Soneto para um pedaço de pão
Do milagre do pão há um sobejo
Rodeado de mosca e de formiga.
Parecia zombar da fome amiga,
Do mendigo que fita com desejo.
A formiga e a mosca vão pra briga
Pelo resto de pão de cada dia,
Que rolou pelo chão da padaria,
Por descuido da boca que o mastiga.
O mendigo rumina a própria língua,
Pra não ter que dizer: "morri à míngua,
Apesar de ter pão ao meu alcance."
A formiga e a mosca vão-se embora...
O pedaço de pão se evapora...
E a escada da fome sobe um lance.