Eu
Não conto, desta vida, as primaveras,
Nem invernos, outonos, nem o estio;
Eu vago igual fantasma, um vulto esguio
Que provém doutros planos, doutras eras...
Assassinei com gosto as vãs quimeras
E sibilei no vento um assovio,
Que reverberou pelo breu vazio
Das órbitas longínquas das esferas...
Por debaixo da minha veste preta,
Munido das areias da ampulheta,
Me sinto a própria Morte dos meus sonhos...
Os ceifei sem temer, sem restar um,
E destinei-os então vala comum
Em funerais sombrios e medonhos...