TRILHA DE SONETOS CI - RIMAS HOMÔNIMAS PERFEITAS (palavras homófonas e homógrafas)
*DESILUSÃO...*
Senti arrepiar, na pele, o pelo,
enquanto dedilhava o antigo cravo…
tamanho o meu amor por ti ou pelo
passado de jasmim, de ipê, de cravo…
Dos tais buquês, ao ver o velho selo,
avivo a dor — qual lâmina que cravo
a enodoar minh’alma — e sinto sê-lo
também, na pele, a mancha vil de um cravo.
Consolo-me, ao dispor de minha pena,
letrando cada mágoa atroz… que pena!
É triste ouvir a voz que ainda chama…
(a mente, tola, não apaga a chama).
Por mais que ajunte as pedras do colar,
pedaços de um amor não sei colar…
Elvira Drummond
O REENCONTRO
Olhava da janela, a jovem Rosa,
o moço que chegava... em choque, muda,
aguarda o seu encontro e aceita a rosa
que ele a concede (envasilhada em muda).
Na flor, o tom vibrante, cor-de-rosa
relembra aquela roupa, aquela muda
do baile da cidade antiga: Rosa.
Quando, depois, do vilarejo muda,
o amor que ali surgiu, sofreu... Que pena!
Depois de um tempo, agora, sob a pena
da dor de uma saudade, o peito em chama,
carente, o coração vibrante chama!...
No abraço, apertadinhos, feito um laço,
prometem, na alegria, o eterno laço.
Aila Brito
*IMPRESSÃO*
Durante as luzes da manhã presente,
Os devaneios maus, em versos, mato
No instante que recebo de presente
O azul do céu e o verdejante mato.
Ao relembrar que Deus - a Lei - não mente,
Pressinto as Suas Mãos, não há retrato,
Acarinhando toda a minha mente
Na imagem natural que aqui retrato.
Reflito na vigília, sigo e sonho,
E a natureza concretiza o sonho,
Ao formatar inspirações do Eterno...
E com resiliência, avante, vago,
Cristalizando num soneto vago
A artística impressão com viço eterno.
Ricardo Camacho
*LOUVOR*
Eu colho a rosa branca, o riso e o tento
nas horas revestidas pelo apuro,
e ainda que sobeje a dor, seguro
nas mãos de Deus e a sorte não lamento.
Não sobra, ao verso, o ensejo de um lamento,
(em minha pouca fé está seguro),
mas vive no vigor audaz que apuro
na viva inspiração que em ânsias tento.
Em todo tempo e espaço, em todo canto,
na estreita fresta, no árduo e justo vão,
à vida que me habita louvo e canto.
Venço o amargor dos ais que à frente vão,
cheia de audácia exprimo alegre canto:
não há, em mim, nenhum poema vão!
Geisa Alves
*O SOL DA AMIZADE*
Bem antes de enfrentá-la, cara a cara,
media cada passo — um simples ato —
se um elo foi desfeito, apenas ato,
pois prezo cada amiga doce e cara…
Comento aqui (é claro), sobre a Sara:
unidas desde a infância, existe um trato
e, havendo alguma rusga, cuido… trato…
que a dor de um rompimento nunca sara.
E veio a brisa teeeerna, por capricho,
prenunciando a paz, então capricho:
dedilho o minueto escrito em sol
e bordo as palavrinhas que, hoje, conto…
Escrevo para a Sara um novo conto,
que a vida sem amigos perde o sol!
Elvira Drummond
*ESTOICISMO*
Morreu o verso às margens de um anseio,
junto à desilusão jamais escrita,
no entanto, a poesia que eu anseio
ainda encanta o altar da minha escrita.
Se mora junto ao íntimo, no seio,
a campa triste e fria da desdita,
resiste dentro em mim o amor e sei-o
estoico em frente à farsa não desdita.
Ainda que haja o caos, suspiro e cedo
ao sonho que nasceu no instante cedo,
sobrepujando o medo em que desmaio.
Cultivo rosas; mesmo morto o verso,
eu vivo nas palavras com que verso...
A morte não me passa de um desmaio!
Geisa Alves
*VENCENDO BARREIRAS*
Nos dias de tristeza sempre invento
algo que me estruture algum socorro;
noto que perco tempo nesse invento
e, no final, eu mesma me socorro!
Eu busco em cada amanhecer o alento,
e nessa imensa busca quase morro,
mas reanimo as forças, pois me alento
e, assim, enfrento até um árduo morro!
Tudo que faço clama por reparo,
há sempre algum entrave no caminho,
às vezes, menosprezo, não reparo.
Isso acontece... além de tudo, cedo,
vai esgotando o solo em que caminho,
mas olho para o céu... e nunca cedo!
Janete Sales Dany
*CANTO BREVE DE AMOR*
Agora que, sem ti, me vou, caminho,
A ruminar, no peito, imensa pena...
E que meu coração, padece, pena
Por não te ver comigo em meu caminho.
E do rosal do amor, pressinto o espinho,
A lágrima me escapa e cai serena,
Abranda minha dor e me serena,
Prossigo a caminhar e não me espinho.
O impulso de buscar-te enquanto é cedo
Persegue os passos meus. Reluto e cedo...
Permito que o desejo a ti me leve.
Além eu te busquei em todo canto
E, enfim, eu te encontrei e alegre canto
O dom que me transforma e deixa leve.
Edir Pina de Barros
*PRECAUÇÃO*
Quão sábio aquele dito popular
Que afirma: "todo aquele que se casa
Precisa ter a sua própria casa",
Um sonho para o rico ou popular.
Desejo a conversão da minha casa,
Então preciso os lápis apontar,
Caminho que é seguro se apontar,
Botão que passa pela estreita casa.
Afio os instrumentos para o corte,
Da trava do meu olho assim me livro,
Dos males, o universo não nos poda.
Os galhos mortos pedem que eu lhes corte,
Ouçamos o que diz o Santo Livro:
Os frutos chegam sempre após a poda!
Luciano Dídimo
*DESPERTANDO*
As tuas vestes fascinado tiro
E, avidamente, as deixo sobre um canto...
Do sóbrio quarto, quando escuto um tiro
Emudecendo o meu alegre canto.
Vi quando deste, aflita, atroz suspiro
Quebrando, bruscamente, aquele encanto,
Cujo sabor lembrava o de suspiro:
A guloseima com a qual me encanto.
Como esquecer, de ti, ó meiga Leda?
Ao reviver, vivaz, saudade leda...
Fico feliz de haver, por ti, vencido
O sonho mau sem pecha de vencido.
Agora, faço bem o meu papel,
Versejo nesta folha de papel.
José Rodrigues Filho
*A PRÁTICA DO BEM*
Desperto bem feliz, levanto cedo...
Aproveitando o tempo em que caminho,
reflito a caridade, o meu caminho,
se ao meu irmão o meu amor eu cedo!
A vida, qual roseira, há flor e espinho...
Para medrar floral o seu segredo
é persistir no amor, aqui segredo,
pois do contrário, pecador, me espinho!
A prática do bem, o qual capricho,
é puro dom, ornando com capricho
o coração e o espírito tenaz
que persevera, enérgico e tenaz,
e fundamenta o amor que vem do eterno,
na glória do Senhor - o Pai Eterno.
Aila Brito