SONETOS DO DR. IVES GANDRA MARTINS

SONETOS DO DR. IVES GANDRA MARTINS

À espera do tempo C Minha esperança

Em nosso amor tu sempre procuraste

Mostrar-me o bom caminho do Senhor,

Mas nunca pressionado, por contraste,

Eu me senti, malgrado tanto amor.

É que de Deus estava eu afastado

E tua pregação eu pouco ouvia,

Gostava era de estar bem de teu lado,

O que sempre me deu muita alegria.

Como o albatroz que custa alçar o vôo,

Um dia para Deus, por fim, segui,

Um dia em que em meu ser ainda ecôo,

Como o querer que tenho só por ti.

A fé que na minh’alma, não descansa

Eu vivo de rever-te na esperança.

À espera do tempo XC Respostas e desejos

A pergunta de muitos sempre igual

Por que do tempo digo estar à espera,

Respondo que no aguardo de um sinal

Encontrar-te, por fim, em outra esfera.

Teus sonhos tinham toques de cristal,

Que surgem quando surge a primavera,

Nosso lar para nós a catedral,

Onde o amor fez a vida tão sincera.

Sei que o tempo do encontro está bem perto,

Pois, na velhice, os anos são mais curtos,

Embora ao corpo dê-lhe seu cuidado,

Sem ti o meu caminho é muito incerto

E apesar de não ter das dores surtos,

Quero de novo ter-te de meu lado.

SP. 14/01/2023

À espera do tempo XCIX

Sempre teu olhar

O soneto que fala ao coração

Ao teu e ao meu, pois lembra-me de ti,

O tempo que era um tempo de canção

Por estares comigo e por aqui.

O soneto do amor que não tem fim

Certa vez escrevi de próprio punho

Que fez nossa existência ser jardim

Em versos rabiscados num rascunho.

A saudade bem torna mais intensa

O que sempre senti por te querer

Em minh’alma o retrato está suspenso

Até o dia em que eu irei te ver.

Ajuda-me, querida, a suportar

A falta que me faz o teu olhar.

São Paulo 16/03/2023

À espera do tempo LXXXIX Obrigado, perdão, ajuda-me

“Obrigado, perdão, peço-te ajuda,

Era assim que Dom Álvaro a oração

Repetia, ao mostrar de forma aguda,

Como falar a Deus no coração.

A ti pelo que deste eu obrigado

Te digo ainda agora, todo o dia,

O bem de tanto tempo ter-te ao lado,

Em vida que foi sempre de alegria.

Perdão, por quando, às vezes sem querer,

Não fui o que devia ser contigo,

Embora me fazias perceber

Com teu sorriso doce e tão amigo.

Ajuda-me, por fim, estou sozinho,

Indicando do céu o meu caminho.

SP. 07/01/2023

À espera do tempo XCI Paz e dor

Às vezes, fico, ao sábado, a pensar

Que sentido na vida eu hoje tenho,

Eu ando pela casa devagar

Qual Cristo carregando o próprio lenho

A família me apoia o tempo inteiro,

Escrevo e falo muito do que penso,

Acalmo se, porém, sou seresteiro

De ti quando versejo menos tenso.

A idade pesa tanto e pago o preço

Daqueles que se encontram na velhice

Mas tem os versos meus sempre o endereço

A quem a mim me viu só com meiguice.

Que falta tu me fazes, meu amor,

O coração imerso em paz e dor.

SP. 21/01/2023

À espera do tempo XCV Eterna fonte

Um cromo com soneto

Como faço na semana,

Volta aos tempos de coreto,

Que a distância não empana,

Para ti e a quem me escute,

Eu escrevo uma vez mais,

Te lembrando sempre Ruth,

Como um barco junto ao cais.

Vou assim como quem lança

As saudades pela vida,

Tendo de Deus a esperança

De bem rever-te, querida.

Ando, pois por esta ponte

Sendo tu do amor a fonte.

