O BANDOLIM

Cantas, soluças, bandolim do Fado

E de Saudade o peito meu transbordas;

Choras, e eu julgo que nas tuas cordas,

Choram todas as cordas do Passado!

Guardas a alma talvez d'um desgraçado,

Um dia morto da Ilusão as bordas,

Tanto que cantas, e ilusões acordas,

Tanto que gemes, bandolim do Fado.

Quando alta noite, a lua é fria e calma,

Teu canto vindo de profundas fráguas,

É como as nênias do Coveiro d'alma!

Tudo eterizas num coral de endechas...

E vais aos poucos soluçando mágoas,

E vais aos poucos soluçando queixas!

[Augusto dos Anjos]

Augusto dos Anjos
Enviado por Letra e Arte em 16/05/2023
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