Cigarro
As grisalhas montanhas no cinzeiro
Acumulam-se, erguidas de memória,
Na fundação da trilha predatória
Em que me perco, e sofro por inteiro...
Cada trago é morte e derradeiro,
Não almejo mais daqui qualquer vitória;
Só tive, nesta vida tão ilusória,
O amor que sepultei por ser coveiro...
Mas por que fumo tanto, por que tanto?...
Por que me verte quente o mal do pranto?...
Por que desta vontade estranha e louca?...
Talvez, em cada ponta de cigarro,
Desesperado, busco - quão bizarro -,
Sentir teu gosto amargo em minha boca!...