SONETO BRINCADOR



Enchi o processador com mil palavras
pra ver se preparava um bom poema,
e toda a dor do mundo amenizava,
mas só sei processar se eu for o tema.
 
Só sei falar da dor que me domina
a cada despertar, cada momento;
a cada vez que finjo numa esquina
o alívio que vem do processamento.
 
E mesmo se eu finjo o que deveras
me dói quando as palavras processadas,
brincantes, me atingem como um espeto;
 
ainda assim aceito a brincadeira,
por mais que às vezes queira que elas parem
nas sombras sinuosas de um soneto.