SONETO À FOLHA
Os olhos de antes não são os que trago
Porque o brilho sumiu como uma folha
Raptada pelo vento sem embargo
E sem direito algum a ter escolha
Presa num percurso frio e amargo
Que a força viver triste na encolha
Até quem sabe um dia alcançar um lago
Às margens de um jardim que a ela acolha
Mas é com correnteza turva e brava
Que se forja o caráter de quem luta
Rio não é de temer vulcão nem lava
Porque até a folha mais filha da puta
Por mais que menospreze a quem amava
Sabe quão doce é o néctar da fruta