Renasce a mágoa sempre que repenso
sobre o desfecho imposto pela vida:
um dia, num instante muito tenso,
encontrarei as sombras da descida...
Eu imagino e logo perco o senso...
meus sonhos enterrados, sem saída,
somente encontrarão o breu intenso,
toda essa perspectiva me invalida!
Não posso tolerar o terrorismo
que anula os tempos idos num abismo,
esse pavor me arrasa por inteiro.
Jamais aceito o adeus ao meu passado
que, num porvir, será concretizado
pelas mãos calejadas de um coveiro...
Janete Sales
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CONTESTAÇÃO
Soneto
inspirado no Soneto:
"Não enterres, coveiro, o meu Passado,"
(Tempos idos - AUGUSTO DOS ANJOS)
ATIVIDADE ABRASSO
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Academia Brasileira de Sonetistas
Compor um soneto decassílabo sáfico
ou heroico desenvolvido a partir
de uma obra de autoria do seu patrono.
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(Tempos idos - AUGUSTO DOS ANJOS)
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Não enterres, coveiro, o meu Passado,
Tem pena dessas cinzas que ficaram;
Eu vivo dessas crenças que passaram,
E quero sempre tê-las ao meu lado!
Não, não quero o meu sonho sepultado
No cemitério da Desilusão,
Que não se enterra assim sem compaixão
Os escombros benditos de um Passado!
Ai! não me arranques d’alma este conforto!
– Quero abraçar o meu passado morto
– Dizer adeus aos sonhos meus perdidos!
Deixa ao menos que eu suba à Eternidade
Velado pelo círio da Saudade,
Ao dobre funeral dos tempos idos!