ESTRANHINHO
CAPÍTULO I – SOZINHO NA PRAIA
Estava voltando de uma festa bem de madrugada.
Vejo um garoto sentado bem próximo ao mar.
Paro o carro. Saio dele. Vou até a criança isolada.
Que faz sozinho aqui na praia, Menino? Pode falar?!
Não é nada normal ver uma criança sozinha na praia.
Ainda mais num período em que o dia quase amanhece.
Ela simplesmente ignora minha pergunta. Que paia!
Olha para mim e aponta o mar. Isso me estremece.
E me diz claro e secamente: - nós ainda estamos lá.
Não, menino! Nós não estamos mar. Abaixe o dedo!
Estamos na areia. Você diz uma verdade que não há!
Quem são seus pais? Quantos anos tem? Onde mora?
O que faz sozinho na praia? Você não está com medo?
Novamente não obtive resposta. O que vou fazer agora?
CAPÍTULO II – VOCÊ VAI PARA MINHA CASA
Outra vez tentei puxar a língua do infante. Trabalho em vão.
Reiteradamente ele aponta para o mar e bisa sua frase anterior.
Você quer ficar com a mentira, pirralho. Isso não é bom não.
Vou levá-lo para minha casa e comporta-se bem, por favor.
Assim como eu, você deve estar cansado, com fome, com sono,
Com vontade de tomar banho e ficar quietinho no seu canto.
Chegando em casa, vamos comer algo e cama. Por agora abono
O banho e a conversa entre nós; mas lembra-se, só por enquanto.
Quem sabe descansado, de bucho cheio, num lugar claro e seguro,
Você abra o bico, conta-me tudo para eu devolvê-lo à sua família.
Não tenho roupa infantil em casa, mas arrumo outras, eu lhe juro.
No prédio em que moro existem muitas crianças de sua idade.
Algum pai ou mãe me arranjarão suas vestes. Aí, que maravilha!
Você me diz tudo, devolvo-o aos seus pais pra nossa felicidade.
CAPÍTULO III – A CRIANÇA SUMIU
Acordo ao meio dia. Está tudo sem ruído. O silêncio me tortura.
Se não há bagunça, era pra ter no mínimo barulho de algo ligado:
Uma televisão, um vídeo gamem... mas está tudo calmo. Paz pura.
Vou ao quarto de visita na expectativa de ver o moleque acordado.
Levo enorme susto. O órfão não está no quarto. Que canseira!
Há mais uma coisa estranha. A cama está do jeito que deixei.
Arrumada, com travesseiro e cobertor dobrado perto da cabeceira.
Parece que ninguém deitou nela. Cadê o pentelho que encontrei?
Vou para sala e nada. Vou para área de serviço e cozinha e nada.
Estou encrencado! Fui fazer o bem e acabei me dando super mal.
Como ele saiu se tudo ficou fechado e a porta da sala trancada.?
Talvez o garoto esteja ainda no prédio. Vou falar com o porteiro.
Depois verei como o guri saiu do meu apê sem abrir nada afinal.
Tomara que a portaria me dê do menor abandonado o paradeiro.
CAPÍTULO IV – NÃO HAVIA NENHUMA CRIANÇA ESTRANHA NO PRÉDIO
Contei ao porteiro o que ocorreu comigo e da criança que sumiu.
Falei também da possibilidade do menor estar ainda no edifício.
Não há nenhuma criança estranha no prédio. Lamento isso, viu!
Trouxe para cá uma criança ontem à noite. É fato! Que suplício!
Parece que estou mentindo! Tem como provar que falo a verdade.
Basta consultar as câmeras do prédio no momento que cheguei.
Aí sim, você verá, porteiro, que o que digo é a mais pura realidade.
Sugestão acatada. O que vi na filmagem das câmaras não acreditei.
Elas mostraram que na madrugada de ontem entrei no prédio só!
Olho várias vezes, céptico. Rapaz, você deve ter todas entornado.
E teve delírio alcoólico. Não deixe que isso na sua mente dê o nó.
Deixo o porteiro falando sozinho e vou rapidamente para a praia.
“O criminoso volta sempre ao local do crime”. É um aprendizado
Que me fora passado pelos filmes policiais. Oxalá não me traia.
CAPÍTULO V – O MENOR APARECEU NO SONHO
Percorro a praia toda, interrogo os banhistas, nada. Ninguém o viu.
O guri sumiu. Não creio em fantasma, tampouco que estou biruta.
Não estava tonto quando o achei, pois a consciência me advertiu.
No volante na ida e na volta! Caso beba, o álcool será a sua cicuta.
Passei o dia todo pensando no acontecido e no misterioso petiz.
O que ele quis dizer: “ainda estamos lá”, apontando para o mar?
O pior é que não vi nada no local apontado pelo enigmático infeliz.
Minha cabeça está pegando fogo e sem resposta alguma para dar.
A noite chega. Como não tem criança para olhar, tranquila ela está.
Durmo. Sonho que estou imerso de água numa região bem funda.
Do nada ouço a conhecida voz infantil dizer: nós ainda estamos lá.
Olho a direção da voz. Fico arrepiado. É o guri que levei pro prédio.
Vem se aproximando de mim e um pavor a minha alma circunda.
Antes que me tocasse, acordei em altos berros e repleto de tédio.
CAPÍTULO VI – OUTRA VEZ SÓ A ÚNICA FRASE
Eu já disse o ditado popular e creio que terei que atualizá-lo.
O criminoso volta ao local do crime e no horário dele ocorrido.
Não encontrei o guri, pois fui à praia pela manhã. Para achá-lo
Mesmo, terei que ir à noite. É um pressentimento adquirido.
