ESTRANGEIRO NO MEU CORPO
sou estrangeiro no meu corpo
quando não falo a língua das minhas entranhas
e, se num piscar, não reconhecer nenhuma víscera
é porque todas elas me são estranhas
as linhas da minha mão estão em malaio;
minhas digitais talvez sejam russas;
meus olhos brilham um chinês arcaico
tão indecifrável que até o amor mais puro expulsa.
não há tradução para o que sai da minha boca.
é tanto pranto, esperanto, que qualquer interpretação
se não pouca, pode ser muita e louca.
perdido no caminho para as feridas abertas,
solitário é meu sangue
que corre por veias desertas.