SONETO ALEXANDRINO COM TEMA LIVRE

***ATIVIDADE ABRASSO***

 

**MÓ**

 

Saudade, torvelinho edaz que vem, me esmaga,

A dolorosa saga, abutre que eu aninho,

Lacera mais que espinho e sangra mais que adaga,

Que me tritura e traga igual voraz moinho.

 

Nos meus lençóis de linho aumenta mais que praga

No instante que se apaga a luz e me avizinho

Do fim do meu caminho – o mal que se propaga

E que jamais me afaga ou faz-me algum carinho.

 

A mó atroz, voraz, que meu viver fratura

E deixa, enfim, tristura e vincos no meu rosto,

As marcas do desgosto e de agonia pura.

 

A dor que não se cura, eterna, por suposto,

E deixa o ser exposto à mágoa, desventura,

Às margens da loucura ou sem prazeres, gosto.

 

Edir Pina de Barros

Cadeira nº 6

Patrona - Cecilia Meireles

 

 

**JURAS**

 

Hás de sonhar comigo um sonho apaixonado

nas noites de luar e no raiar dos dias;

hás de esquecer a dor das páginas vazias,

o medo, a vã saudade e as ânsias do passado.

 

Hás de sorver comigo o doce mel do agrado,

fartas porções de azul, de amores e ambrosias

e não terás, do outrora, as dúvidas sombrias,

mas viverás no agora um êxtase abrasado.

 

Terás o meu amor de longa e prima data,

mais desejado que ouro ou joia em fina prata

e muito mais carmim que as rosas que te dei...

 

Hás de sentir o ardor e o beijo deste verso,

teu nome gemerei em teu olhar imerso...

Então tu saberás que não te esquecerei!

 

Geisa Alves

Cadeira nº 23

Patrono - Artur Azevedo

 

 

**EPITÁFIO**

 

Há neste frio intenso um quê de nostalgia,

uma tristeza oculta, um ar mais carregado;

parece até que o céu também está mudado,

a solidão é fria... E a noite está mais fria!

 

Olhando da janela, o lago congelado

é feito a vastidão dessa melancolia...

Não volto mais aqui, pois sem a companhia

do meu amor, o inverno é muito mais gelado...

 

Meus dias por aqui não são mais relevantes,

também estou partindo e deixo aos visitantes

uma plaquinha, escrita, amarrada na porta:

 

Aqui vivi feliz, mas hoje, entristecido,

sem meu amor de inverno eu fico tão perdido...

Vende-se o bangalô... O preço pouco importa!

 

Edy Soares

Cadeira nº 11

Patrono – Gregório de Matos

 

 

**O JOGO DA VIDA**

 

Um jogo de xadrez, assim vai nossa vida.

Cavalos e peões lutando ferozmente

Na luta desigual que luta toda gente

No sol de cada dia, em batalha renhida.

 

Os golpes, com destreza, em cada arremetida

Das torres e da Dama, em pugna efervescente,

Fazendo o tabuleiro em palco incandescente,

No qual fenece o sonho e a peça é destruída.

 

O destino inclemente, o nosso antagonista,

Gozando, taciturno, a sua vil conquista,

Na causa sem futuro em desigual combate...

 

O Rei vê-se perdido em sua triste sorte.

Inexorável, eis agora, atroz, a morte

E o jogo tem seu fim -- levamos xeque-mate!

 

Paulo Cezar Tórtora

Cadeira nº 20

Patrono - Fagundes Varela

 

 

**LACUNAS...**

 

Na intensa escuridão da noite que é audaz,

não há nenhum lugar que seja de alegria,

ninguém me dá a mão e sei que tanto faz,

pois noto, em cada olhar, um traço de ironia!

 

Vejo contradição... alguns estão sem paz,

não querem se esforçar, viver em sintonia,

proferem sempre o não, assim o amparo jaz,

expira em cada lar e torna-se utopia!

 

Às vezes quero ver o amor que não existe,

sempre demoro a crer que todo mundo é triste,

e que a emoção oscila... altera todo o astral!

 

Quando a esperança some, oculto o meu temor:

engulo a minha fome, escondo a minha dor,

e sigo numa fila imensa, sem final...

