A lâmpada e a chama
A alma clamou cansada ao corpo, um dia:
- “Por que me prendes, barro vil e escuro?
Quem te sustenta por lodoso muro,
Acalentando a noite que me espia?
Quem te mandou, algema da agonia,
Escravizar-me o sonho vivo e puro?
Quem te criou, cadeia de monturo,
Excitando-me a dor e a rebeldia?”
E o corpo respondeu, calmo e sublime:
- “Eu sou, na Terra a cruz que te redime,
Não me interpretes por sinistra grade...
Deus modelou-me lâmpada de lodo,
No qual és a chama do Divino Todo
Para fulgir além, na Eternidade...”