Soneto de um errante (III)
Soneto de um errante (III)
São José, SC, 02/06/2023, 15h02.
É com minha cabeça aos meus pés voltada
que eu consigo relembrar que um passo
a outro passo chama em minha caminhada
e sinto que o que pesa não é meu cansaço.
Pesa muito mais viver com os olhos embaçados
sem saber reconhecer, com naturalidade,
os verdadeiros lírios do campo e cidade
com que, já raramente, ficamos emocionados.
Por quantas vezes a água pede pelo transbordo
mas, em forma de lágrima, com que me mordo
de desespero, eu mal consigo pensar no que fiz.
P'ra cima eu ergo a cabeça, às vezes,
e peço a Deus que estes meus revezes
não sejam fruto de um mal que não quis.