativa de domar o medo
do monstro que me espera em cada esquina.
Ser medroso tem sido a minha sina,
procurando evitar o atroz degredo.
Sobressaltado vivo, desde cedo,
sem saber o que a sorte determina.
A humana lida é grande desventura
de andar, sem rumo, nesta vã procura,
seguindo, às cegas, ao fracasso certo.
Cabeça erguida, finjo ter coragem,
E, avante, sigo na fatal viagem;
do grande abismo cada vez mais perto.
Fernando Antônio Belino
*DILEMA*
O medo de morrer que me acompanha
Opõe-se ao meu desejo de matar-me,
Dilema que por certo tem seu charme,
No entanto me destrói com sua sanha.
Às vezes numa angústia tão estranha,
Acordo atordoado, sem alarme,
Sentindo o peito opresso sufocar-me,
Buscando a corda vil que me emaranha.
Às vezes essa angústia condoída,
Esmaga-me qual trágica engrenagem
E a morte desejada e repelida
Pergunta-me com sua voz selvagem:
"Alguém que desistiu da própria vida,
Agiu por covardia ou por coragem?"
Rafael Ferreira
*MEU MEDO*
Eu tenho medo... tenho muito medo
de confessar que te amo de paixão.
Por isso vou calando o meu segredo,
tentando sufocar meu coração.
A vida, muito tarde ou muito cedo,
é feito um alfinete num balão.
Não sou, nem nunca fui nenhum brinquedo
para viver aos ventos da ilusão.
Ao meu amor eu rendo uma homenagem
nos versos que eu componho com ardor,
disfarçando o erotismo da mensagem.
Um dia ainda encontro um vendedor
para comprar um quilo de coragem
e vou gritar ao mundo o meu amor
Arlindo Tadeu Hagen
*ANTAGONISMOS*
Um rol de antagonismos tece a vida,
dispomos todos eles na costura,
formando certa estampa colorida
que, em dias mais sombrios, traz a cura…
Jamais um malefício, aqui, perdura,
pois segue, à tempestade, o céu que olvida
e alveja com leveza a cor escura,
sigamos sempre… em busca de guarida.
Depois do nevoeiro, a claridade…
depois de intrigas vis, vem a verdade,
Quem leva a fé de escudo, na bagagem,
enfrenta a correnteza de histeria…
Tal como a noite gesta cada dia,
de cada medo brota audaz coragem!
Elvira Drummond
*INTREPIDEZ*
– Menino-moço, apaga em ti vadiagem
e abraça forte a luta a ser remida.
Repele os ócios, finca, ali, coragem
e irás banir fracasso e a dor frigida.
Procura obter no estudo a sã mensagem:
– saber, transpõe entraves desta vida!
Rendido ao medo, vais perder bagagem;
verás avessa e ignóbil tua lida.
Avante! Passos firmes, mente alerta:
– jornada longa exige ardor e audácia!
No atual recuo adentras rota incerta
com beco torpe e acesso a um só cantinho...
Terás vitória sobre a vil falácia,
se houver bravura e ação no teu caminho!
Lucília A. T. Decarli
*SOBRE A CORAGEM*
Durante a infância, ao passo que crescia,
Ouvi diversas vezes a mensagem
Dizendo que é preciso ter coragem
Aquele que procura a primazia.
O tempo foi passando e eu ficaria
Com essa ideia presa na engrenagem
Da mente, atrás da mágica dosagem,
Composta de cautela e de ousadia.
Feito a água que se esvai por entre os dedos
Aos poucos, fui livrando-me dos medos
Para alcançar os sonhos que persigo...
E consegui sucesso, enfim, não nego,
Mas hoje, algumas vezes eu me pego
Beijando a doce face do perigo.
Gilliard Santos
*RESQUÍCIOS*
Confesso tinha medo... muito medo!
De estórias que escutei, na minha infância,
Falando de demônios... E a ignorância
Moldou-me, então, o mundo em palco tredo.
Mistérios balizavam todo o enredo,
E dogmas completavam a substância
Volátil que, conforme a circunstância,
Unia o bem e o mal em vil segredo.
Do empírico busquei afastamento,
Mas a coragem falta quando enfrento,
Em sonhos, os resquícios da abstração...
Humanos têm instinto de boiada...
Acatam a indução da ideia errada,
Por isso, não me afasto da razão.
José Rodrigues Filho
*SE EU PUDESSE PARTIR*
A vida, muitas vezes, se apresenta
Na forma de um desejo abandonado.
E o medo - silencioso - representa
A mágoa que caminha lado a lado.
Meu peito se comove… se arrebenta…
Não quer ser mais um cárcere privado.
E quando em mim a lucidez se ausenta
Eu sonho em navegar no Mar-Alado.
Será que existe um mundo de Ventura,
Onde a tristeza não terá fartura
E eu possa finalmente ser liberto?!
Eu penso todo dia nesta viagem,
E juro que não falta em mim coragem!
Mas penso nos meus pais que estão por perto…
Nestório da Santa Cruz
*CATARSE*
Na caminhada terrena presente,
Atravessando esperados martírios
Entre os romeiros que ostentam os círios,
Sigo, no meio, curvado e plangente.
Sangram as solas dos pés, de repente,
Numa igualdade de dores, delírios...
E as orações que revelam os lírios,
Sobem nas asas da fé, lentamente...
Neste cenário sofrido da vida,
Verto a impotência na aurora vencida,
Cristalizando a tristeza na imagem
Quando a torrente de lágrimas vivas
De intermitentes marés emotivas
Vão misturadas de medo e coragem.
Ricardo Camacho
*ENTRE PESRAS E ESPINHOS*
Teremos, com certeza, na jornada,
Muitas pedras no meio do caminho;
Junto à rosa, estará o agudo espinho,
Ferindo-nos, ao longo desta estrada.
A trilha, com coragem, começada,
Resulta, às vezes, num final mesquinho.
Maior é o risco, ao caminhar sozinho,
Que a lida solitária é mais pesada.
Quem, na amizade, busca algum suporte,
Vai completar, incólume a aventura,
Sem medo de encontrar contrária sorte.
Mesmo que fira os pés na pedra dura,
A trajetória, em direção ao Norte,
Será mais branda e sempre mais segura.
Fernando Antônio Belino
*PATILHÃO*
Coragem! Segue em frente nessa luta,
Ainda tens batalhas a vencer.
Levanta e a voz de Deus aceita, escuta,
Sentindo o Amor que salva todo ser.
Rugindo o tempo está em força bruta,
Obliterando todo o teu prazer,
A dor é sempre incólume, absoluta!
E a tua fé parece esvanecer...
Revolve teus percursos para a luz,
Ninguém carregará contigo a cruz,
A força que precisas vem só dela...
Destrói o medo que te cega em tudo,
A vida te dará um novo escudo
E a paz virá... Depois da vil procela.
Maurilo Rezende
*ROCHA FORTE*
O caminhante, quando mergulhado
na rispidez das curvas que palmilha,
conhece o medo e, embora horrorizado,
se resistente, rasga mais a trilha.
Se um pedregal requer algum cuidado,
reveste os pés de fibra e, assim, ladrilha
o chão hostil, aos poucos superado,
a divisar fulgente maravilha.
Nenhum revés aflige quem se esmera
pelo ideal gravado em rocha forte
e, da refrega, afasta todo entrave.
Um coração movido a amor prospera,
tem na coragem seu melhor suporte
e, do sucesso, guarda sempre a chave.
Jerson Brito