Cigarro

As grisalhas montanhas no cinzeiro

Acumulam-se, erguidas de memória,

Na fundação da trilha predatória

Em que me perco, e sofro por inteiro...

Cada trago é morte e derradeiro,

Não almejo mais daqui qualquer vitória;

Só tive, nesta vida tão ilusória,

O amor que sepultei por ser coveiro...

Mas por que fumo tanto, por que tanto?...

Por que me verte quente o mal do pranto?...

Por que desta vontade estranha e louca?...

Talvez, em cada ponta de cigarro,

Desesperado, busco - quão bizarro -,

Sentir teu gosto amargo em minha boca!...

Daniel Guilherme de Freitas
Enviado por Daniel Guilherme de Freitas em 10/03/2023
Código do texto: T7736916
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