COF COF POESIA
(Interação ao soneto TOSSE PRODUTIVA, do poeta
Herculano Alencar)
Cof, cof, cof, que abre o cofre da poesia.
E é desnecessário o expectorante,
Pois o poeta ao tossir assim, noite e dia,
Vai continuar firme, forte e operante.
Deixa cair joias de ourivesaria,
A cada vez que o peito, embora arfante,
Suga o ar por um instante e explode e chia,
E um verso espirra, coeso, forte e vibrante.
Se você acha que meu verso é esquisito,
Tem quem o ache normal e até bonito,
Pelo que tem de chocante e diferente.
Já ouvi dizer que poesia é como chita,
Cada um julga como vê por sua lente.
Uns acham ruim e feia, outros excelente.
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TOSSE PRODUTIVA
A poesia tosse no meu peito
Tal como um enfisema pulmonar.
E tosse, e tosse, e tosse sem parar,
Como se só de tosse eu fosse feito.
A tosse vem em ondas, feito o mar,
E some feito espumas na areia.
E leva e traz de volta a dor alheia,
E faz a dor tossir noutro lugar.
Hoje não tusso mais como tossia,
Mas ainda expectoro a poesia
Que vem, de vez em quando, duma vez...
A tosse do poeta, na verdade,
É um suspiro alegre da vontade
De por pra fora o verso que ele fez.
Herculano de Alencar