HOMENAGEM AO PATRONO - Soneto sáfico, heroico ou alexandrino
*TEÓFILO ODORICO DIAS DE MESQUITA*
Em nome do poeta de "Fanfarras",
Que marca o início do parnasianismo,
A poesia brilha com as garras
Mais afiadas desde o seu batismo!
Partindo, de Teófilo, o atavismo
Nos versos que repulsam velhas farras,
Os bardos, desde então, além do abismo,
Voaram mais que a casta das cigarras!
Teófilo Odorico Dias era
Bem mais do que uma flor na primavera...
Era sobrinho de Gonçalves Dias...
Era, de Afonso Celso, um grande amigo
E, do soneto, fez o seu abrigo
Até em março, aos vinte e nove dias!
Ricardo Camacho
*HOMENAGEM A JORGE DE LIMA*
Jorge Mateus de Lima, alagoano,
é meu Patrono nesta Academia;
escolha venturosa, eis que me ufano
de seu legado: até nos contagia!
Sua jornada rica traz, de plano,
seu diverso talento. Ele sabia
que, além do seu lavor cotidiano,
sua estrela brilhava em outra via.
Assim, ele exerceu a medicina,
na política, foi governador;
porém as Letras foram a paixão.
Nega Fulô, a escrava tão menina,
foi um dos temas: versos de valor
que até hoje nos molda o coração.
Basilina Pereira
*MÁRIO DE MIRANDA QUINTANA*
Mário Quintana, o bardo modernista,
Versava "coisas simples", de valia.
De Introspectiva e irônica poesia,
Porém reconhecido grande artista!
Foi grande tradutor e jornalista,
Mas, na ABL -- a excelsa Academia --
O poeta quis entrar...(que vil porfia!)
Por três ensaios vãos...pulou da lista!
Mas foi o maioral do séc'lo vinte.
A sua verve simples, sem requinte,
Jogava fora as cascas vãs das horas...
O Poeta de Alegrete, tão singelo,
Na arte de versejar, bateu martelo.
Eis o Quintana, amigos das auroras!
J. Udine
*TRIBUTO A MÁRIO DE ANDRADE*
O nome “Mário” — sobrenome “Andrade” —
é glória que envaidece a pátria inteira…
Jamais se viu tamanha acuidade,
no enlevo à nossa magistral bandeira.
Desbravador tenaz da identidade,
numa atitude audaz e pioneira,
abraça várias artes e, em verdade,
expõe um repertório à brasileira.
Foi músico, poeta, folclorista,
pesquisador… esplêndido ativista
em nome da cultura e amor ao belo.
Em seu romance mor — Macunaíma —
tangeu os nossos mitos na obra-prima,
tingida em tons de verde e de amarelo.
Elvira Drummond
*AUGUSTO DOS ANJOS*
Dos Anjos, rei dos traços enlutados,
muito escrevia, até com pouca idade.
Sempre embaixo dos galhos envergados
do pé de tamarindo... que saudade!
Tempos de pensamentos replicados,
mas a vida lhe impôs a realidade:
cedo, o poeta interrompeu os brados,
foi morto pelo ardor da enfermidade!
Expunha, em cada verso, a despedida
repleta de metáforas poéticas...
as linhas não se prendem, são ecléticas!
Então, depois da mórbida partida,
o Eu, desprezado, foi reconhecido
e conquistou sucesso indefinido!
Janete Sales
*VENCENDO TRAGÉDIAS*
Tragédias marcam fundo a sua vida:
A "tísica" deixou-a na orfandade...
ceifando "o amor" também na tenra idade,
a própria vida foi interrompida.
Em acidente, perde o irmão... ferida,
Auta de Souza, à luz da Divindade,
derrama em poesia o que é saudade,
e a dor no peito faz-se comedida.
Supera preconceitos de racismo...
mas nada abala a sua fé e o intento
de alçar os belos voos, com lirismo.
Horto -- o único legado -- um livro escrito
que expõe lembrança atroz do sofrimento
abranda a sua cruz, o seu conflito!
