Soneto em tom de ODE a um objeto/ser
**ODE À ESTATUA DA PRAÇA**
Sempre escutou meu lamento,
silente e meio sem graça,
em meu divã de cimento,
a estátua inerte da praça.
Sem lhe garantir provento,
acolhe e, nunca rechaça
o seu paciente sedento,
de peito nu, sem couraça.
A inerte amiga me escuta
e nada pede em permuta,
apenas ouve o que falo...
Até que a noite me afaga
e a luz da praça se apaga...
eu adormeço... e me calo!
Edy Soares
**ODE AO BATOM**
Batom, que a mim confere mais rubor!
Em cor e forma, traz o elã da rosa...
a todo o tempo e com maior fervor,
me faz faceira, bela e glamorosa!
Comparo-te com uma bela flor,
de ti dependo para ser formosa,
a ti dedico, em verso, o meu louvor,
e espero, em troca, estar feliz e airosa.
Desejo a boca sempre colorida,
realça seu contorno, exalta o brilho...
Até no instante findo, a ti, batom,
estendo o preito: modo despedida.
Almejo teu aporte em todo o trilho,
que a vida sem glamour reduz o tom!
Basilina Pereira
**ODE AO VINHO**
Rosé ou branco, tinto ou espumante
e ainda tem o verde e o licoroso...
Um vinho que se bebe em pleno gozo
congraça a vida, o amigo, o irmão, o amante.
Fruto da terra, vivo e rutilante,
desordenadamente virtuoso,
no aroma já se presta ao antegozo,
revigorando os ares e o semblante.
Taça dos deuses, serve-se aos amores,
às noites de desejo satisfeito
e ao júbilo dos homens vencedores.
Um vinho não se mede em quantos anos,
se novo ou velho, vale e tem proveito
quando se brinda aos bens quotidianos!
Geisa Alves
**ODE AOS LIVROS**
No véu da noite e à luz de um lindo dia,
Os livros são objetos sacrossantos,
Desde que abertos, secam muitos prantos
Das faces cheias de melancolia...
Ao mundo levam mais sabedoria,
Simbolizando relicários santos...
Espalham luzes nos vitais recantos,
Disseminando prosa e poesia...
São partes vivas da literatura
Que se eterniza graças à leitura
Tão dedicada de olhos mais brilhantes...
Em suas páginas, a vida eterna
Ganha o sentido fora da caverna,
Após saírem, sempre, das estantes.
Ricardo Camacho
**ODE AOS CÃES**
Eu pretendo viver frequentemente,
de muitos animais, assim cercado.
De preferência, os cães, melhor presente
que Deus, durante a vida, tem me dado.
Não sei de ser algum que experimente
uma presença próxima do lado
de um cachorro e, depois, passivamente,
prossiga seu caminho inalterado.
Verdadeiros modelos de amizade,
sabem os cães mostrar fidelidade
em abanos de rabos e lambidas.
O cão é um ser melhor que o ser humano,
a parte alegre de um divino plano
para tornar melhor as nossas vidas.
Arlindo Tadeu Hagen
**ODE À PINGA **
A pinga, em prosa e verso decantada,
é santa bagaceira legendária,
eu bebo a jeribita até gelada,
pra mode prevenir gripe e urticária.
E, a fim de garantir dose diária,
casei com a branquinha espevitada,
de nome sugestivo Januária,
que não enjeita amor e nem rodada.
O bom pinguço nunca discrimina
a cana, a bagaceira, a canjebrina,
pois é fiel amigo da cachaça.
Bebendo a vida inteira, ele acredita
que o culto da abrideira e da birita,
bambeia... mas se cai, do chão não passa!
Paulo Cezar Tórtora
**ODE À MINHA TERRA**
Nasci em Santo Amaro, na Bahia,
Lá fui menino, meus melhores anos,
Cresci jogando gude todo dia,
Curtindo sonhos, matutando planos.
Um lugar singular, que tem magia,
Sua arte atinge os sóbrios e os insanos,
Quem não canta nem pinta, faz poesia,
Viram canção a dor e os desenganos;
Quem nasce ali se orgulha. O visitante
Fica de boca aberta – ele acha incrível
A vibração das artes, vira amante.
Não tem lugar melhor que ali, nem pode,
Com tantas evidências, impossível.
Aqui o meu tributo, em forma de ode.
Raymundo Salles
**ODE À INFORMAÇÃO**
Sentado na calçada, fico atento
a todo o quarteirão da minha rua,
em busca da verdade nua e crua,
razão do meu maior contentamento.
