Distopia
O caos impera acima da Constituição
Em ilícitos desalinhos de vida opressa
Que desafia as leis feridas e incertas
Distorcidas pelo poder em contramão
Por todos os lados, soberba e ambição
A justa cegueira já não se manifesta
Diante das instáveis e falsas promessas
Fugidas de uma ética em dura abolição
Não há direito, nem deveres ou liberdade
Só existe o medo e a fruição sem pactos
No hostil reinado da impune inverdade
São acobertados os repugnantes fatos
Em uma injustiça de irresponsabilidade
Tão incapaz de conter desumanos atos
O soneto aborda um cenário fictício que propõe levar à reflexão acerca de uma realidade destituída de normas e de regulamentação, induzindo o leitor a compreender subjetivamente a importância do Direito para o bom funcionamento da sociedade. Trata-se, portanto, de um cenário distópico, que busca transmitir os obstáculos da vida humana frente à inexistência das estruturas jurídicas que garantam o bem-estar dos indivíduos e lhes assegure o acesso à justiça. Nos parâmetros de hoje, é impensável uma coletividade sem um ente que ordene as condutas e as relações. Portanto, o poema atenta para os desafios e a inconsistência de um mundo sem leis, de modo intencionalmente crítico e provocativo.
Poema publicado na edição comemorativa da revista do curso de Direito da UFSC, Revista Avant (v.7, n.1)