Já disse: não creio em fantasma; mas um provérbio vem à mente.
“Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay” . é a seguinte
a tradução: não creio em bruxas, mas elas existem. Realmente,
O místico será real para mim se achar o guri hoje à noite e acinte
Ao meu ceticismo. Até a intuição me parecerá uma lógica resoluta.
Já é madrugada. Vou à praia. O meu palpite fora muito assertivo.
A criança obscura está perto do mar. O silêncio de ambos desfruta.
A minha voz quebra a mudez do local. Ô Menino, me responda:
Quem é você? Quem são seus pais? Desembucha! Seja interativo!
Nós ainda estamos lá! Já sei, você só diz isso. Que frase hedionda!
CAPÍTULO VII – DESAPARECEU NA MINHA FRENTE
Fala-me onde você mora? O que quer comigo? Saia da mudez!
Quero ajudá-lo, só a repetida frase em nada nos ajuda, garanto!
Como aquela criança nada falava, o rapaz agarrou-a, com rispidez,
Sojigo-a ene vezes. Com a violência, ela some, como por encanto.
O rapaz fica boquiaberto. Olhos esbugalhados. Não é pesadelo!
O garoto é um fantasma. O mundo espiritual é uma realidade.
Contra fatos não há argumentos. Fui do São Tomé foi o modelo.
Como ajudar uma alma arisco que não diz qual foi a sua fatalidade?
Onde terei resposta para tal dilema? Essa alma fará outra aparição?
Volto para casa com incertezas, além de estar bastante assustado.
O único dado insuficiente que tenho que é a frase da assombração.
Para nossa gramática normativa, nós é a primeira pessoa do plural.
É eu mais ele, ou eu mais eles. Eu aqui é o próprio ser assombrado.
E ele ou eles quem será? Não há nenhuma pista. Ó dúvida mortal!
CAPÍTULO VIII– REFLETINDO SOBRE AS PISTAS
Para resolver o caso tenho um fantasminha com frase enigmática.
As pistas pra resolver o problema que veio até a mim são abstratas.
Vou materializá-las. Assim sairei dessa situação chata e traumática.
Para concretizá-las creio que encontrei duas soluções muito exatas.
Tenho um amigo que trabalha em feiras artesanais com desenho.
Desenha as pessoas e turistas que lá aparecem. Cobra pelo serviço.
Sua arte é tão boa que todos ficam felizes com seu desempenho.
Mandam até emoldurar o desenho feito. Eu considero incrível isso!
Popularizarei imagem desse garoto espectro e saberei quem ele é.
Quando apareceu na praia ele apontou o mar. Pode ser a indicação
De algum lugar em que lhe acontecera algo. Será vítima da maré?
Talvez indo ao mar, no lugar indicado, ache uma pista importante!
Para se chegar nesse lugar exato qual será a correta embarcação?
Barco, navio, lancha? Espero ser lancha, pois sei pilotar bastante.
CAPÍTULO IX– O DESENHISTA
Estamos no fim do mundo! Um ateu acreditando em alma penada!
Mais grave ainda, eu desenhar um fantasma! Alguém me acuda!
Meu amigo, chega! Já me zoou demais. porém afirmo: não é piada.
Agora entende o porquê de não ter ido à delegacia e pedir ajuda.
Na polícia tem gente que uma das funções é fazer retrato falado.
É o papiloscopista. Se fosse lá, tenho a certeza que não seria ouvido.
Você, meu amigo de infância, está me considerando desiquilibrado,
Pense o que os policiais acharão de mim? Isso se eu não for detido!
Está certo! Que a doidice fique entre nós e que ela não se evolua.
Vamos lá, descreva-me o Pluft ou o Gasparzinho que só você viu.
Seja minucioso, detalhista para que a arte à realidade se constitua.
Nossa! Até parece que o fantasma está bem aqui, bem à sua frente.
De tão perfeccionismo há presente na descrição dele. Você definiu
o que aconteceu. Com o trabalho concluído, ele sumiu novamente.
CAPÍTULO X - COMPARANDO O DESENHO COM UMA FOTO
Sua loucura deve ser contagiosa, pois direi alguma coisa sem nexo.
Depois de pronto e observando, o desenho me faz lembrar alguém.
Que bom, meu amigo, assim o problema não será tão complexo.
Alguma foto sua quando criança, por acaso aqui na sua casa tem?
Não tenho uma fotografia e sim um álbum fotográfico completo.
Legal! Traga-me para tirar uma cisma que lotou a minha cabeça.
Olhando com atenção o álbum, o amigo pega uma foto e discreto
Junto com o desenho entrega para o anfitrião. Você me esclareça:
Opondo sua foto infantil com desenho falado, o que você me diz?
A guri do desenho parece muito comigo. O desenho está correto.
Do jeitinho que lhe falei. Avistou nas entrelinhas da questão o xis?!
O fantasminha que está aparecendo a você pode ter sido seu filho.
Não complica ainda mais a minha situação, amigo. Essa ideia veto,
Nenhuma ex-namorada eu engravidei. A vida paterna não trilho.
CAPÍTULO XI - DESEJO DE SER PAI
Insisto: nenhuma ex-namorada me disse que engravidou de mim.
e nem entrou na justiça me pedindo para pagar pensão alimentícia.
Olha, nada me tira da cabeça que esse fantasma seria seu filho sim.
Meu amigo, se sou pai do assombração, você é a mãe, Que delícia!
Não sou mulher e sim homem, logo a chance de ser mãe é zero.
