In utero
Quem sabe…? Talvez tivesses, ó sombra, sido
Nalgum outro plano o que não pude ser –
Contemplo-te, como se pudesses dizer
Como serias se não houvesse eu nascido
E me pergunto: o que terias conseguido
Se fosses tu em meu lugar a descer?
O que terias, ou farias, se, ao nascer,
Corpo, alma, sentidos houvésseis recebido?
Feto inerte! Óvulo não fecundado!
O vejo, mas não o entendo… O que diria
Do vazio do Inane despertado?
Ah, abstrato não concebido! O que diria
A mim, daí em teu não-existir encerrado?
O que diria? O que faria? O que seria?