Aila Brito
*FAGUNDES VARELA*
Louvando a natureza, o desengano, o amor,
Foi, Fagundes Varela, o poeta andarilho.
Seu ultrarromantismo é patente no brilho
Dos versos em que canta a sua própria dor.
Obstáculo feral, difícil de transpor,
A boemia foi um trágico empecilho,
A angústia por não ter o seu amado filho
Tornou o seu viver num pranto de amargor.
Varela nos legou seu estro literário
No canto doloroso e atroz do seu calvário,
Tão pleno de lirismo e dramaticidade.
Partiu só, em silêncio e prematuramente,
Tendo no coração a mágoa renitente
Do filho que morreu aos três meses de idade.
Paulo Tórtora
*HOMENAGEM A MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE*
Nasceu Bocage, o grande sonhador,
na Vila de Setúbal, Portugal;
Boêmio, militar e tradutor,
no exército alistou-se e foi leal.
É o século XVIII o do escritor,
poeta e sonetista colossal,
que expôs o sofrimento, a morte, o amor,
e muito mais, por ser intelectual.
Ao viajar por longa e atroz jornada,
deixou na solidão a sua amada.
Porém, aventurou -se em outros planos...
voltando ao seu país, sofreu seus danos:
a perda de Gertrudes para o irmão
e o abrupto mal levaram-no ao caixão.
Marlene Reis
*UM POETA PLURAL*
Vinicius de Moraes - o poetinha -
arrebatou milhões de admiradores.
Sua lista de amigos não continha
só boêmios, poetas e escritores.
Gente de alta linhagem ou sem linha,
diplomatas, além de embaixadores...
Que ao grande sonetista não convinha
selecionar amigos nem amores.
Compositor de samba e bossa nova,
em versos e canções, sempre deu prova
do seu talento múltiplo e total.
Quase tudo em Vinicius é um excesso
que o Destino, antevendo o seu sucesso,
já batizou seu nome no plural.
Arlindo Tadeu Hagen
*ODE A SÁ DE MIRANDA*
Poeta português de merecida glória
Foi Francisco de Sá de Miranda, indo além
Por ser o provedor da nossa Língua e quem
Passou a divulgar no transcurso da História.
Do soneto, também, em sua trajetória,
Foi ele o introdutor, no perfil que convém
À clássica versão, que da origem advém,
Na feição modelar da norma transitória.
A Petrarca, fiel, transformou o cenário
Do medievo tom, usado em Portugal,
Em tradicional preceito literário.
Em novo ritual, esse renascentista
Tornou-se, no viver, um vate universal
E fez enternecer um mero sonetista.
José Walter Pires
*ARTUR AZEVEDO*
Chamado por Artur, notável Azevedo,
nasceu no dia sete, ao sétimo dos meses.
Filho de um consular dos fitos portugueses,
em contos e teatro ousava desde cedo.
Seu verso sempre audaz buscava, muitas vezes,
na vida carioca arquitetar o enredo.
Namoros, traições, um hábito ou segredo,
faziam rir com gosto os simples e os burgueses.
Mas foi Artur, também, um grande jornalista
um mestre, um professor, um sentimentalista
que defendeu com garra o fim da escravidão.
Morreu sem assistir a desejada estreia
dos palcos do teatro (a defendida ideia),
mas vive em seu legado e exímia vocação!
Geisa Alves
*AO POETA ALPHONSUS DE GUIMARÃES*
Poeta que cantou sofridamente,
Ao pé dos cinamomos, para a amada,
A Ismalia enlouquecida, apaixonada,
Lustrou em redondilhas, lindamente,
E a catedral nos ares, transparente,
A lua fantasmática, gelada,
Ergueram-se nos versos seus, em cada
Detalhe de magia transcendente...
Cantou de forma sã, ritualística,
As páginas de luz de Dona Mística,
A voz sem par, das esperanças mortas...