Igual a minha de ser pai. Namorei muito e não ficou só no beijinho,
todavia nenhuma mulher ficou grávida comigo. Um dia eu quero
Ser pai. A mãe que desejaria ao meu filho já cruzou meu caminho,
Infelizmente me largou. Pegou-me em flagrante com uma moça.
A mãe que queria para meu filho deu-me uma tapa na minha face,
Disse que iria dar uma boa notícia e que joguei sua paixão na fossa.
Acabou o namoro, não me deu a boa notícia, nem me disse adeus.
A minha amante se vestiu e com ar superior e me disse com classe:
Minha irmã que você traiu está vingada. Junte agora os cacos seus.
CAPÍTULO XII - A UTILIDADE DO DESENHO
Bem feito! O caso com sua namorada preferida aconteceu quando?
Já entendi sua maldade. Você quer me convencer com essa história
da minha vida de que o fantasminha seja meu filho. Vá esperando...
vamos mudar de assunto e acabar de vez com essa sua fala ilusória.
Tudo bem, irritadinho! Que você vai fazer com desenho que lhe fiz?
Eu vou postar na internet. Instagram, Facebook, You Tube, TikTok...
Alguém do laço afetivo do guri, quando ele era vivo, ficará infeliz
Com o desenho postado por um desconhecido. Ainda em choque,
Pedir-me-ão para tirar a postagem, pingar-me-ão, quererão saber
Porque eu estou agindo assim e se eu insistir, levar-me-ão à justiça.
Pelo menos conversarei com algum conhecido dele se isso ocorrer.
Quem sabe unindo nossas forças podemos acudir o fantasminha?!
Boa ideia. Com o fantasma em paz, mandemos rezar uma missa...
Ah, desculpa-me! Esqueci que é ateu. Não sou mais coleguinha....
CAPÍTULO XII - PESQUISANDO NA INTERNET SOBRE ACIDENTES MARÍTIMOS
Já postou o desenho do fantasminha na internet? Sim, por quê?
Pesquise se houve algum acidente marítimo na cidade da gente.
Amigo, tem sim. Venha cá, é muita coisa. Nós, leremos eu e você.
Tem vídeo? imagem do local e reportagem virão simultaneamente.
Hum! Tem sim! Inclusive é um vídeo reportagem da emissora local.
Fala sobre uma lancha que foi destruída pela explosão do motor,
Pilotada por um homem. Tinha passageiro: uma criança. O anormal
no ocorrido é que os corpos não foram achados. Não é indagador?
Sabendo quem é a mãe da criança, o rapaz olha abalado ao amigo.
Não vai me dizer que é a que você queria para mãe de seus filhos?!
É linda!! E você a perdeu por traí-la! Retardado, isso é que lhe digo.
Se soubesse do interior dela, subiria o nível do meu retardamento.
sei e me doeu tal vacilo. A pauta aqui é outra. Voltemos aos trilhos.
O caso foi há uma semana sem nada das vítimas até o momento.
CAPÍTULO XIII - IDENTIDADE DO FANTASMINHA
Pela segunda vez, ao assistir o vídeo., o rapaz fica bem aterrorizado.
É ele! É ele! Veja a foto no vídeo! O guri da lancha é o fantasminha!
O amigo presta a atenção. É mesmo! É a criança por mim traçado.
Bom! Já sabemos a origem do fantasma. O que mais aqui se alinha?
O piloto da bela lancha não é o pai do garoto e sim seu padrasto.
A lancha é nova. Comprou-a recentemente. Ele a estava estreando.
O enteado recebe o convite e o aceita para passear pelo mar vasto.
Não há explicação pela qual o motor da lancha acabou estourando.
Os corpos da criança e do padrasto não foram achados, portanto
Não podemos afirmar com certeza que eles estão mortos. Errado.
se alma que surge é só da criança, ela é usuária do campo santo.
O sobrevivente é o padrasto, até onde sei não virou assombração.
Será que o piloto da lancha não está assombrando em outro lado?
Vamos à praia. Talvez lá há uma pista onde o espírito fez indicação.
CAPÍTULO XIV - NO LOCAL DO ACIDENTE
Antes de irmos à praia, vou pedir o vizinho o drone emprestado.
O drone tem câmeras e assim a gente tira foto do local e/ou região.
Depois, em casa, voltaremos ao vídeo reportagem. Será comparado
As imagens dele com as nossas. Aí, chegaremos a uma conclusão.
Na praia, imitei o fantasma. Fui ao local que ele ficou precisamente.
Imitei-o. Fiquei com o dedo apontando ao local X indicado por ele.
Só não disse a frase: “Nós estamos lá. ” mas ela me veio a mente.
A minha razão deu a seguinte ordem por mim obedecida: cancele.
Local apontado pela alma do local onde achou a carcaça da lancha,
Não batem. Onde estará o erro? Refaço todos os passos que dei.
Fiz tudo certo, mas o erro perdura. Minha mente quase desmancha.
Voltamos para casa. Revejo a reportagem e ela em nada nos ajuda.
A erro na posição vigora. Onde encontrar a resposta certa, não sei.
Eu vou embora. Espero tê-lo ajudado nessa sua história cabeluda.
CAPÍTULO XV - RETORNANDO À PRAIA NA MADRUGADA
Naquela noite o rapaz não dormiu. Para eu dormir só há um jeito...
O rapaz volta à praia só. Chama pelo menino fantasma sem parar.
A alma infantil não surge. Gostaria de lhe ajudar, mas o seu defeito
É não colaborar comigo. Caso continue assim, os braços vou cruzar.
Palavras e ameaças ficam no vento. O fantasma continuou ausente.
Imito de novo o fantasminha e ouço nitidamente: nós estamos lá.
