Pluviôse
(A Rogério Skylab)
“Après moi, le déluge.”
(LOUIS LE BIEN-AIMÉ)
Bem longe, no horizonte, vejo que perpassa
Uma negra nuvem – uma perturbação
Que, poluindo o céu com sua escuridão,
Em si carrega o augúrio de uma desgraça.
Envolta em seu túrgido manto, ameaça
Sobre mim, de sua própria escuridão,
Despir-se e despejar-se numa inundação
De sei lá eu quantos portentos de desgraça.
Eu bocejo de tédio. Sem me importar,
Sentado à beira do abismo, deixo chover;
Nada, nem ninguém, tira-me de meu lugar,
E eu cá só penso em como é doce me entreter
Sentindo a água sobre meus córneos pingar,
Vendo-a por entre meus cabelos escorrer…