E emudeceu nas mãos do bom mineiro,
O corvo afigurado em seu tinteiro...
E o céu de Mariana abriu-lhe as portas.
Paulo Maurício G Silva
*ETERNO GREGÓRIO DE MATOS*
Quis o destino que entre os ancestrais
dos nossos mais remotos tempos idos,
nascessem tantos bardos destemidos,
heróis que davam voz aos desiguais...
Nobres poetas, antes preteridos,
deixaram grandes obras culturais
que continuam fortes e atuais...
e os livros não os deixam esquecidos.
E assim se vai cumprindo a trajetória,
as obras vão contando a nossa história
e um grande vate sempre encanta a gente.
Entre os gigantes, “monstros consagrados”,
o tempo nos deixou, eternizados,
Gregório... e sua forma irreverente.
Edy Soares
*O LIBERTADOR*
Um nome, um vulto: Antônio Frederico
de Castro Alves, poeta com mestria
Filho da boa terra, da Bahia,
Nobre patrono, nele me edifico.
O Romantismo fez ficar mais rico,
Utilizando a sua poesia
como voz viva contra a tirania
do escravagismo vil que não explico.
Exímio sonetista condoreiro
denunciou o tráfico negreiro,
prestando à abolição enorme ajuda.
Foi reverenciado por Neruda
num notório poema em seu louvor:
- Do Brasil, o maior Libertador.
Paulino Lima
*HORÁCIO DÍDIMO*
No Ceará, viveu este escritor,
Um clássico poeta sonetista,
Eclético, também foi concretista,
Um grande literato e professor.
Notável e sintético ensaísta,
Nas Letras, não só mestre, mas doutor,
Um místico profeta de valor,
Além de ser exímio pandeirista.
A infância que morava no seu ser,
Em versos preciosos e sutis,
Refloresceu nos livros infantis.
Humilde, nunca quis aparecer,
Mas quanto mais, da mídia, se escondia,
Mais forte sua estrela reluzia!
Luciano Dídimo
*GUILHERME DE ALMEIDA - Nº 7.702*
O "Gui" de Almeida, em tudo pôs primor;
jurisconsulto quis lutar, decerto;
notável líder, soube leis propor;
o poliglota teve o prêmio certo.
-
Obra completa traz total valor:
o sonetista tem seu livro aberto;
compôs canções, seis hinos, bom mentor;
cumpriu missão, voltou também liberto.
-
Serviu na guerra, foi fiel soldado;
o voluntário viu dispor reverso:
-Revolução de trinta e dois, saudado.
-
O meu patrono sabe usar o encarte,
a inspiração exibe em cada verso:
-Guilherme tem poder de engenho e de arte.
Sílvia Araújo Motta
*HOMENAGEM A RAUL DE LEONI*
Deixaste a diplomática missão
quando a exercias junto ao Vaticano;
e, assim, ao retornares ao torrão
natal, te dedicaste a novo plano.
E eis teus sonetos, de composição
em que não se apresenta um formal dano,
levando a austera crítica de então
a te julgar um bom parnasiano,
por muito bem nutrires com primor
os teus dons naturais de maestria
para, sempre perfeito, o Belo expor;
e o grupo modernista a ver presente,
em ti, a inteligência luzidia,
moderna e usada em verso, ousadamente.
Kleber Lago
*JOSÉ INEIFRAN VARÃO DA SILVA*
Eis-me aqui a tecer sobre um gigante,
Sem que eu tenha talvez o cabedal.
Por mais honra que eu sinta neste instante
É difícil falar de alguém genial.
Ele é maior, bem mais que este falante,
Tece versos diversos, sem igual,
Detive-me a folheá-lo, fiz-me amante
De sua prosa – linda por sinal.
– Não escolhi você, nobre Varão,
Eu lhe fui dado, meu gigante poeta,
De onde estiver aceite-me, e, perdão,
Se acaso não lhe honrar devidamente.
Se a escolha não foi boa, nem correta,
A culpa não foi minha, certamente.
