Nós estamos a assistir ao que eu chamaria a morte do cidadão e, no seu lugar, o que temos e, cada vez mais, é o cliente. Agora já ninguém nos pergunta o que é que pensamos, agora perguntam-nos qual a marca do carro, de fato, de gravata que temos, quanto ganhamos... El Mundo (1998) José Saramago
Metamorfose social
Quanto que vale um Soneto hoje em dia?
Talvez um cafezinho, um pouco mais?
Quanto vale os direitos autorais,
Que o verso empresta à poesia?
Vale menos, bem menos, que valia
Quando o homem carpia o pensamento,
E dormia, sem medo, ao relento,
A parir, sem esforço, a sua cria.
Quanto vale um Soneto de Augusto?
Um soneto, meu caro, não tem custo
E, portanto, não tem valor venal.
O mercado, esse monstro hodierno,
Que dá nó na gravata, anda de terno...
Fez o homem refém do capital.