SONETO INSPIRADO NUMA OBRA DO PATRONO

Soneto decassílabo sáfico ou heroico desenvolvido a partir de uma obra de autoria do seu patrono.

Inspirado no SONETO "A CRUZ", DE TEÓFILO DIAS

ALÉM DO RITO

A cruz, sinalizada sobre o peito

Num genuíno ritual, conforta

Um coração além da imagem morta,

Simbolizando o histórico preceito.

Benzer-se, certamente, traz no efeito

O véu da proteção que ao ser reporta

À salvação, à luz, à aberta porta...

Um pálio num destino contrafeito?!

A grande romaria, na ladeira,

Caminha - rotineiros da canseira -

Com sonhos maculados de tristura...

O Cristo que, nos braços de madeira,

Venceu a morte, está, à vida inteira,

Na aurora e, sempre, além da sepultura!

Ricardo Camacho

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Inspirado no SONETO "ETERNA DOR", DE ARTUR AZEVEDO

NOITE TIRANA

Desceste ao reino infindo da tristura,

rasgaste o véu da fria e escura morte,

e agora nada existe que conforte

meu coração que em dores se enclausura.

Ainda lembro a noite de amargura

em que desceste ao chão e à negra sorte.

Noite tirana, noite dura e forte

levou, da minha vida, a flor mais pura.

Ainda sinto a lágrima estuosa,

ainda sinto o olor da rubra rosa

que em tuas mãos prendi, com um gemido.

E agora, amor, percebo, pouco a pouco,

que neste agror insano, atroz e louco,

eu vivo, mas pareço ter morrido!

Geisa Alves

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Inspirado no poema:

4°. Motivo da Rosa, Cecília Meireles

TRANSITORIEDADE

Jamais te aflijas quando despetalo,

Apenas sou, se me desmancho assim...

Eu não serei eterna no jardim,

Altiva e perfumada sobre um talo.

Expresso muito mais, quando me calo,

E, se desbota a minha cor carmim,

Tudo transmuda, nada tem um fim,

Viver-morrer, resisto no intervalo.

Eu deixo versos onde quer que passe,

Um pouco, enfim, de mim, no desenlace

Das pétalas que, soltas, vão-se embora...

Versejo porque morro a cada instante,

Renasço em meus poemas, sigo avante,

Enquanto, em meu entorno, tudo enflora.

Edir Pina de Barros

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Inspirado no soneto ACASO de Ineifran Varão

VOCÊ DEIXOU SEU RISO NO CAMINHO

Você deixou seu riso no caminho,

Pensou que o levaria, mas ficou.

Como esquecer o sopro de carinho

Que, suavemente e lindo, em mim pousou?

Você deixou do olhar só um pouquinho,

Mas aquele tão pouco, iluminou

De forma tal que, quando estou sozinho,

Sinto quão fortemente me abrasou.

Você se foi, oh, musa angelical!

Mas, totalmente, não, porque afinal

Ficaram no caminho alguns fragmentos.

Não posso me esquecer, como olvidar?

Aquele riso doce, aquele olhar...

Os vejo e sinto em todos os momentos.

Raymundo Salles

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Baseado no Soneto XVII do "A Rua dos Cataventos" de Mário Quintana

SENTIMENTOS

Por várias vezes fui assassinado.

Na pugna desta vida renasci,

Pois para ser guerreiro assim nasci,

Com este jeito meu desassombrado.

Às mais das vezes, fui menosprezado.

E por momentos ínfimos me vi,

Porém à luz do Altíssimo, venci,

E sigo qual poeta abençoado!

Corvos malditos, filhos de Caim,

Que me traziam dor, cruel, sem fim,

Ninguém apagará a minha luz

Que vence as trevas densas, bestiais.

Plenas de abutres, tigres e chacais,

Em vozes vis: comigo está Jesus!

J. Udine

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"Eu passava na vida errante e vago/

Como o nauta perdido em noite escura"

(Fagundes Varela)

SAUDADE

"Eu passava na vida errante e vago,"

Insensível e só, seguindo em frente

Sem sonhar, sem sentir a dor premente

De quem busca, incansável, um afago.

Sem augúrio, surgiste, um céu pressago

De quimeras sem fim, de um sol ardente

Que envolveu-me de vez, completamente,

Com promessas de amor, que ainda trago.

Os caminhos voláteis, solitários,

Transformaram-se em gráceis santuários

Nesse idílio entre nós, que floresceu.

Mas fugiste!... E levaste na partida

Todo bem que trouxeste à minha vida

E persiste no amor que não morreu!

Paulo Cezar Tórtora

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Baseado nos sonetos gêmeos, insertos no poema/livro “Invenção de Orfeu”, de Jorge de Lima

PLURALIDADE DO POETA

“Se me vires, inúmero, através”

destes versos que escrevo sem valia,

saberás que procuro aquilo que és,

perdido na distância já tardia.