Raymundo Salles
*GONÇALVES DIAS, O GUERREIRO DESCENDENTE!*
Timbiras! Teus tribais trovões! Tambores!
Cantáreis-vos os cânticos do clã
Aos místicos mistérios, no amanhã
Pretérito e porvir posteriores!
Guerreiro! Descendente de Tupã!
Poeta pródigo, aonde quer que fores,
Herdaste o sangue desta terra e as cores
Do ricto à noite e o ritmo a umbral manhã!
Guaraci, Guardião! O Iluminado!
O Tupi-Guarani ascender-se-á
Através do equinócio e do nictêmero!
Guerreador! Protegido de Anhangá!
Transcende a tradição perpetuado
No templo eterno ao tempo e nunca efêmero!
Bruno Fagundes Valine
*AO POETA INCONFIDENTE*
Figura de destaque do arcadismo,
ganhou notoriedade ao venerar
a sua Nise, dona de um lugar
nas emoções imersas no onirismo.
O culto à natureza e o bucolismo,
unidos ao singelo linguajar,
integram seu legado singular,
marcado pelas tintas do lirismo.
A trajetória deste inconfidente
na lide literária e no direito
merece, com justiça, apologia.
Assim versejo quando reverente
a Cláudio Manuel da Costa e o preito
aclama cada verso que escrevia.
Jerson Brito
*FLOR BELA DE UM ALENTEJO*
a Florbela Espanca
Ó Flor de um Alentejo, irmã do sonho,
Perdida pelo mundo do destino,
Que lhe tirou precoce o senso, o tino,
Deixando em sua vida amor tristonho.
Foi um livro de mágoas, enfadonho,
O terço matrimônio, além do trino
Atentado, suicídio. Seu menino,
Aquele irmão querido, bem suponho,
Se foi num avião da terra além.
E será mesmo aquela que ninguém
Vê passar, em amar só por amar?
Bela de um Alentejo, mais que visa,
Seus versos permanecem, poetisa,
De Flor e de Beleza um Espancar.
Márcio Adriano Moraes
*TRIBUTO A EUCLIDES DA CUNHA*
Do Rio para as terras nordestinas,
a sua pena marcha, à revelia,
ao retratar o apoio à monarquia
no bojo de cruéis carnificinas.
Em meio às tais celebrações divinas,
com sua magistral geografia,
descreve a multidão que prosseguia,
sem se curvar às chagas das chacinas.
A pena ainda voa pelos ares,
ao frequentar os mais diversos lares,
nos mapas mais remotos das nações,
quando através de um golpe, assaz, mortal,
perdeu a vida para o seu rival,
se eternizando pelos seus sertões.
Adilson Costa
*COM BANDEIRA*
Em breve, desta terra, vou-me embora...
Se vou para Pasárgada, não sei!
O encanto de viver bem longe mora;
lugar em que sou íntimo do rei.
O tempo faz-se em cinzas, hora a hora,
dissolve cânones, inverte a lei.
Andorinha, andorinha, o verso chora...
A vida inteira à toa eu caminhei!
Meu canto é sangue, desalento e dor,
peito escavado, em sustos tão medonhos.
A Estrela da Manhã me prende à vida.
Alguém que faça a mim grande favor:
Devolva-me a cidade de meus sonhos,
que jaz profundamente adormecida!
Fernando Antônio Belino
*Ode à Cecília Meireles*
Da dor desentranhou o tom da escrita
Marcado pela ausência tão presente
De tudo que perdeu precocemente...
A solidão, que em cada verso grita.
A morte, a grande fonte de desdita,
Na essência do pensar plantou semente
Do efêmero na vida – um sol poente
Que ao derredor de todo ser gravita.
Buscou no espelho a sua própria face,
De si perdida, enfim, no desenlace
Do tempo que passou - suave brisa.
Não é fugaz, porém, seu terno canto
Que em todo canto ecoa e que, portanto,
Estruge aqui e ali... E se eterniza.
Edir Pina de Barros