Luto
"A mesma história tantas vezes lida”
agora encanta os átrios do passado;
morreu o antigo sonho afortunado
num átimo de gozo e despedida.
Relembro e sinto o beijo apaixonado,
o olhar em fogo vivo, a voz gemida.
A minha boca seca não olvida
o gosto dentre a fúria e dentre o agrado.
Nos vagos de um instante diminuto
o amor tornou-se insípida fumaça;
sem entender ainda sofro e luto,
mas angario apenas crença lassa:
com exceção de meu tristonho luto,
“tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Os versos 1 e 14 são do soneto de Florbela Espanca em "Fanatismo".
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