TRILHA DE SONETOS CXII- DIÁLOGO COM RÁDIO TAXI/IVETE SANGALO

🎵🎶EVA🎵🎶

(Humberto Tozzi)

Meu amor, olha só hoje o sol não apareceu

É o fim da aventura humana na Terra

Meu planeta adeus

Fugiremos nós dois na arca de Noé

Olha meu amor

O final da odisséia terrestre

Sou Adão e você será...

Minha pequena Eva (Eva)

O nosso amor na última astronave (Eva)

Além do infinito eu vou voar

Sozinho com você

E voando bem alto (Eva)

Me abraça pelo espaço de um instante (Eva)

Me cobre com teu corpo e me dá

A força pra viver

Pelo espaço de um instante

Afinal, não há nada mais

Que o céu azul pra gente voar

Sobre o Rio, Beirute ou Madagascar

Toda a terra reduzida a nada a nada mais

Minha vida é um flash (flash, flash, flash ...)

De controles, botões anti-atômicos

Olha bem meu amor

É o fim da odisséia terrestre

Sou Adão e você será...

Minha pequena Eva (Eva)

O nosso amor na última astronave (Eva)

Além do infinito eu vou voar

Sozinho com você

E voando bem alto (Eva)

Me abraça pelo espaço de um instante (Eva)

Me cobre com teu corpo e me dá

A força pra viver

Minha pequena Eva (Eva)

Oooh! Eva (Eva)

------------------- 🎵🎶 ------------------

O ÚLTIMO LIMIAR

O sexto limiar está por vir,

Depois de cinco, a custo, superados,

A Terra-mãe passou por maus bocados

A vida pondo em risco em seu devir.

A próxima extinção, ao se inferir,

Virá por causa e efeito detectados:

Humanos à ganância acorrentados

E astros que irão co'a Terra colidir.

A natureza está pedindo espaço

E o tempo justo de afrouxar o laço

Que a humanidade aperta em seu pescoço.

Para evitar tamanha insanidade,

Devemos crer na possibilidade

De desvendar o que há no fim do poço.

José Rodrigues Filho

NATURÊNCIA

A saga da existência nesta Terra,

De ciclo em ciclo, cria a bruma preta

Na esteira do destino no planeta

Que sofre, no ambiente, a grande guerra!

A mesma mão que planta, queima e enterra

O verdejante reino, a borboleta

E a dimensão, que some de veneta,

Constrói a sepultura sob a terra.

A nossa Mãe Terrena, na verdade,

Produz no solo a essência da bondade,

O sumo e as sombras frescas, eficazes,

Para a mantença da epopéia humana,

Num bom combate da conduta insana

Dos infelizes filhos kamikazes!

Ricardo Camacho

BRADO ECOLÓGICO

Transformações abruptas no ambiente,

Avisam pelas vibrações do clima

Que os erros vão de baixo para cima

Por meio de um desastre consciente.

Resíduos e queimadas, lentamente,

Vão na degradação que legitima

Toda a poluição que, até na rima,

Reflete os olhos de um leitor descrente.

A luz do dia, plúmbea, desespera

A face gigantesca da atmosfera,

Numa expansão do inferno vitalício,

Flagrados nas planícies e nos morros,

Fazendo dos humanos os cachorros

Perdidos neste mundial suplício!

Ricardo Camacho

COMO NO COMEÇO...

O sol anoiteceu, banindo o dia,

cobrindo, com seu manto negro, a Terra,

diante dos horrores de uma guerra

sanguinolenta, desvairada e fria.

A raça humana, em social fobia,

exprime a dor que o pobre peito encerra,

prevendo o fim precoce do homem que erra

e dá adeus aos sonhos e à alegria.

Quão triste, amor, o instante é incomum...

Atemos-nos, agora, os "dois em um"

buscando no infinito um recomeço,

ao sopro da fagulha que se eleva

do amor de Adão por sua amável Eva...

voltando ao Éden, como no começo!

Aila Brito

A FORÇA PRA VIVER

Perdido e cego em meio à densa treva,

sem luz a conduzir meus pobres passos,

só me restaram nós, dos belos laços...

a minha vida, aos poucos, me releva.

Os paraísos foram-se com Eva,

abrindo, em nós, crateras com espaços

que partem corações em estilhaços,

em rastro de poeira que se eleva.

Nossa jornada finda em tempo estrito,

os pântanos preciso transcender,

sou dono do meu próprio veredito.

