Harmonia
Tenho em mim matas impenetráveis,
Abismos de terror e campos de doçura,
Perdões e sentenças, doença e cura
Competem em jogos intermináveis.
Se mal faço a uma pobre criatura,
Durmo o sono calmo dos imperdoáveis.
O peito não condói-se diante lamentáveis
Súplicas direcionadas à face dura.
Mas quão belo e virtuoso é o perdão!
Mesmo contra o maior dos pecados
Sou capaz de esquecer a pior traição!
Esvai-se em mim rapidamente a ira...
Não há predominância de um dos lados,
Mas a eterna tensão entre o arco e a lira.
27/04/23