SP. 17/02/2023

À espera do tempo LXXXVII Fim do ano

Mais um ano sem você,

Com paz, tristeza e saudade,

Estou, por de Deus mercê,

Inda, aqui, malgrado a idade.

A Santíssima Trindade

Certamente, você vê,

Mas eu, na senilidade,

Muito luto e sei porquê.

Desde o tempo da partida

Conto os dias, todo o dia,

No coração, a ferida

Porém ninguém alivia,

Pois você foi nesta vida

Fonte de toda alegria.

SP. 30/12/2022

À espera do tempo XCII Até a morte

Meu escritório, em casa, tão repleto

De livros, discos, fotos e papéis

Brincavas em chama-lo, em tom discreto,

De cortiço num quadro sem pincéis.

Na poltrona, porém, tu bem ficavas

Dedilhando seus dedos, num rosário

E assim tu, ao meu lado, meditavas,

Meu trabalho inspirando no cenário.

Hoje, o cortiço existe sem eu tê-la

Com livros e papéis – são eles tantos! -,

Mas falta, na poltrona, minha estrela,

Que, cantador, eu canto nos meus cantos.

O tempo que vivemos faz-me forte,

Sem medo de lugar até a morte.

SP. 28/01/2023

À espera do tempo XCVI Não sou moderno

Descanso, em minha idade, na esperança,

Aquela de rever-te em santidade,

De teu formoso olhar resta a lembrança,

Que gera, no meu peito, esta saudade.

Reconheço ser bem repetitivo

No tempo, sendo só teu cantador,

Permaneço de ti contemplativo,

Cantando, nos meus versos, nosso amor.

Quem ama de verdade nunca esquece

O seu muito querer a sua amada

Torna-se, assim, meu canto frágil prece

Que faz tão mais serena a caminhada.

O nosso amor, porém, não é moderno,

Porque quando nasceu, nasceu eterno.

SP. 25/02/2023

À espera do tempo LXXXVIII Como nos velhos tempos

Eu sou aquele que, apesar dos anos,

Das lutas, dos sucessos e fracassos

Não desistiu jamais nos desenganos,

E, tendo o olhar em Deus, deu os seus passos.

Eu sou aquele que sonhou o mundo

Vivendo em pleno amor com todos nós,

No coração sentindo o tom profundo

De não querer deixar ninguém a sós.

Eu sou aquele que pouco se importa

Com ofensas e ataques pois conhece

A natureza humana e sua porta

É sempre responder com uma prece.

Eu sou aquele crente que, ao final,

O bem um dia vencerá o mal.

SP. 31/12/2022

À espera do tempo XCIII Ouvindo Grieg

Agora, Grieg ouvindo estou, querida,

Como, outrora, fazia de teu lado,

O fundo musical sempre convida

E convidava a mim, apaixonado.

A música atenua esta ferida

De tua ausência, pois inda abalado

Estou desde que vi tua partida

Às terras do Senhor, que é nosso amado.

Já não consigo mais nem dedilhar

A canção que compus por ti chamada

Cançoneta de um tempo muito antigo.

A vida inteira fomos, por amar,

Eu namorado e tu a namorada

Que sei que está no céu e está comigo.

SP. 04/02/2023

À espera do tempo XCVII Contrariedades

Minha querida, à missa irei à tarde,

Chegou uma vez mais fora de horário

Aquele que me serve sem alarde,

Bom motorista e quase secretário.

Quanto tu de meu lado, eu dirigia

Pouco importava o atraso, pois à missa

Nunca perdemos, indo todo o dia,

A Deus nossa presença nunca omissa.

Um pouco com rotina hoje mudada,

Malgrado minha idade, trabalhei,

Tua imagem em mim tão bem gravada

Fez um plebeu modesto ser um rei.

O meu cantar a ti sempre te exalta,

Embora sinta muito tua falta.

SP. 03/03/2023

Dr. Ives Gandra Martins
Enviado por William Lagos em 08/04/2023
Código do texto: T7759214
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