TRILHA DE SONETOS XCVIII- "CONTRASTE", DE Padre Antônio Thomaz

*CICLO VITAL*

"Quando partimos no verdor dos anos"

Sonhando em deslindar o elã da vida,

A caminhada, então assaz florida,

Vai perfumando e não notamos danos.

É bem comum mudarmos nossos planos

Sem que a permuta seja concebida

Pela alegria juvenil, garrida,

Ou mesmo a cupidez dos bens profanos.

No transcorrer do tempo percebemos

Que foi exíguo tudo o que vivemos

E as ilusões, agora, trazem más

Premonições que encurtam o adiante.

Os desencantos vão conosco avante

"E as esperanças vão ficando atrás".

José Rodrigues Filho

*VELHICE*

"Quando partimos no verdor dos anos,"

Na ampliação visível da certeza

Que traz, na lucidez, os desenganos,

Brindamos muito mais a madureza.

Na letra dos filósofos mundanos,

Ao recordarmos tudo com pureza

O alarme intrínseco nos véus dos danos

Despertará o estado de fraqueza!

O alcance relativo da bonança

Repousa pelas plagas da lembrança,

Quando se apaga um êxito falaz

E, nesse ensejo, nasce o natural

Receio à luz do instante mais fatal...

"E as esperanças vão ficando atrás."

Ricardo Camacho

*PIPAS RASGADAS*

“Quando partimos no verdor dos anos,”

cheios de gáudio, a rabiscar destinos,

tudo se veste de sinais divinos

e nem sentimos os ardis insanos

do tempo a devorar cotidianos

e destemidos fitos de meninos...

E vão dormindo os sonhos matutinos,

e a noite vai abrindo os negros panos...

Rasga-se a seda das risonhas pipas,

murcham as flores, sensuais tulipas

e resta apenas a amplidão lilás

que o fardo da existência evidencia:

seguem, à frente, a dor e a desvalia

“e as esperanças vão ficando atrás.”

Geisa Alves

*DESENCANTO*

“Quando partimos no verdor dos anos”,

movidos por paixão, a mais sublime,

daquela que o fascínio na alma imprime,

deixando para trás os desenganos.

Partimos sem pensar em mágoas, danos,

ou mal qualquer, tristeza ou mesmo crime,

a procurar os bens que se colime

e ser feliz até que caia os panos.

Mas encontramos mares de egoísmo,

que concluímos ser algum sofismo

acreditar em sonho assaz fugaz.

No outono desta vida, sem quimera,

avante vamos, tudo se oblitera

“e as esperanças vão ficando atrás”.

Edir Pina de Barros

*O SONHO E O TEMPO*

"Quando partimos no verdor dos anos",

Da vida revestidos de euforia,

Na mala vão conosco os belos planos,

Descortinando o mundo com magia.

Marchamos sem pensar nos desenganos,

Movidos na esperança e na alegria

De conquistar os sonhos, sem enganos,

Seguindo em meio à luta, todo dia.

Porém nem sempre o sonho se conquista,

Durante a rota perde-se de vista

O foco e o devaneio se desfaz;

O tempo, os nossos planos, revolvendo,

Aos poucos nossos sonhos desfazendo

"E as esperanças vão ficando atrás".

Aila Brito

*NO GUME DA NAVALHA*

"Quando partimos no verdor dos anos",

O quadro ostenta só vicissitude,

No entusiasmo de uma juventude

Sem rumo certo, não traçamos planos.

O tempo passa; quantos desenganos

Oferecidos de maneira rude!

Metamorfose sem beatitude,

Que muitas vezes petrificam danos.

Quantas escolhas são indecifráveis...

Dias felizes, quase que impagáveis,

Que as amarguras deixam para trás.

No triste gume da longevidade

A morte acena com ferocidade,

"E as esperanças vão ficando atrás".

Douglas Alfonso

*FINAL DA LINHA*

"Quando partimos no verdor dos anos",

Ecoam risos... quantas primaveras...

Com almas livres, feito bons ciganos,

Não projetamos dores tão severas.

Ali os sonhos são bem mais arcanos

Quase imortais, perante o ardor das eras,

Mil utopias vivas nos humanos,

Que na verdade, viram só quimeras.