 

Janete Sales

Cadeira nº 5

Patrono - Augusto dos Anjos

 

 

**A UM AMIGO QUE PARTIU**

 

Não sei...não sei medir a dor na despedida,

sua partida deixa um vazio flagrante,

uma ausência total, desastrosa e sentida,

produz um golpe, qual navalheira cortante.

 

Há laços que nos são tecidos, sob medida,

pelo simples viver, na roda viva e errante.

Aquilo que se vê na habitual descida,

o vero amigo faz diverso aquele instante.

 

Quando a partida ocorre em tempo prematuro,

é mais difícil ser concorde ante a saudade

que brota forte e pasma em nosso triste peito.

 

Resta o adeus, em seu tom gris, amargoso e escuro,

à revelia, sim, da razão... da vontade,

mas decisivo, vez que não resta outro jeito.

 

Basilina Pereira

Cadeira nº 33

Patrono: Jorge de Lima

 

 

**O PEDESTAL DO VERSO**

 

Para mim, fazer verso é predestinação,

o verso me acompanha, à luz de uma matriz

Entretinha-me ouvir uma declamação,

no grave de meu pai, de quem fui aprendiz.

 

Cresci ouvindo verso e prestando atenção.

Como recordo ainda! A voz rouca e feliz

de minha tia lendo em aula: “eu tive um cão...”

E escrevendo Camões, no quadro-negro, a giz.

 

Por um tempo tentei fugir de qualquer verso.

Foi tudo em vão, no entanto, o verso me seguindo,

correndo atrás de mim, correu todo o Universo.

 

Quando não pude mais, curvei-me à sua estima

e no seu pedestal recebeu-me sorrindo:

a palavra sonora, a inspiração, a rima.

 

Raymundo Salles

Cadeira n° 18

Patrono - Ineifran Varão

 

 

**LE SOIR VENU (Ao cair da tarde)**

 

A tarde vai-se embora enquanto a mente voa

Sobre a casa e o vigor dos seus telhados mudos,

De onde ouço um tilintar com os seus tons sisudos,

E nada mais a ouvir, do que, em meu quintal, soa.

 

E que vem de um sininho, acima, em doce loa,

Ao cicio da brisa em sons sutis, miúdos,

Pois à paz não convêm os zumbidos agudos,

Com a doce canção que me coloca à toa.

 

Ah, quanto bem-estar, de enlevo edificante,

No qual a alma repousa e alenta o coração,

Para, assim, degustar a vida diletante!

 

De sobra, esse prazer da tarde fugidia,

Na qual deixo voar, liberta, a inspiração,

E um soneto criar, à luz da liturgia!

 

José Walter Pires

Cadeira nº 34

Patrono - Sá de Miranda

 

 

**HORIZONTE**

 

Ao meu lado, recordo a presença adorada,

De mãos dadas os dois, silenciosamente...

Os passos a seguir ao longo da calçada...

Nossas sombras ao céu... - Recordo

docemente...

 

A casa acolhedora, os dois chorões na entrada,

Uma flor na vidraça a pender levemente...

Uma impressão fugaz e quase desolada,

No declínio da tarde e na luz do poente...

 

O beijo a se estender por trás de uma cortina,

A nossa confissão, retina com retina,

A carícia suave, a lágrima incontida…

 

Olho o horizonte, agora. As tardes são vazias...

Indago se sonhei ou não, com esses dias...

E sei que nunca mais irei sonhar na vida.

 

Paulo Maurício G. Silva

Cadeira nº 03

Patrono - Alphonsus De Guimarães

 

 

**REFLETINDO A CHUVA**

 

A chuva traz fartura ao meu sertão, e o cheiro

da tenra plantação se espalha pelos ares...

encanta e faz verter do meu olhar, aos pares,

lágrimas de emoção, por ser, de Deus, herdeiro.

 

Quando ela chega mansa e molha o meu canteiro,

desperta o roseiral, o cravo, e atrai olhares...

Mas quando chega forte, arrasta muitos lares,

alaga a plantação... também o meu terreiro.

 

Se é bênção lá do céu, por que maltrata a gente?

A quem atribuir a culpa dessa enchente?

Por certo alguns dirão: a culpa vem de Deus!

 

Ó gente má, se o mau presságio e o choro vêm,

é, sim, por nossa conta e culpa... assim também

o desamor... Que Deus perdoe os filhos Seus!

