Amor cego

Despenteado, camisa não orna com calça;

pouco importa sua aparência; o que realça.

O raminho de salsa colocado como adorno

não será notado no prato nem no entorno.

Das flores no vaso haverá o perfume suave;

das suas conversas, o registro da voz grave.

De suas mãos permanecerá somente o tato,

de todas as impressões, nenhuma será fato.

Seu abraço me fará saber o que lhe significo;

o pulsar do seu coração, seu ar, seu respirar:

nesses ocultos há a chave para saber se fico.

No que é visível, não me é permitido adentrar;

tornou-se secundário, irrelevante ao meu ego.

Seu abraço faz-me esquecer de que sou cego.