Dois poços
Ah, meus suaves olhos de criança
Que espelharam, um dia, a cor dos mundos,
Hoje são como dois poços profundos
Em que trepida a luz, que nunca alcança!...
Na roxidão das horas que os avança,
- Pois já viram de tudo, os moribundos -
Me confessam desejos oriundos
Da mais intensa falta de esperança!...
Vestindo desde cedo o negro luto,
Por esta triste vida dum adulto
Que nem sentido vê em os abrir,
Choram na escuridão dos tempos idos,
Como dois poços gastos e esquecidos
De rarefeitas águas, a se esvair...