Se um dia o sol não mais aparecer,

eu voarei em busca do infinito,

no amor está "a força pra viver"!

Luciano Dídimo

NOSSO REDUTO

Lá fora a tempestade nos maltrata?

Criamos para nós um tal reduto,

que transfigura a chuva em serenata,

em canto de louvor e de tributo.

A vida mostra a sua face ingrata?

Alveja-se tal cor hostil do luto,

pois não terá no mundo quem combata

o rastro desse amor — vital conduto!

Qual pérola contida numa concha,

supera-se o temor, ferida ou roncha…

Casal que tece unido o seu amor

constrói tão forte escudo contra o mal,

que chega quase ao sobrenatural,

com bênçãos infinitas do Senhor!

Elvira Drummond

RECICLAGEM

Espia fora amor, a terra destruída,

A guerra que produz riqueza, lucro e renda,

Os campos ancestrais que o rico toma, arrenda,

Sem nem pensar sequer o quanto vale a vida.

Espia fora amor, a flora esvanecida,

A mata derrubada e tudo posto à venda,

O pantanal que seca em meio a tal contenda

No ciclo tão voraz de cunho genocida.

Como sobreviver em meio a tal conflito,

E celebrar, do amor, o elaborado rito,

Enquanto tudo finda, até no chão que piso?

Não sei dizer de nós, além do amor profundo,

Deste desejo, enfim, de refundar o mundo

E ser a tua Eva em novo paraíso.

Edir Pina de Barros

NOVO ÉDEN

Além dos infinitos voaremos,

além das turvas nuvens há um sonho.

O céu azul, o páramo risonho,

é tudo que nos resta, o altar que temos

para adejar além do caos medonho.

Teu corpo junto ao meu e susteremos

um êxito por entre os ais extremos.

Teu corpo junto ao meu e eu sonho! Sonho

amar-te a bordo da última astronave,

e pelo breve espaço de um instante

colher em tua boca o mel suave

de algum desejo. E ao ver chegar o termo

desta odisseia humana e angustiante,

redecorar, de amor, um Éden ermo!

Geisa Alves

ECOS DE ADÃO E EVA

De tempo em tempo, o brado de emergência

Ecoa pela voz da ecologia,

Vibrando sobre um solo de alegria

Junto aos narcóticos da decadência.

Do fogo, só fumaça e, em consequência,

O alerta na canção, na poesia

E em todo um tom fatal de profecia,

Relembra ao mundo o risco da existência.

A Criação, informa na escritura,

Revela a dor na página futura,

Em nome do descaso e da arrogância...

Registra que o presente mais divino

Está na natureza e o seu destino

Caminha, mais e mais, sem abundância.

Ricardo Camacho

AO PARAÍSO

Caminha, a humanidade, para o fim,

diante dos horrores de uma guerra

que em dado instante toda a vida encerra,

sem compaixão, do idoso ao curumim.

Quão triste é a vida que se perde assim!...

Amor, sigamos aos confins da Terra,

voando além do azul do céu, da serra...

nas asas divinais de um querubim.

Agarra a minha mão, me leva embora,

canta a canção de amor e sem demora

devolve a minha luz, o meu sorriso.

Bem longe, em liberdade, na amplidão,

voltemos ao princípio, feito Adão

e Eva, vivendo a paz do paraíso!

Aila Brito

ALGOZ DE SI MESMO

Atípicas mudanças dão ao clima

Brutais variações tempestuosas

Causadas por ações perniciosas

Da espécie que este mundo não estima.

O "sapiens", insano, pouco prima

Por soluções estáveis, não dolosas,

Agride às condições harmoniosas,

Pois do suicida muito se aproxima.

Não tendo quem nos salve de nós mesmos...

O fim da raça humana se efetiva

Originando o excesso de tenesmos.

Espero haver-me antecipado à treva

E antes que a morte cumpra a perspectiva,

Deste planeta devo tirar Eva.

José Rodrigues Filho.

ALÉM DA MORTE

Feroz, o tempo chega e nos assusta,

dispersa o medo, louco de apetite,

mas não consegue ter a sanha injusta

completamente farta, embora grite.

Ao fim das horas débeis, quem degusta

o mel da afinidade não permite

qualquer abalo, visto que é robusta

a inspiração provada, sem limite.

Depois da escuridão, a convergência

de duas almas rumo à eternidade

supera, de ruínas, toda sorte.

Assim, à inevitável decadência

jamais consentiremos que degrade

o nosso amor, promessa além da morte.

Jerson Brito