AREIAS SEM RIMA I/III
AREIAS SEM RIMA I -17 SET 23
existe algum antídoto para o amor?
alguma bruxa talvez me respondesse
ou feiticeira me explic ar pudesse
como amornar um tão forte calor.
existe algum antídoto para o ardor?
que o coração aos poucos esvaziasse
e para outro favor se deslocasse,
sem se prender inteiramente em tal favor.
outro dia escutei, em minha surpresa
que amor representa apenas sofrimento,
todo o prazer reencarnado num lamento,
para nós só garantida uma certeza,
que todo o amor acaba por morrer,
de um modo ou outro a enfim se desfazer.
AREIAS SEM RIMA II
alle Menschen Brüder werden,
escreveu Schiller, o poeta alemão,
o ideal romântico no seu coração,
poucos aqueles que enfim tal ideal herdem,
surgem as guerras, em que tantos há que perdem,
somente alguns lucrando na ocasião,
cada soldado matando o seu irmão,
tais ideais de humanidade fácil lerdem...
pode existir o verdadeiro amor
que irmane inteiramente a humanidade,
sem que seja estraçalhado em ambição?
como é difícil engajar-se nesse ardor,
dando a qualquer que vejamos, em verdade,
alguns retalhos de nosso coração!
AREIAS SEM RIMA III
pobre Beethoven, como se desapontou
com seu modelo romântico, o corso Napoleão,
o assassino de milhões, mau capitão,
que a seus próprios seguidores não poupou;
qual verdadeiro general não se tornou,
venceu batalhas por sangue e por canhão,
mas seus soldados inteiro o coração
lhe entregaram, até que a morte os dispersou;
este ideal de liberdade, em romantismo,
nunca encontrou um real correspondente:
os homens lutam por entrega unicamente
a um herói qualquer em seu cinismo,
abrindo mão da inteira liberdade
só pelo ideal de massacrar a humanidade!