Ao me veres turbado entre as marés

ou fenda, arrebatado, em tarde fria,

na rota de poemas, de través,

dirás que vago em busca de magia.

A saga do poeta segue firme

em seu trajeto rumo ao tal mistério

onde Orfeu toca, triste, a sua lira.

O vate almeja a meta que lhe afirme

a voga pela paz, sagrado Império,

onde a Musa descansa, e ele delira.

Basilina Pereira

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Inspirado no soneto O Beija-Flor

(Auta de Souza)

AQUELE BEIJA-FLOR

Olhava, apreensiva, da janela,

no aguardo da visita especial

do pássaro pequeno, angelical,

que emoldurava a mais risonha tela.

Vinha no mesmo horário, matinal,

garboso, com plumagem amarela,

bailava e se exibia em passarela,

beijando as belas rosas do quintal.

Um dia foi embora e, desde então,

fez-me infeliz, partiu meu coração,

Lembrando-me do beijo que eu não dei.

No peito, agora, invade-me a certeza,

que o meu jardim secou, sem a beleza,

daquele beija-flor que eu tanto amei.

Aila Brito

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Inspirado no soneto AS COISAS

(Horácio Dídimo)

AS COISAS

As coisas são assim: intempestivas,

Não acontecem como a gente quer,

Nem mesmo como não nos aprouver,

Desconsideram nossas tratativas.

As coisas acontecem sem sequer

Olhar as nossas vãs estimativas

E ouvir as fracassadas negativas,

O mundo que se vire, se puder.

As coisas acontecem como querem,

Menosprezando toda intromissão,

Não ligam para nada que disserem.

As coisas não aguardam concessão,

Alheias, se nos brindam, se nos ferem,

Não pedem nunca a nossa opinião!

Luciano Dídimo

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Inspirado no soneto ETERNA PRESENÇA

(Mário de Andrade)

VOLTEIOS EM TEMPO DE VALSA…

A mente, em poderosa parceria

com cenas de emoção de cor intensa,

refaz o meu passado de alegria,

redesenhando a sua anil presença.

O tempo rebobina a melodia…

o acorde, com fermata, traz suspensa

a nota magistral que nos fazia

eternizar, no gesto, a benquerença.

No instante em que a memória tece a ponte,

você ressurge inteiro, no horizonte,

e a dança enlaça o corpo e os corações.

Volteia, na lembrança, a doce valsa,

tão vívida, que não diria falsa

a imagem que transcende as ilusões.

Elvira Drummond

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Inspirado no Soneto: Sá de Miranda

“E TUDO MAIS RENOVA, ISTO É SEM CURA”!

“O SOL É GRANDE”

Cai o Sol no horizonte. Fim de tarde!

A noite lentamente se anuncia

Ao tom da Natureza, em nostalgia,

E com a passarada em pleno alarde.

.

Nessa mudança não terá retarde

Do curso natural, no dia a dia,

E sem que se relegue essa magia

Tudo passa sem volta e em chamas arde.

.

É a metamorfose da existência

Feito a lei plena e viva do Universo

Que justifica a nossa transcendência.

.

Nada é perene! E nessa contextura

O pensamento não será diverso:

“E TUDO MAIS RENOVA, ISTO É SEM CURA”!

José Walter Pires

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Inspirado na obra Tragédia no Lar

(Castro Alves)

CARTA DE ALFORRIA

Sou como a garça triste à beira-rio

a estremecer de frio na orvalhada

da solidão que leva o tudo ao nada,

da vida escravizada em desvario.

 

Nas noites solitárias, um vazio,

um lamento, uma lágrima sangrada

do corte feito pela chibatada

das duras perdas, algo tão sombrio.

 

Vou libertar-me desta vil clausura,

romper as grades desta desventura

e voltar a viver em harmonia.

 

Os grilhões da tristeza irei quebrar,

fazer-me livre pelo muito amar,

pois sei, que o Amor é carta de alforria.

 

Paulino Lima

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(Inspirado no duplo soneto que tem o mesmo título, de Raul de Leoni.)

FELICIDADE

Eu, em Pedreiras, quando adolescente,

li, de Leoni, “Luz Mediterrânea”;

depois, sonetos numa coletânea,

que me dera uma prima, de presente.

Ao ler “Felicidade”, minha mente

mostrou-me, numa cena extemporânea,

Já residindo em área litorânea,

de ocorrência real muito recente...

E eis-me, embora saudoso, a desfrutar

poéticas visões à beira-mar,

que exponho nos sonetos que hoje crio,

os quais me causam mais felicidade,

se menciono neles a cidade

onde fui tão FELIZ, à beira-rio.

kleber Lago

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Inspirado no soneto Tempos idos

(AUGUSTO DOS ANJOS)

CONTESTAÇÃO

Renasce a mágoa sempre que repenso

sobre o desfecho imposto pela vida:

um dia, num instante muito tenso,

encontrarei as sombras da descida...