Juntamente com o dedo em riste, vejo no horizonte algo diferente
Uma estrela que jamais vi ou não reparei em sua existência. Oxalá
Que esta estrela sirva de boa pista para me ajudar o caso resolver.
Com o ouvido pra ouvir um não, vou inquirindo os frequentadores.
Vêm à praia só nas madrugadas? Conseguem aquela estrela ver?
Gostamos de vir aqui na madrugada. Tem tão pouquíssima gente.
que parece deserta, mas se acha uns gatos pingados de nadadores,
Ou topamos com raríssimos casais em situação para lá de caliente.
CAPÍTULO XVI - COINCIDÊNCIA?!
A grande estrela apareceu no céu agora. É muito linda e formosa.
Essa é a segunda vez que ela aparece. A primeira foi sete dias atrás.
Hoje está ainda muito brilhante. Registrarei essa coisa maravilhosa.
Tirar foto dela com meu celular. Boa ideia! Farei o mesmo, rapaz.
O acidente da lancha foi uma semana atrás. É acaso? Não ou sim?
Por que só hoje ela retornou? Não vi o fantasma, mas ouvi sua voz.
Isso significa que ele estava lá. Por que não apareceu para mim?
Ao apontar pro lugar indicado pelo fantasma, a estrela surge veloz.
Diacho! Quanto mais penso que estou perto de solucionar o caso,
Mais complicado ele vai me parecendo. Mais um enigma, a estrela.
Em casa, vou preparar um leite morno para dormir. Já com atraso.
Está amanhecendo. Tomo o leite, atiro-me nos braços do Morfeu.
Acordo só à tarde. A história do fantasminha queria esquecê-la.
Não tem jeito. A saída é resolver o que o fantasma não resolveu.
CAPÍTULO XVII - ENTRANDO EM CONTATO COM A EX-NAMORADA
Abro todas as minhas páginas na internet. Fui muito achincalhado.
Além do mais ganhei pesado títulos de monstros, de filho do cão...
Recebo adjetivos ruins: cruel, desumano, insensível, desalmado...
Quem fora o (a) remetente? Aquela que foi um dia minha paixão.
Já afirmei que essa mulher é mãe da criança da lancha acidentada.
Diante dos meios de comunicações digitais dela eu não me exito.
Peço –lhe um encontro pra expor tudo e deixá-la bem informada.
Caso ela aceite, verá que eu sou o mesmo e não um ser maldito.
Além de falar do filho fantasma, eu ainda a devo uma explicação.
Afinal de contas me pegou na cama com uma sirigaita qualquer.
Se ela aceitar meu pedido de desculpa, tranquilizo o meu coração.
Como a queria para ser mãe dos meus filhos, imagino o sofrimento
Pelo qual está passando. Ainda tem que com a exposição conviver
Do retrato falado do desaparecido filho sem seu consentimento.
CAPÍTULO XVIII - A MÃE DO FANTASMINHA
Não sabia que você tinha virado um genuíno monstro! Vingança?
Não aceitou a forma de como eu terminei o nosso longo namoro?
Estava bastante feliz. Iria realizar seu sonho de ser pai. Uma criança
(nosso filho) trazia no ventre. Quando fui lhe contar, que desaforo!
Você na cama com a irmã de sua ex-namorada. Seu ordinário!
Na hora decidi não lhe dizer nada. Seria, como se diz, mãe solo.
Não queria que o meu filho seguisse o seu exemplo de salafrário.
Quero que o meu filho se torne um homem que não cause dolo
A nenhuma mulher, ou melhor, a qualquer ser humano, ouviu?
Um ano depois de seu nascimento, conheci um homem decente.
Casei-me com ele. Sentia apenas afeição. Esse homem me garantiu
Que com o tempo iria me apaixonar por ele. Bastava pagar pra ver.
Afiançou-me que amaria meu filho como pai biológico. Realmente,
Assim o fez. Pena que não dei a ele meu amor que queria tanto ter.
CAPÍTULO XIX - PROBLEMA DE CONVIVÊNCIA
Por que casei com alguém que não amava? Eis meus argumentos.
Meu filho não adaptou a creche nenhuma, quer pública ou privada.
Na creche era apático. Não alimentava, não interagia. Sentimentos
Ficavam retidos dentro dele. Ao buscá-lo, eu ficava desesperada.
O leite materno que tirei do peito e o pus na mamadeira, intacto.
Roupas e fraldas se por acaso ele sujasse, limpas completamente.
Funcionárias da creche se acanhavam comigo pelo sofrível impacto
Causado pela presença do meu neném lá na creche. É deprimente!
Elas faziam de tudo com muito amor, cuidado, paciência e atenção.
Mas nada! O meu bebê parecia ter problema sério de convivência.
Fora da creche ele voltava ao normal para alegria do meu coração.
Mamava todo leite da mamadeira e se deixasse pegaria até o peito.
Ria ao lhe fazer careta e me olhava fixo com seu olhar de inocência.
A morte levará de mim meu nenê se ele ficar nas creches pelo jeito.
CAPÍTULO XX - EDUCAÇÃO MATERNA
Pra que eu continuasse a trabalhar, o menino ficou com meus pais.
Nos primeiros dias tudo legal, depois ficou pra eles muito penoso.
Não falaram nada comigo, mas era nítido vê-los cansados demais.
Abandonei o emprego. Fui cuidar do filho, meu bem mais precioso.
Meus pais passaram a custear os gastos comigo e com os do neto.
As pensões deles davam para assumirem mais esse compromisso.
Chamava crianças vizinhas, primos, sobrinhos, pra brincarem direto.
