Horas mortas
Cantava a madrugada, em horas mortas,
A noite sob a luz da lua nova,
E a brisa, feito a fria e muda cova,
Vertia um ar disperso pelas portas.
De abismo se fazia o céu, de agouro,
Como a cidade, em treva, se fazia,
Enquanto aquela estranha cantoria
Toava em passo lento e duradouro.
Nas ruas e avenidas principais,
Nos bairros, nos subúrbios, nos canais,
Cantava, a madrugada, o som do Além.
Nas horas mortas, místicas, sagradas,
Uni meu coração nas entoadas,
E comunguei, orei, cantei também!