 

Aila Brito

Cadeira nº 32

Patrona - Auta de Souza

 

 

**O HOMEM TOLO**

 

O homem insano e tolo elide a eterna Luz,

Porque mergulha em vã e triste escuridão.

Assim, se torna néscio e grande paspalhão,

Em sua vil redoma opaca, feito cruz!

 

O homem tolo e insensato em nada se conduz.

Frustrado...é misantropo em sua solidão,

Se vazio de amor, merece compaixão,

Que haja misericórdia, ó nosso Bom Jesus!

 

E, destarte, o homem tolo, em sua magna essência,

Perde a Sabedoria e a sua sã prudência,

Quando, em vaidade, afronta e impõe a sua lei!

 

Um homem que age assim, com mão severa e avara,

O seu comportamento, em vida, se escancara,

De modo vil, grotesco, em ser senhor da grei!

 

J. Udine Vasconcelos

Cadeira: 07

Patrono - Mário Quintana

 

 

**SERVUS ANIMA AD AETERNUM**

 

Relembrando que foste um bondoso menino,

não entendo o porquê da maneira fingida

como escondes quem és realmente na vida

paralela que tens – de cruel assassino.

 

E não digas que estás a cumprir um destino,

sem poder evitar essa sanha incontida

que te obriga a matar, não te deixa saída

e te leva a julgá-la um ditame divino.

 

Não blasfemes, pois Deus é do bem! Seu rival,

Satanás, esse sim, te empurrou para o mal

e te fez matador dos irmãos por dinheiro,

 

pelo qual deste a alma ao esperto embusteiro

que planeja juntá-la (e manter isso eterno)

aos milhões e milhões de almas servas do inferno.

 

Kleber Lago

Cadeira nº 39

Patrono - Raul de Leoni

 

 

**ORAÇÃO DE ANJO**

 

Sofrendo, aos pés da cruz, um anjo em oração

suplica a Jesus Cristo, em voz doce e plangente:

— Cure a minha mamãe que está muito doente,

sem ela o meu viver não mais terá razão.

 

Nos olhos da menina havia uma torrente

que nascia da dor dentro do coração.

Ao vê-la muito triste, Ele, por compaixão,

chorou com ela um choro amargo e comovente.

 

Naquele instante, a mãe num quarto de hospital

não suportando a dor de causa estomacal

perdeu a vida sem um tempo para o adeus.

 

Dentro da igreja, após findar chorosa prece

o anjo passando mal, cai no altar e fenece

para viver feliz com sua mãe e... Deus.

 

Maurício Cavalheiro

Cadeira nº 19

Patrono - Machado de Assis

 

 

**ASAS DA LIBERDADE**

 

As flores não estão ornando mais as casas,

depois que a revoada azul das borboletas

tornou-se cinzas para alimentar as asas

de um “habeas corpus” posto em tantas vis gavetas...

 

Agora os seus jardins serão as covas rasas

das sinas mais cruéis, de todas as sarjetas,

do ocaso já sem cor nas velhas silhuetas

de um pavilhão sombrio imerso em suas brasas.

 

A Torre de Babel jamais teve harmonia

nas salas surreais por onde a cantoria

tentou calar a voz de um hino acolhedor

 

do canto mais divino enquanto a realeza

assina petições clamando a natureza:

retirem da gaiola o nosso beija-flor.

 

Adilson Costa

Cadeira nº 21

Patrono - Euclides da Cunha

 

 

**A DIFÍCIL ARTE DE FECHAR GAVETAS**

 

Nas gavetas estão os meus dias (felizes

e infelizes), a lua, um pouco de saudade,

resquícios de paixões, lembranças, ansiedade,

vestígios de mulher, amores sem raízes...

 

Nelas estão papéis, delírios e deslizes

de um homem descuidado e meio sem vontade,

retalhos de ilusão, sonhos pela metade,

pedaços de amargor formando cicatrizes...

 

Que faço se não sei fechar minhas gavetas?

Se navego o Universo em busca de planetas,

mas nada satisfaz e tudo é meio-tom?

 

Às vezes niilista ou cínico inconteste,

para mim tanto faz (sem opção que me reste)

eu viver ou morrer... nenhum dos dois é bom...

 

Pedro Melo

Cadeira nº 16

Patrono - Miguel Russowsky

 

 

**ESSÊNCIA DOS AMANTES**

 

- Quão ditosas feições revelas num sorriso!

