TRILHA DE SONETOS XCVII- "FANATISMO", DE FLORBELA ESPANCA

*TRANSITORIEDADE*

“A mesma história tantas vezes lida”

converte os débeis sonhos em ousados,

dos álibis suscita vis pecados,

desmistifica o engano da partida.

Na mesma velha estrada sem saída,

a pedra faz-se alívio aos pés cansados;

colhe-se a sorte nova em velhos dados,

mas morre o amor na palra embrutecida.

Estranhas regras, louco e insano jogo,

saudade que nos queima como fogo

fenece sob o afã da noite escassa...

Se sombra ou luz, a história corrobora,

num verso tão patente quanto a aurora:

“tudo no mundo é frágil, tudo passa...”

Geisa Alves

*EXPIAÇÕES*

"A mesma história tantas vezes lida"

É muito mais do que a necessidade,

De remover a aurora distorcida

Que impede o ser de crer na eternidade.

O sofrimento efêmero da vida

Revela os astros da felicidade,

Ao transformar o que era luz vencida

Numa constelação, na intimidade.

Um sonho conclamado ao plenilúnio,

Às margens espinhosas do infortúnio,

Traduz o medo e a negação da massa

De se perder num Júpiter dos erros

Com a promessa à frente dos enterros...

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."

Ricardo Camacho

*TEMPORALIDADE*

"A mesma história tantas vezes lida"

Canta e recanta o amor que mora em mim.

Teu corpo esguio e lábios de carmim

São, na verdade, o sol da minha vida.

Minha alma de paixão está rendida...

Nunca senti intensidade assim;

Não hei de suportar o amargo fim

Dessa atração, veraz, retribuída.

Porém na vida tudo se transforma,

O tempo se encarrega e muda a forma

Quando a felicidade fica escassa...

Devo libar o adusto cio teu,

Pois o poeta, em versos, escreveu:

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa".

José Rodrigues Filho

*INVENTÁRIO*

"A mesma história tantas vezes lida"

Está gravada, viva, no diário

De minha atuação, evoluída,

Nas páginas vitais sob o estelário.

Relevos de suor da minha vida

Escorrem de um instante solitário,

Molhando a folha, análoga à ferida,

Num marco resultante do inventário.

E nada... nada foge, desde Roma...

A todo instante, mais um fato assoma

No cume da alegria ou da desgraça...

E tudo... tudo fica registrado

No livro do destino, o mais sagrado...

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."

Ricardo Camacho

*GANGORRA DO TEMPO…*

“A mesma história tantas vezes lida,

renova a sua cor, a cada vez…

num dia ganha tom de despedida;

em outro, o tom de anil, que o céu se fez.

Em dias nebulosos e sem vida,

parece transmutada em aridez;

na luz da aurora, a história vem tingida

com tons suaves, próprios dos miguês.

Assim transcorre o tempo… pendular…

gangorra que transfere de lugar

da nuvem branca ao cinza da fumaça.

A exemplo do que faz a melodia,

que vai do agudo ao grave, em harmonia,

"tudo no mundo é frágil, tudo passa..."

Elvira Drummond

*A HISTÓRIA DE DORMIR*

"A mesma história tantas vezes lida"

Ficou gravada na infantil lembrança,

Aquela mesma trama repetida

Sempre embalava o sono de criança.

A doce voz materna, revestida

De afago que trazia confiança,

Que, mesmo de cansaço acometida,

Causava sensação de segurança.

As mesmas personagens repetiam

As falas quase sempre em mesmo tom...

História que no tempo se transpassa.

Belíssimas gravuras coloriam

Minha imaginação... Que tempo bom!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."

Luciano Dídimo

*LEITURA DE UM OLHAR*

"A mesma história tantas vezes lida",

no manual do teu olhar faceiro,

é feito o sol que incide, por inteiro,

e aquece, em frenesi, a minha vida.

Minha alma se refaz na luz sorvida

dos olhos teus, e o encanto prazenteiro

conduz o meu desejo, qual braseiro,

no impulso de te amar enlouquecida!

E quando a noite chega, a releitura

é pura poesia, na feitura

do amor que o teu olhar ao meu repassa.

Mas tudo tem um prazo, um vencimento...

Reflito a brevidade do momento,

"tudo no mundo é frágil, tudo passa"!

Aila Brito

*ALERTA*

"A mesma história tantas vezes lida"

De tantos personagens do presente,

Posudos, numa lista carcomida

De grandes sonetistas, de repente...

No corpo dessa relação vencida,

Há muitos iludidos, tristemente,

Na trilha de uma bruma enegrecida,

Atados na tendência inconsequente!

Quando se enxerga um caso de ludíbrio,

Nota-se a farsa e ausência do equilíbrio

Faz do parnaso um lixo da desgraça

Que põe em "xeque" até o bom poeta

Que, em breve, tornará à luz repleta...

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”

Ricardo Camacho

*TUDO PASSA*

"A mesma história tantas vezes lida"

no ardor do teu olhar, no sentimento,

reafirma o nosso amor e o juramento

de caminharmos juntos nesta vida.

Meu coração o teu amor valida...

Portanto na alegria ou no lamento

vivemos nós unidos no momento

compartilhando com igual medida.

Mas sei que a vida é breve, não olvido...

Importa-nos a voz do coração,

se o amor nos basta, deve ser cumprido

na plenitude... com ardor e graça,

trazendo à mente a sábia reflexão:

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa"!

Aila Brito

*EFEMERIDADE*

"A mesma história tantas vezes lida"

De amores que sonhar sequer eu tento,

Deléveis como a breve brisa ou vento,

Que os repensar a vida nos convida.

Um dia amei assim, saí ferida,

Pois me entreguei inteira ao sentimento,

Profundas marcas hoje trago, ostento

E andejo estrada afora só, perdida.