Eu imagino e logo perco o senso...

meus sonhos enterrados, sem saída,

somente encontrarão o breu intenso,

toda essa perspectiva me invalida!

Não posso tolerar o terrorismo

que anula os tempos idos num abismo,

esse pavor me arrasa por inteiro.

Jamais aceito o adeus ao meu passado

que, num porvir, será concretizado

pelas mãos calejadas de um coveiro...

Janete Sales

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Verso inicial Vinicius de Moraes:

"De repente... não mais que de repente

DE REPENTE

"De repente... não mais que de repente

nos apresenta a vida um novo amor,

um novo empreendimento ou nova dor.

O destino é uma força surpreendente!

O saudável se torna decadente.

Quem é feliz se torna sofredor.

Lembra a vida um painel multicolor

que vai mudando tudo à nossa frente.

De de repente em de repente, a vida

altera nossos dias em seguida,

com jeito de quem faz uma trapaça.

Tudo pode mudar em um segundo

e a gente, ante as mudanças deste mundo,

mal vê que, de repente a vida passa.

Arlindo Tadeu Hagen

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Inspirado no poema de

Álvares de Azevedo

PÚRPURO PECADO

Meu cavaleiro em prata de armaduras,

Vens de que reino, quais longínquas terras?

Por que a sangrenta espada tu seguras

Na pose angélica incensando as guerras?

Meu Lancelote, fala quem procuras,

Que triste vítima que ao Sol enterras?

Por que o punhal de trevas tão impuras

Profana o sacro graal das Inglaterras?

Caronte, bem normal seria o corte

De teu gelado beijo rumo ao céu,

Noite de amor, de carne a mantra e morte...

Mas és o herói do púrpuro pecado,

O meu vampiro virgem, flor-donzel,

Um amor impossível do passado!

Rommel Werneck

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(Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,)

Inspirado no soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor

"Gregório de Matos"

REBANHO COMPROMETIDO

Bem sei que desde as épocas de antanho,

de mínima instrução ou quase nada,

para manter as rédeas de um rebanho

a voz do líder sempre foi sagrada…

Vê-se hoje em dia um pastoreio estranho,

indícios de uma fé politizada...

e as minhas convicções eu não barganho.

“Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada”.

E não pretendo, custe o que custar,

trocar os sacrifícios de um altar

pelas benesses do prazer mundano…

Serei, Senhor, fiel a qualquer custo

a um bem maior: o ensinamento augusto

de Cristo, Rei dos reis e soberano!…

Edy Soares

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Inspirado no soneto O CIRCO

(Antero de Quental.)

NA SELVA

Quando ingressei no meio deste bando

Eu, imaturo e sem experiência,

Não conhecia nada da Ciência,

Contudo, estava sempre me esforçando.

Lembro-me bem de alguns momentos quando

Eu comecei a usar a inteligência

E a ter perseverança e paciência

Para assumir os cargos de comando.

No dia em que cheguei, dentre panteras,

Leões, guepardos, lobos e outras feras,

Timidamente fiz a minha estreia,

Mas pouco a pouco fui tomando gosto

E conquistei um alto e ilustre posto,

Pois sou agora o líder da alcateia.

Gilliard Santos

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"Na solidão suprema dos conventos"

(Inspirado no soneto

de ALPHONSUS DE GUIMARÃES)

"NA SOLIDÃO SUPREMA DOS CONVENTOS"

"Na solidão suprema dos conventos"

Os sinos choram tristes badaladas.

As torres sondam negros firmamentos...

Parecem com visões alucinadas.

As folhas mortas riscam as escadas.

E reza longamente a voz dos ventos...

E as sombras altas... tão compenetradas,

Escondem-se nos ares nevoentos.

Os galhos fazem teias assombrosas.

São como tenebrosas urdideiras...

E soam as corujas lastimosas...

E soam cotovias agoureiras...

E as velas reticentes, lacrimosas,

Exprimem a Paixão das Sextas Feiras.

Paulo Maurício G Silva

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Inspirado no Soneto "NÃO PODER TOCAR"

(Plácido Amaral)

ARREPENDIDA

Claramente vivendo para amar-te

E, ao perder-te, também fiquei perdido,

Tu pairavas da "lua para marte,"

Vi distante de ser correspondido

Esse amor que acenou pedindo aparte.

Donairoso, apurado e ressentido,

Por, em partes, saber que a tua parte

Fez-me assim a sofrer desassistido.

Drapejando nos céus do desatino,

Rastejei pelas sendas do destino,

Perfilando minh'alma destruída.

