O Abismo
Maldito tempo que embranqueceu o seu cabelo,
Um sinal de despedida sem esperança,
Caindo a neve nas montanhas, e por zelo,
Faz sumir o negro, e o resto e só lembrança.
E o tempo uma mensagem escreve e entrega,
Singelo adeus e, à porta, alguém, sem pressa, espera,
Depois, um abismo onde a neve escorrega,
Limpa, pura, rumo à insólita cratera.
E logo o vil mensageiro sufoca a vida,
E, sem pensar, o tempo rápido é só ausência,
Morre também a lágrima da despedida.
E tudo que resta é um túmulo presente,
Onde, no inverno, cai a neve em reverência,
Na primavera, acenam flores suavemente.