Desprendesse
Deixá-lo ir o pensamento, ligeiro,
Acompanhado da lembrança atroz,
Que parta junto, atada, também a voz,
Rumo ao desconhecido, ao estrangeiro.
Deixá-lo ir o barco, ao vento sorrateiro,
Sobre as ondas em um pano veloz,
Afastando tudo ao mais longe de nós,
Até que a noite surja por derradeiro.
Deixá-lo ir consigo, o sofrimento,
Além dos mares da ilusão, a esperança,
Restai aqui, deixai-o partir, o lamento.
Que nada reste aqui, nem mesmo a dor,
Mas que nunca se afasta da lembrança,
Deixá-lo aqui, comigo, somente o amor.