Eu

Não conto, desta vida, as primaveras,

Nem invernos, outonos, nem o estio;

Eu vago igual fantasma, um vulto esguio

Que provém doutros planos, doutras eras...

Assassinei com gosto as vãs quimeras

E sibilei no vento um assovio,

Que reverberou pelo breu vazio

Das órbitas longínquas das esferas...

Por debaixo da minha veste preta,

Munido das areias da ampulheta,

Me sinto a própria Morte dos meus sonhos...

Os ceifei sem temer, sem restar um,

E destinei-os então vala comum

Em funerais sombrios e medonhos...

Daniel Guilherme de Freitas
Enviado por Daniel Guilherme de Freitas em 15/03/2023
Código do texto: T7740828
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