Assim fazia com que o meu filho se socializasse rápido. Além disso,
Aguçava-o comer só, ou seja, com as próprias mãos e sem rodeio.
Ensinei-o pedir comida, se tivesse fome e água sede. Aceitar o não,
Amar o sim. Não responder os mais velhos e nem falar nome feio.
Sabe pedir perdão, se fizer algo errado e solícito a quem precisar.
No campo religioso, o meu filho sabe pedir a Deus sua proteção.
Também a Maria e ao anjo da guarda dele. Meu filho sabe rezar.
CAPÍTULO XXI - O PADRASTO
Com o meu filho adaptado ao mundo dentro da faixa etária dele,
Pude voltar a trabalhar e uma amiga do meu rebento foi ser babá.
Ela e os meus pais cuidavam do meu filho na minha ausência. Ele
Crescendo mais seguro e confiante e assim feliz meu garoto será.
Conheci meu marido numa das festas de aniversário do meu guri.
Era amigo de um primo meu. Percebi logo interesse dele por mim.
Alegre, educado, trabalhador, fala muito bem pelo que eu percebi.
Bom pretendente. Ajudar-me-ia, talvez, educar o meu filho, enfim.
Falei para ele que não conseguia esquecer o meu ex-amor vacilão.
Agradeceu a sinceridade, disse-me que fará de tudo pra eu amá-lo.
Com o tempo o pai da criança não estará no meu dolorido coração.
Seu amor paternal era tão grande quanto o de um pai de verdade.
Meu filho o tinha como tal. Nunca falou mal dele. Fiz bem aceitá-lo.
Faltava só apaixonar pelo meu marido para viver a plena felicidade.
CAPÍTULO XXII - AMEAÇA
Ao me ver irada com meu filho, não interferia, nem tomava partido.
Se eu abusasse na bronca, a sós, me alertava; com respeito e amor.
Captou por que pra meu filho, meu cônjuge é um pai tão querido?!
Jamais me exigiu ter o seu próprio filho. Devo-lhe mais esse favor.
Cinco anos casada. Meu filho com sete anos. Tinha Vida tranquila.
Até acontecer o que já sabe. Perdi marido e o filho numa tragédia.
Se meu sofrimento só não bastasse, vem você e no meu ser destila
Falta de empatia, de respeito, fazendo do meu caso uma comédia.
Onde se viu fazer um desenho do meu filho e na internet postar...
O que ganha com a minha dor? Expondo meu filho, o que ganha?!
Exijo, não peço, que retire o retrato falado agora, sem pestanejar!
Não aceito mais desculpas esfarrapadas, ou coisa semelhante.
Se não tirar o desenho denuncio-o à polícia. Não há barganha.
Vou embora! Não me dirija uma palavra sequer, seu meliante!
CAPÍTULO XXIII - PEDIDO DE PERDÃO
Se ficar e me ouvir com muita atenção, tiro o desenho da internet.
Porém, se você for embora, o retrato falado só sairá no uso da lei
Não estou barganhando. Dou-lhe minha palavra. O sim não objete.
Tá bom, farei esse esforço. Minta e não me respondo pelo que farei.
Você me falou o motivo da sua omissão. contudo eu deveria saber.
Então não diga mais "meu filho". Tire o pronome seu e põe nosso.
Não a ajudei na criação do nosso filho. Só agora dele venho saber.
Armaram uma cilada ao nosso amor e eu cai. Agi errado, endosso.
Não ouso pedir o retornar o nosso namoro, mas sim o seu perdão.
Quando namorar novamente, não cometerei mais esse erro grave.
Para falar sobre ou de nós é tarde demais. Quero ouvir mais não.
Quero falar sobre meu filho. Vou lhe perguntar e me responda já.
Como soube sobre o meu filho? Desse segredo, qual é a chave?
Quem lhe fez o retrato falado do meu filho? Mais alguma coisa há?
CAPÍTULO XXIV - “DE TUDO EXISTE UM COMEÇO”
Fique atenta ao que direi e silêncio. Contarei tudo desde o começo.
O dia já quase amanhecendo e eu vindo de carro de uma balada.
Passando pela orla, vejo na praia uma criança que eu nem conheço
Na praia, próxima ao mar. Decidi ajudá-la pois estava abandonada.
Eu aproximei dele. Ao me ver ao lado seu disse a frase enigmática:
Nós estamos lá e apontava o indicador para um lugar do horizonte.
Olhei bem e não vi nada. Pra tirá-lo daquela situação problemática,
Levei-o para casa. Puxo a língua dele pra ter informações de monte.
O gato comera a língua do garoto. Ficou completamente mudo.
Arrumei-lhe o quarto para dormir, após o lanche. Fiz tudo direito.
Ia dormir numa cama limpinha, com um cobertor muito felpudo.
Acordei já tarde e fui olhar como o moleque estava. Baita Susto!
O quarto estava intocável. A criança não estava lá. Na hora suspeito
De que estaria em outro cômodo do apartamento. Eu me assusto.
CAPÍTULO XXV - EX - ATEU
Assustei-me que não havia criança em casa. Estava tudo trancado.
Como o menino mudo conseguiu sair ? Quem e por que o ajudou?
Recorro-me às câmeras externas e internas. Nada tem registrado.
Pelas câmaras, entrei só, sem criança. O meu relato, mentira virou.
Volto a praia em busca do fujão, mas não o acho. Outro fracasso.
Lembro que não achei o guri na praia de dia e sim de madrugada.
Com teoria certa, encontro o distinto e vou para queda de braço.
Interrogo-lhe em tom ríspido e sojigando –o. Ele some do nada.