Entre os ocasos e, vitais, crepúsculos,

Nossos vigores morrem onde os músculos,

Antigamente, tinham todo o gás.

Neste caminho, só as incertezas,

Vemos, à frente, tantas asperezas,

"E as esperanças vão ficando atrás".

Douglas Alfonso

*AS CORES DA TRAVESSIA*

“Quando partimos, no verdor dos anos”,

a vida tem os tons da primavera:

azuis e cor-de-rosa são os planos,

verdeja até o muro cheio de hera…

Depois, inevitáveis desenganos

transformam nossas cores de quimera;

mas sendo tais desejos soberanos,

manejam o pincel da fé que espera…

No outono da existência tão premente,

as lágrimas nos tornam baobás,

e a seiva verde pulsa caliente.

E que jamais se diga, em tantos “mas...”,

que os dissabores seguem sempre à frente

“e as esperanças vão ficando atrás”.

Elvira Drummond

*COMBUSTÍVEL*

"Quando partimos no verdor dos anos",

o sacro sonho, feito um combustível,

queima e acelera tornando possível

realizar os almejados planos.

Nessa corrida, feito veteranos,

cruza-se a linha em tempo bom, rendível;

se todo o entrave, sendo transponível,

chega a vitória e afasta os desenganos.

A luta é bem difícil, mas presumo:

jamais seguir a rota cabisbaixo

e o sonho abastecer com novo gás.

Porém o tempo, às vezes, muda o rumo

da história: sonhos vão por água abaixo...

"e as esperanças vão ficando atrás".

Aila Brito

*A FORÇA*

"Quando partimos no verdor dos anos,"

Envoltos da bravura de guerreiro,

Para enfrentar o tempo traiçoeiro,

Enchemos de esperança nossos planos.

Os jovens, sempre tidos como insanos,

Cada qual pensa ser o pioneiro

Que vai remediar o mundo inteiro,

Livrando-o de seus tantos desenganos.

O tempo passa e vamos percebendo

Que a nossa própria força é incapaz

De ser bem sucedida em um adendo.

É Deus, por nossas mãos, quem tudo faz,

Quem não entende vai enfraquecendo

"E as esperanças vão ficando atrás!"

Luciano Dídimo

*NO OUTONO DA VIDA*

"Quando partimos no verdor dos anos,"

não há as sombras súbitas do medo,

parece que o universo abraça os planos

que tanto perseguimos, desde cedo.

Temos a força egrégia dos ciganos,

vivemos livres feito o passaredo,

não há pavor nos vastos desenganos,

e a cada dia o amanhecer é quedo!

Quem dera ter a juventude eterna!...

Porém a realidade nos governa,

tudo na terra encontra o fim sagaz.

O tempo segue em frente, nunca espera,

devasta a perfeição da primavera,

"e as esperanças vão ficando atrás."

Janete Sales

*FENECIMENTO*

"Quando partimos no verdor dos anos"

A juventude, fase imponderável,

Arrasta-nos, de modo incontrolável,

Pelos caminhos doces dos enganos.

O medo não assusta os levianos,

Soberbos, confiantes no ego inflável ...

Fugir à luta torna-se improvável

Porque da vida somos soberanos.

O tempo feito Deus, contando os dias,

Destrói, sem dó, as nossas regalias,

Envelhecendo o espírito, e, aliás,

A nossa silhueta, assaz, esmaga.

As horas passam, consumindo a saga,

"E as esperanças vão ficando atrás".

José Rodrigues Filho

*TEMEMOS O LIMITE, O FIM E O NADA*

"Quando partimos no verdor dos anos,"

O Tempo chicoteia o pergaminho

E, consequentemente, os desenganos

Realçam mais as lutas do caminho.

Nas asas desses ventos soberanos,

Formando, às vezes, um redemoinho,

Aos poucos nos tornamos veteranos

Quando vencemos todo o desalinho.

Enquanto vívidos em nossa mente,

Os sonhos fazem parte do presente,

Pintando o nosso mundo de lilás,

Mas prosseguindo ainda nessa estrada,

Tememos o limite, o fim e o nada,

"E as esperanças vão ficando atrás".

Ricardo Camacho