SONETO HEREGE
Minhas palavras são irrevogáveis,
mesmo diante do Ser indulgente?
Nada se iguala à língua pungente
que fere e deixa marcas execráveis.
Atento-me aos símbolos louváveis
que, presos numa doutrina eloquente,
fazem refém a alma mais inocente.
Vil cisma de abandonar miseráveis!
Ó frívolas flores murchas que rego!
Nas mãos da discórdia, agora m’entrego
e aos mútuos insultos fico exposto.
No altar de consagradas controvérsias,
declaro batizado o meu desgosto
por essas negativas peripécias!
© Ismael Marck em “Arrebol Acromático”,
1ª edição, 2020 — publicação independente