Não estou alucinado. O garoto desaparece bem nas minhas vistas
Meu ateísmo foi pro saco, porque eu estava diante do sobrenatural,
Vendo-o e o vivenciando. Diante disso, adeus ideias materialistas.
Já que o espírito está aparecendo para mim, o que quer de mim?
Ajuda? Assombrar-me (com que objetivo)? Dar-me a prova cabal
De que há vida após a morte existe e que morrer não é o fim?
CAPÍTULO XXVI - ÊXITO
Com poucas provas e abstratas fui atrás das robustas e concretas.
Chamei um amigo desde de infância que é um ótimo desenhista.
Mesmo descrente fez o retrato do fantasma e me deu umas diretas.
Pediu –me uma foto de infância. Ótimo observador e detalhista
Afirmou categoricamente que o fantasma podia ser o meu filho.
Desmenti-o com ardor, pois não sabia de nenhuma ex-namorada
Grávida de mim dizendo que criar um rebento solo é empecilho.
Só hoje, neste belo parque, que essa tal verdade me foi revelada.
Na hora de fazer o desenho, o menino apareceu para mim de novo.
Com a intenção de não deixar para trás nenhum detalhe físico dele.
Com retrato pronto o fantasma sumiu. Entendi tal ato como: aprovo.
O desenho na internet foi para entrar em contato algum conhecido
Do fantasma que possa me passar preciosas informações sobre ele.
Meu plano deu muito certo, mais até do que eu havia pretendido.
CAPÍTULO XXVI – LÁGRIMAS MATERNAS
Para encerrar tudo sobre o menino, a última vez que fui à praia,
De madrugada, é claro, não o vi. Já que não apareceu, fui imitá-lo.
Aponto o dedo pro horizonte como ele fazia. Surgiu algo que atraia
Qualquer um pela beleza. Uma estrela. Elevou assim num estalo.
Pelos relatos dos que perguntei era a segunda vez que apareceu.
A data que me deram da primeira vez casa com acidente da lancha.
Com meu indicador voltado pra estrela, outra coincidência ocorreu.
A frase única do menino, na voz dele, em meus ouvidos deslancha.
Ao deixar de apontar o dedo, a estrela simplesmente vai embora.
Alguém lá tirou a foto dela com celular e compartilhou comigo.
Quer vê-la? Eis aqui o meu celular. Ao ver a estrela, a mãe chora.
Meu filho deve estar lá. Será que está vivo? Morto? Ferido?
Será que está com fome? Com sede? Será que corre perigo?
Será que está sozinho? Ou ele estará lá com meu marido?
CAPÍTULO XXVII – TRISTE SINA
Chore mesmo! Chore à vontade! Isso vai muito lhe ajudar.
Olhe, eu vou ser bem sincero. Você está sendo bastante forte.
Não teria esse controle de jeito nenhum. Tivesse no seu lugar.
Estaria totalmente descontrolado, quiçá desejando até a morte.
Vou dar uma notícia que você vai gostar. Já deletei o retrato falado.
Uma preocupação há menos. Peço-lhe que Confie de fato em mim.
Eu Já ia lhe ajudar e agora sabendo do nosso filho desamparado....
Por que você não teve com nosso filho e o marido o mesmo fim?
Não estreei a lancha com eles, pois estava fazendo exames médicos
Eu não estou doente, muito pelo contrário. Eram exames de rotina.
Meu marido de tão ansioso se entregou aos Impulsos frenéticos.
Não quis fazer a estreia da lancha nova que comprara pra depois.
Convidou meu filho e ambos foram ao mar pra sofrer a triste sina.
Agora estou sozinha no mundo, sofrendo com a ausência dos dois.
CAPÍTULO XXVIII – CONJECTURAS
Mais pergunta sem resposta. Por que seu marido não me aparece?
Se comunico com o menino, posso me comunicar com seu marido.
Ele surgindo, contaria o ocorrido e no mundo de lá o que acontece.
Na frase obscura "nós" é o seu esposo e o nosso filho. Entendido?
Eles estão lá. O lugar certo é mostrado pela estrela surgida no céu.
Não sei se estão vivos ou mortos. Só saberemos indo aquele local.
Quando a lancha foi encontrada, o pessoal deixou a estrela ao léu.
Por isso só a lancha foi achada. Vamos seguir a estrela até o final.
Se o fantasma ou sei lá o que quer que seja quer que eu vá lá, vou.
E será nessa madrugada. Se você quer vir comigo, fique à vontade.
Tenho uma lancha para nos levar até o lugar que a estrela indicou.
Se você for comigo, prepare o espírito pro pior. Será para seu bem.
Se encontrarmos nosso filho e seu marido vivos, será só felicidade.
Após tudo resolvido, vamos pôr os nossos pingos nos is também.
CAPÍTULO XXIX – SEGUINDO A ESTRELA
Por que eu não adiei meus exames e não fui com a minha família?
Agora estaria lá com eles, na mesma condição dos meus queridos.
Controla-se. Nós faremos a estrela surgir e navegar na sua trilha.
Imito o fantasma. Ela surge linda. Nossos olhos ficam aturdidos.
Vamos à lancha e não tire os olhos da estrela. Ela é nosso destino.
Paro a lancha um pouco. Eis o local da tragédia. Há nada diferente.
Retomemos a rota. A estrela se mantém no céu com belo figurino.
Avistamos uma ilha. Ela é desconhecida por mim e muita gente.
Chegamos a ilha. Reforço conselho que dei à minha ex-namorada.
Não conheço a ilha. Tudo será novidade podendo ser boa ou ruim.
Nós continuaremos seguindo a estrela. Cuidado e visão redobrada.
Bom. Chegamos no lugar que a estrela indicou. Tem lá uma gruta.