Porém o amor é escasso, um bem precário,

Que o guardo na memória, em um sacrário,

Por ter sentido o seu fulgor e graça...

Pouco me importa a imensa dor que gera,

Se é feito de paixão ou de quimera...

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."

Edir Pina de Barros

*LUTO*

"A mesma história tantas vezes lida"

agora encanta os átrios do passado;

morreu o antigo sonho afortunado

num átimo de gozo e despedida.

Relembro e sinto o beijo apaixonado,

o olhar em fogo vivo, a voz gemida.

A minha boca seca não olvida

o gosto dentre a fúria e dentre o agrado.

Nos vagos de um instante diminuto

o amor tornou-se insípida fumaça;

sem entender ainda sofro e luto,

mas angario apenas crença lassa:

com exceção de meu tristonho luto,

"tudo no mundo é frágil, tudo passa..."

Geisa Alves

*MEU DILEMA*

"A mesma história tantas vezes lida"

aflige o coração que, renitente,

recusa as vozes roucas do presente

e busca, em braços langues, ter guarida.

As marcas da promessa descumprida

turvaram o sorriso refulgente.

No entanto, avassalado e descontente,

permito que a amargura me divida.

As emoções sustentam meu dilema

e aceito, inconsequente, a força extrema

do ardor descomunal que me devassa.

Cansada desta minha teimosia,

a sensatez murmura à nostalgia:

"tudo no mundo é frágil, tudo passa..."

Jerson Brito

*LEMBRANÇAS*

"A mesma história tantas vezes lida,"

aos poucos, enevoa o meu destino...

como esquecer a nossa despedida

que sobressai em tudo que maquino?

Assim que te perdi, perdi a vida,

ganhei a solidão, fiquei sem tino,

agora estou num beco sem saída,

pois todo olhar que vejo, eu te imagino!

Cansei de te esperar de madrugada,

dentro da nossa casa abandonada,

recanto em que a saudade só me enlaça!

Não há surpresas, sim, eu pressuponho,

distante está o amor, o nosso sonho,

“tudo no mundo é frágil, tudo passa...”

Janete Sales Dany

*DOIS POLOS*

"A mesma história tantas vezes lida"

E, mesmo assim, prossegue o devaneio;

Será que nós vivemos num torneio,

Sem tempo para nada, em plena lida?

Analisando assim, de fato, creio!

Que o mundo vive em eternal corrida,

Mas para que correr, sem ter medida?

Mais vale caminhar, em um passeio...

A vida passa com velocidade,

O tempo come nossa tenra idade,

O que era fogo, vira só fumaça.

Infelizmente, todos nós morremos,

Nascer, morrer, que polos tão extremos!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa."

Douglas Alfonso

*EFERVESCÊNCIA*

"A mesma história tantas vezes lida"

E permaneço dando murro em faca,

Minha alma está, um tanto, destruída,

Amargurada, enlouquecida e fraca.

Fui descartado... quero a despedida...

Mais uma noite, dessas que destaca

A efervescência, bela e desmedida,

Que no outro dia causa até ressaca.

Enfim, querida, venha por favor,

Junte os resquícios de um antigo amor,

Conceda-me a honra dessa amável graça.

Estou morrendo todo dia, um pouco,

Já não importa, sou bastante louco,

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa."

Douglas Alfonso

*INFINITO AMOR*

"A mesma coisa tantas vezes lida"

Falando deste amor sincero e puro,

Convém acreditar, meu bem, eu juro!

Nossa odisseia sempre foi florida.

Carrego no semblante a pretendida

Mensagem de esperança no futuro...

A claridade vencerá o escuro,

Prosseguiremos juntos, nesta vida.

Enquanto morrem homens, sob o céu,

Persiste o nosso amor, tenaz troféu,

Que rompe o desencarne e até perpassa

A morte e seus portais, sem heresia...

Embora se confirme, em poesia:

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa".

José Rodrigues Filho

*DÚVIDA*

"A mesma história tantas vezes lida",

nos versos que escrevi, nos quais eu canto

o encanto de te amar e amei-te tanto

que me encontrei, porém fiquei perdida.

Perdi-me nesse amor que nos convida

a mergulhar no mar do terno encanto,

no qual eu mergulhei sem cisma, espanto,

sem medo de ferir, sair ferida...

Ó meu amor - pretérito e presente -

és o nascer do sol no meu poente,

saudade que hoje sorvo em fina taça.

Os anos se passaram... me pergunto

se é sustentável esse tal conjunto:

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."

Edir Pina de Barros

*DESILUSÃO*

"A mesma história tantas vezes lida,"

no livro dos eternos dissabores,

revela, aos olhos, versos sedutores,

mas à alma mostra a dor brutal da vida.

São tantas horas agres, sem saída,

insultos e cinismos opressores...

A tudo sinto e como as velhas flores,

emurcheci, quedei-me amortecida.

Em lágrimas engulo o meu pesar,

nem mesmo tenho forças para orar,

meu coração ressente a mágoa crassa.

Quem dera crer na voz da primavera,

que em meu tristonho inverno diz: - Espera,

"tudo no mundo é frágil, tudo passa..."

Geisa Alves

*O LIVRO*

"A mesma história tantas vezes lida,"

Está no livro da existência humana,

Revista, na leitura, a própria vida

Para vencer a dor cotidiana

Que agride e marca - oh, intima mordida! -,

De forma singular e soberana,

O ser que vive a fase enegrecida...

Ou seja... bem distante do nirvana!

Há muitos na mesmíssima ventura

De analisar nuances de tristura

Nas páginas sensíveis da desgraça...

Porém, com fé e persistência, os dois,

O que passou será paisagem, pois

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”

Ricardo Camacho