Perfumei o jardim do coração

Com o sândalo "a essência do perdão",

Para enfim receber-te arrependida.

Troya D'Souza

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Baseado no soneto de Bocage, intitulado

"Quantas vezes, Amor, me tens ferido?"

FERIDA DE AMOR

Abriste no meu peito atroz ferida,

De amor nem sei se posso mais chamar-te;

Às vezes tens curado a minha vida,

mas lembra-te que amar é mais que uma arte.

Não sei sorrir na dor de uma partida,

pensei guardar em mim um baluarte,

Porém, agora, ó fonte desprovida,

Não sei mais a canção do amor cantar-te.

O teu orgulho afoito não tem freio,

Por que essas desmedidas decisões?

Teus lábios provarão o próprio anseio.

Se entre o querer ou não estás sem norte,

E inclinas mais à dor e às ilusões,

só resta lamentar o caos da sorte!

Marlene Reis

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Inspirado no soneto UM SONETO

(EUCLIDES DA CUNHA)

APELOS DIVINAIS

Na folha em branco do ideal futuro,

eu me ajoelho, em devoção à santa

que enverga a mais imaculada manta

da santidade, virginal, eu juro

que não me rendo à vastidão do escuro,

incrédulo, ouço que a saudade canta,

quanta harmonia em seu solfejo, quanta...

que o coração já não se sente duro.

A minha diva habita a realeza,

sem se importar, sequer, se a natureza

revela amor nos corações ateus

que ao divagar por infindáveis trilhas,

eu vejo que as sublimes maravilhas,

a contragosto, irão curvar-se a Deus!

Adilson Costa

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Inspirado no soneto: Soneto VII

Cláudio Manuel da Costa

MALTRAPILHO

O sol, esmorecido, agora abraça

resquícios do verdor, na terra aflita,

enquanto o vento, outrora ledo, grita

em meio a folhas secas e fumaça.

Ao contemplar a imagem da desdita,

mergulho na memória e me estilhaça

o abismo horripilante da desgraça

em que a divagação se precipita.

Dentro de mim aflora um maltrapilho

perante a dor causada pelos danos

no chão desfigurado que palmilho.

Procuro nem julgar o horror dos planos

porque se a natureza perde o brilho,

também conservo meus labéus humanos...

Jerson Brito

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Inspirado no soneto O Assinalado ( Cruz e Souza)

“Tu és o louco da imortal loucura”,

“os teus espasmos imortais de louco!”

INSANAMENTE

“Tu és o louco da imortal loucura”,

a granjear nos ecos do gemido

o riso por saber-se um oprimido

que encontra no carrasco a própria cura…

E nesses devaneios, tens cumprido

a extrema semeadura da tristura

no frio da manhã sem sol, obscura,

que só no breu da noite vê sentido…

És vítima ridente, alegre, grata

a suplicar aos prantos, quase rouco,

não faltem nunca a ti, luas de prata...

E assim, poeta, vais, a pouco e pouco,

cantando à solidão que nutre e mata

“os teus espasmos imortais de louco!”

Luciana Nobre

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Verso de GUILHERME em meu Soneto 7.795

Obra: Nós, Soneto XXXII.1917.

"Que meus barquinhos, lá se foram eles."

Caro Guilherme, está chovendo, agora;

gelo desmancha e faz chorar vidraça;

quanta lembrança, em minha infância mora,

dançar na chuva, até trazia graça...

-

Nas enxurradas, punha amor de outrora,

em cada barco, o beijo lá da praça,

do meu desenho, ria, sem demora.

Cada bilhete, triste dor enlaça.

-

Foram-se os sonhos! Hoje eu me debruço;

papéis molhados? Vim lembrar daqueles...

Envelheci, mas vou deter soluço.

-

Sem medo, ouvir trovões, saudade alcança;

- {Que meus barquinhos, lá se foram eles}.

Tempo vivido, vale ter lembrança.

-

Silvia Araújo Motta

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POETA MENOR

“Sou poeta menor, perdoai!”

Manuel Bandeira, in Testamento.

Meu patrono, na egrégia academia,

da palavra, foi mestre sem igual!

Moderno, com viés tradicional,

compunha sem prender-se à teoria.

No começo, seguindo a maioria,

lavrou sonetos com rigor formal.

Em Vinte e Dois, entrou no Vendaval,

deu rumo novo à sua poesia.

Foi crítico ferrenho da corrente,

que esquadrinhava o verso e, tão somente,

valorizava a forma pela forma.

Manuel Bandeira, em sua trajetória,

escreveu, com louvor, a rica história

do artista que, no tempo, se transforma.

Fernando Antônio Belino

Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO
Enviado por Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO em 07/04/2023
Reeditado em 06/09/2023
Código do texto: T7758443
Classificação de conteúdo: seguro
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