Há vida dentro dela. Será bicho ou gente? Vozes saem de lá enfim.
É gente! Eu ouço voz de criança e a voz de adulto me deixa biruta.
CAPÍTULO XXX – ENCONTRAMOS A CRIANÇA
A voz do adulto é igualzinha à minha. Timbre, altura, entonação...
Ao ver a sua cria na entrada da gruta, a mãe sai do esconderijo
Em que estávamos e foi pegar o filho. Gritei pra não ir. Foi em vão.
Mal abraçou o filho, um sósia meu aparece. Dormem os dois, exijo.
No mesmo instante, a mãe e o filho caem num sono profundo.
Olha pro esconderijo onde eu estava e diz claramente meu nome.
Nunca senti algo parecido. Um enorme medo, maior que o mundo.
Venha até a mim. Tenho resposta a toda dúvida que o consome.
Venha, sem medo. Cá estou não em nome do mal, mas do senhor.
Seu filho precisa de você. Ele não morreu por minha intervenção.
O guri carecerá do seu amor. Ah! Sou o menino fantasma aliciador.
O padrasto do seu filho morreu devido aos enormes ferimentos
na explosão da lancha. Dos coletes salva-vidas ele lançou mão,
Jogou-se ao mar com o enteado; temendo mais cruéis momentos.
CAPÍTULO XXX I – MUITAS PRECES
Por envolver e proteger o menor, foi atingido por cruéis estilhaços.
Ferido gravemente, continuou a nadar para sair da zona de perigo;
atrás de solo firme. Dei-lhe um pouco do sopro de vida. Nos braços
Trazia uma criança, para quem orava com fé e buscava um abrigo.
Pedia o não falecimento daquele ser inocente, indefeso, vulnerável.
Se acaso o enteado morresse a culpa ao bom padrasto seria eterna.
Fruto de desespero, amor ao próximo, devoção e dor inconsolável,
A oração do padrasto chega ao Deus Altíssimo que se consterna.
Convocou-me pra ajudar o padrasto e manter bem ileso a criança.
Achamos a gruta. O tutor não queria morrer na frente do enteado.
Sendo de novo atendido, o último fio de vida é pra ir em confiança
Ao mar pra seguir o triste caminho no mundo dos mortos. Apesar
De saber que vai morrer, reza pro menino não ficar desamparado.
e diz ao pequenino que um ótimo amigo seu do garoto vai cuidar.
CAPÍTULO XXX II – A CAUSA DO ACIDENTE
o mar assim que toca a cintura, o padrasto na água se arremessa.
Mesmo que ande pela ilha toda, o corpo dele não será encontrado.
Se for necessário o enteado sair da região da gruta, não terá essa
De deparar com o cadáver do padrasto e não ficará tão assustado.
A lancha explodiu porque não foi ligado nela o botão do exaustor.
As vezes pode haver chacoalho quando a lancha é lavada ao mar.
Trepidação causa acúmulo de gases no compartimento do motor.
O exaustor ligado, faz com que o gás venha rapidamente dissipar.
Ligado motor, surgem fagulhas, que com os gases vão encontrar.
Também no compartimento do motor, havia combustível guardado.
As duas ações citadas ocasionaram as explosões da lancha no mar.
Era a primeira lancha do padrasto. Ele não tinha o conhecimento.
Em frenesi, só queria usufruir naquela hora do produto comprado.
Desconhecimento e êxtase jamais será um adequado casamento.
CAPÍTULO XXXIII – ADEUS DO ANJO
A criança está ilesa e segura agora sob os cuidados de seus pais.
O fiel padrasto teve sua oração atendida e pôde morrer em paz.
Como você já achou a ilha e a gruta, não preciso virar estrela mais.
Já que me viu, não ignorará doravante a vida espiritual, rapaz!
Diante do cumprimento da missão que Deus Altíssimo me confiou,
Não há motivo nenhum para eu continuar aqui no mundo material.
Terminando a fala, o meu sósia num encantamento se transfigurou.
Deixou de parecer comigo, ganhou asas e uma intensa luz celestial.
Deixarei uma flor. Indicará o local onde está o corpo do padrasto.
Voltando à cidade, faça a traslado do cadáver desse homem bom.
Ele deu a vida pelo próximo ao vivenciar um momento tão nefasto.
Mortal, cuide de sua família. Aceite Deus como seu amo e Senhor.
Conserte a sua vida. Ela terá um ótimo objetivo e um divino tom.
Sem mais pra dizer, o anjo some, deixando no ar um grande olor.
CAPÍTULO XXXIV – MÃE E FILHO ACORDAM
O sumiço do anjo, fazem a mãe e o filho saírem do mundo onírico.
Meu filho, que estranho! Quando o peguei para nós sairmos daqui,
Caímos em sono profundo inexplicavelmente aqui mesmo. Satírico!
Não aconteceu nada conosco. Por que?! Confesso que não entendi!
A mãe faz uma completa revista no filho. Sem nenhum arranhão.
Sem fome. Sem nenhum sinal de cansaço e sem nenhuma fobia.
Você está ótimo. Cadê o seu padrasto? Eu ainda o encontrei não!
Não está. Foi buscar ajuda. Mentiu! Ele Falou que não demoraria.
Deixou você aqui só? Não Pode! Mas ouvi vozes de adulto consigo!
Pode ficar tranquila, mamãe. Em nenhum momento fiquei sozinho.
O padrasto deixou um amigo dele para me proteger nesse abrigo.
Na lancha era só você e padrasto. Esse amigo como veio aparecer?
Eu não sei. Só sei que zelou por mim com muito amor e carinho.
