O PALHAÇO
Ontem lhe arrancara a vida a mulher amada,
hoje desespera-se com a filha ardendo em febre;
escuta ao lado seu nome ovacionado pela plebe,
reclamam o palhaço, a diversão da meninada,
Do camarim a pintura lhe cai lacrimejada
e mostra na arena uma tristeza alegre;
o amor àquela gente não deixa que se entregue
e com caretas canta e ri - hoje tem marmelada?!
Aos risos da galera espalha sua graça
e disfarça na maquiagem num sorriso inteiro
um indefinível pesar que a angústia traça...
Permite-se aquela dor - um punhal cravado -
e, enquanto cambalhotas dá no picadeiro
rasga-lhe o peito o coração ensangüentado.
Chaplin, dez. 07