Saudade engomada

O ferro de engomar (carvão em brasa)

A passear no linho, ia e vinha...

Pelo cós, pela gola e bainha...

Rodeando o botão, fora da casa.

 

Minha mãe a rezar a ladainha,

Encostada na tábua de engomar,

Soprava o fero em brasa, a fumaçar...

Como se a boca fosse ventoinha.

 

A camisa de linho-de-algodão,

Vestiu minha primeira cumhão

E a do irmão mais novo do que eu.

 

Não há mais ferro à brasa hoje em dia!

Só me resta o calor da poesia,

E a saudade que o tempo esmaeceu.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 05/04/2023
Código do texto: T7756648
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