Ele está aqui! quer conhecê-lo? Ah, meu Deus, que não pode ser!
CAPÍTULO XXXV – ESTAMOS VOLTANDO PARA CASA
Você não está confuso? Está apontando para o ex-namorado meu.
Aliás há um segredo que vou lhe revelar. Ele é seu pai de verdade.
Eu sei. Ao ficar comigo, ele contou para mim tudo que aconteceu.
A senhora o viu namorando com outra mulher. Isso não é legal.
Tudo bem, meu filho. Se você falou, então acredito, disse abobada.
Mãe, o padrasto está vivo! Foi ele quem os trouxe para cá, certo?
Cadê ele? A mãe abraça o seu filho também com a vista marejada.
Dói-me dizer a vocês! O padrasto já vive com o Papai do céu perto.
Vamos embora, pôr fim neste pesadelo em que fomos colocados.
Amanhã virei com os bombeiros pra resgatar o corpo do padrasto.
Como sabe que meu marido morreu e onde tá o corpo? Alarmados
Não fiquem, por favor. Sabe bem que não tenho culpa no cartório.
Amanhã conto tudo e lhes darei o tempo necessário para ser gasto.
A tríade volta à cidade visando um merecido descanso satisfatório.
CAPÍTULO XXXVI - SANTO ANJO DO SENHOR
Quero ir com você pra ajudar no traslado do corpo do meu marido.
É o que eu posso fazer por ele no momento, mas antes me conta.
O que se passou naquela ilha? Um sono profundo nos foi atingido.
Você, não sei o motivo, não dormiu. Por que? Não me deixe tonta!
O fantasma do nosso filho e a estrela são de fato um anjo celestial.
Seu marido vendo a morte, rezou pro enteado não ter mesmo fim.
Pediu que seu enteado não tivesse privação, ou um lugar infernal.
Seu esposo sentiu-se responsável por tudo que aconteceu de ruim.
Ao morrer, um anjo tomou a minha forma pra cuidar da nossa cria.
O poder do anjo fez você e o nosso filho adormecerem de repente.
Pro guri não o ver morrer, o padrasto voltou ao mar. Por ali morria.
O anjo marcou o local onde buscar o corpo. Sobre o nosso segredo
do nosso filho, o anjo expôs ao próprio. Ajudou no ofício da gente.
Por ter a minha forma humana, nossa cria do anjo não teve medo.
CAPÍTULO XXXVII – COMEÇAR DO ZERO
A última vez que nos vimos foi no enterro do seu bondoso marido.
Venho para interagir com nosso filho e fazer o meu papel de pai.
Temos que falar do menino e outro assunto que me deixa aturdido.
Entre nós e nosso rebento não porei empecilho. Outro assunto vai!
Fale! Se eu puder lhe ajudá-lo, pode ficar em paz que lhe ajudarei.
Lembra do pedido de perdão por traí-la? Gostaria que me desse.
Está perdoado. Para lhe ser sincera, há bom tempo. Só não lhe falei.
Joia! O meu caminho está livre. Livre pra quê? Que mistério é esse?
Quero ter seu amor de novo, contudo não forçarei a barra alguma.
Podemos começar do zero. Primeiro reataremos a nossa amizade.
Depois quem sabe podemos dar mais um passo e a gente assuma,
A volta do nosso namoro. Leviandade no amor está descartada.
Você percebendo que mudei e a amo, voltará ter aquela vontade
De casar comigo e constituiremos uma família feliz e abençoada.
CAPÍTULO XXXVIII – SEJAMOS UMA FAMÍLIA
Guardadas as devidas proporções, você comporta igual ao falecido.
Acredita que o futuro fará algo que o presente é incapaz de fazer.
De novo em jogo a felicidade do meu filho que anda tão abatido.
Em partes você está certa, mas há novidades que deva reconhecer.
Primeiro: sinto que você ainda me ama. Se negar, estará mentindo.
Segundo: o seu filho é meu filho e será amado pelo pai verdadeiro.
Terceiro: quando foi me falar da gravidez desejaria eu assumindo
bebê e formar comigo uma família onde o amor reina por inteiro.
Eu a amo, você me ama e temos um lindo filho que é a minha cara.
Dê-nos a chance de vivermos o sonho de tornarmos uma família.
Casemo-nos. A bíblia diz: “o que Deus uniu, o homem não separa”.
Você não diz nada! Entendendo então que sua resposta é negativa.
Ô dó! Com você e o nosso filho junto, a nossa vida seria maravilha.
Dê-me um tempo para eu refletir e lhe dar uma resposta definitiva.
CAPÍTULO XXXIX – CHÁ DE REVELAÇÃO
E o tempo, hein! o tempo dado ao tempo com o tempo se findou.
A mãe do guri casou-se com o pai de seu filho apostando no amor.
O pai do garoto segue fielmente o conselho que o anjo lhe passou.
Depois de dois anos casados, vem uma novidade que causará furor.
Há um bebê a caminho. O petiz terá a honra de irmão mais velho.
O papo familiar é: menino ou menina? O que você gostaria de ter?
A pesquisa oscila de acordo com o dia. O resultado tá bem parelho.
Se for menino ou menina, que nome o bebezinho deverá receber?
Duas perspectivas geraram boas discussões até o resolutivo dia D.
Todos parentes queridos aguardam com ansiedade o bendito dia.
Será nesse dia escolhido a revelação do nome e do sexo do bebê.
Com o chá de revelação ocorrendo, o nome do bebê foi proferido.
É menino! O bebê será um menino! De repente o barulho silencia.
O nome dado pelos pais pro bebê será o do ex-cônjuge falecido.
O FILHO DA POETISA