Esse inciso candor que ao meu ser acalenta,

alimenta um desejo incontido, sem siso,

indeciso a viver em bonança ou tormenta.

 

Essa menta que exala em razão do teu riso,

é um aviso, um convite ao anseio, ao alento.

O momento de amar, de sonhar, ser conciso

e preciso no amor ou na dor, em lamento.

 

Esse atento prazer de te ver todo dia,

me alivia das vis intenções discrepantes

perante a solidão inútil e sombria.

 

A alegria de estar junto a ti são instantes:

Excitantes sessões de cessão sem fobia

da magia, a paixão, a essência dos amantes.

 

Paulino Lima

Cadeira n° 01

Patrono - Castro Alves

 

 

**A PRIMAVERA**

 

A primavera vem chegando esplendorosa,

a terra se prepara airosa p'ra abraçar

flores em abundância e com seu cetro a rosa

alaranjada, branca, azul, lilás... qual mar!

 

A cor carmim, em luz, rainha mais formosa

que exibe o seu lirismo e muito charme no ar,

aflorando a poesia em verso e a linda prosa,

Ó que tempo de paz, propício para amar!

 

As borboletas vêm bailando sobre as flores...

Sou fã, que perfeição! Que variadas cores!

O beija-flor reluz, sedento e apaixonado,

 

As flores sentem paz, com toda essa ternura,

os pássaros também no ser trazem candura

e o mundo vive em paz, em luz e perfumado!

 

Marlene Reis

Cadeira n° 26

Patrono - Manuel Du Bocage

 

 

**CONDUTA DE UM CAVALHEIRO**

 

Um humilde, modesto e exemplar cavalheiro

Respeitado por bons cortesãos da nobreza

E por membros da elite e da classe burguesa;

Com ressalva e exceção de um sujeito grosseiro...

 

O inimigo inicia a investida ao guerreiro

Co’a intenção de humilhá-lo aos varões da realeza,

Mas a esfinge do herói permanece-lhe ilesa

Ao ignorar as ações do agressor por inteiro.

 

Ofendido, o ofensor continua ofendendo...

Convidado e anfitrião, observando-o de lado;

Irritando o adversário, um algoz minuendo.

 

“Que indivíduo vulgar, atrevido e abusado!”

Comentou-se ao expulsá-lo. E, por isso, um adendo:

O exaltado será plenamente humilhado.

 

Bruno Fagundes Valine

Cadeira nº 38

Patrono - Gonçalves Dias

 

 

**A VIDA, O QUE É?**

 

Quem pode nos dizer o que é a nossa vida?

Um sopro divinal do grande Criador,

perene e magistral, misterioso amor,

que pulsa o coração, batida por batida?

 

A vida, o que é, o que é? Existência perdida

na dor, ao conjugar um verbo sofredor?

Uma canção, talvez, até o sol se pôr?

Incerta poesia... odiada e querida.

 

Semeiam por aí um mundo bem pior,

mas não podemos crer em tudo o que se diz,

a graça pontual é cada vez maior.

 

É erro desistir de ser um aprendiz,

a vida nos será, por certo, bem melhor

se a gente repetir: "eu quero ser feliz"!

 

Luciano Dídimo

Cadeira nº 2

Patrono - Horácio Dídimo

 

 

**PRINTEMPS**

"Where have all the flowers gone?

Long time passing."

Pete Seeger

 

Por que voltou a pobre e chata primavera

Com seu tempero hostil de mil rosas e espinhos?

Por que o abuso atroz de perfumes fofinhos

A azul serenidade aos poucos vocifera?

 

O mundo, que possui os seus próprios caminhos,

Não precisa de tal colorida pantera,

Nem do extremo calor, da excitação austera,

De florzinha em fedor, sentimentos daninhos!

 

Por que voou o nobre e refrescante inverno?

Se no meu coração persistem neves duras?

De que serve um buquê de doce enxofre externo?

 

As tardes da estação das pouquíssimas festas,

As noites glaciais de estrelas tão escuras

Eram bem mais irmãs, transparentes e honestas...

 

Rommel Werneck

Cadeira nº 29

Álvares de Azevedo

Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO
Enviado por Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO em 27/09/2023
Reeditado em 25/05/2024
Código do texto: T7895544
Classificação de conteúdo: seguro
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