Na lupa, dei depressa um polimento,
que a lente muito usada, às vezes sua,
singela, não alcança a bela lua,
mas cataloga todo o movimento.
Computadores, câmeras, dispenso
e entrego-me ao prazer bastante intenso
de contemplar o bairro, volta e meia,
pela janela aberta que autoriza
entrar a mais amena e doce brisa
de comentar, feliz, a vida alheia.
Adilson Costa
**ODE À ETERNA CONFIDENTE…**
Pequena e reservada, ali… no canto…
à espera de mostrar a serventia,
é tão humilde e afável que extasia,
silenciosa ao máximo, garanto!
Tamanha discrição, em seu recanto,
atesta a indiscutível parceria.
Amiga confidente (quem diria?)
que assiste a cada tombo em que levanto.
Corrige-me o vacilo e algum tropeço,
são tantos, que confesso: até esqueço!
No acaso em que me perco, vem… se agacha
e anula meus enganos (que destreza!),
polindo as cicatrizes com leveza.
Por isso canto, em versos, a borracha!
Elvira Drummond
**ODE AO LEQUE **
“Toujours tel il apparaisse
Entre tes mains sans paresse”
Stéphane Mallarmé
Hendecassílabo (3ª, 5ª, 8ª e 11ª)
Se o verão me lavra de atroz nevralgia,
De suor em frasco, fracasso à saúde,
Há na moda um item de chique atitude
Que oferece frágil fração de ousadia...
O flabelo livra a atmosfera de grude
Numa brisa em safra de ardil fantasia...
É gostoso o leque abanar em folia
Nas fragatas, praias em tal plenitude...
Glorifico o leque da China e da França
Que, retrátil, bravo seu vrá escalavra
Os naufrágios destes tornados em dança...
E também os leques, em tempos antigos,
Transmitiam franco sinal sem palavra
A rapazes que eram bem mais do que amigos!
Rommel Werneck
**ODE À LAGRIMA**
Amo-te nívea lágrima serena
Que nos meus olhos nasce e escava o rosto,
Por causa de um penar que, por suposto,
Somente um grande amor assim condena.
E quando cais em minha tez morena,
A traduzir a minha dor, desgosto,
Deixando o meu sofrer, ao mundo, exposto,
Enquanto a luz da paz a mim acena.
E como não te amar se bem me fazes,
Alívio tu me trazes nessas fases
Difíceis de seguir o meu caminho.
E quando, calma, brotas da alegria,
Ó filha da emoção, tu és poesia,
O colo divinal no qual me aninho.
Edir Pina de Barros
**ODE AO CUSCUZ**
Ó rosa flava, viva, delirante...
só de te olhar eu já me refestelo...
o olfato te circunda qual cuitelo
e o paladar se aguça em um instante.
Pareces um poema, o mais singelo,
por que eu anseio de alma fumegante.
Cada sentido, um todo doravante,
não sei se te devoro, leio, ou velo...
A tua cor alegre, flavescente,
dissolve-me a tristeza, qual manteiga,
tamanha é esta hipnose que seduz...
Como é impossível ser-te indiferente!
Um cafezinho fresco... ah... como arreiga
o meu desejo à mesa por cuscuz!
Luciana Nobre
**ODE AO PET AMIGO -JASPE**
Sem ti, amigo, a vida é dolorosa;
os dias são tristonhos, sem magia...
Quisera tê-lo aqui... (eu bem queria!)
e reviver a história prazerosa!
Relembro a tua lida prestimosa,
a terna e benfazeja companhia.
Tua fidelidade e a garantia
de proteção, na faina fervorosa.
Teu zelo permanente, na vigília,
em defender a todos nós - família -
ganhou morada em cada coração.
Partiste e me deixaste na saudade...
A ti, amigo Jaspe, de verdade,
a minha mais sincera gratidão!
Aila Brito
**ODE AO VIOLÃO **
Saudoso e velho amigo violão,
Das noites de luares cor de prata,
Que me embalava em doce serenata:
Românticos instantes de emoção!
Amável, bom amigo, mais que irmão,
Ó companheiro de alma tão pacata,
Que me tangia esplêndida sonata,
Para alegrar o triste coração!
Nos tempos idos, bons, maravilhosos,
Nós éramos alegres e ditosos,
Tínhamos, pois, os corações em festa...
Mas, hoje, só nos resta nostalgia,
Saudade que passou, em poesia:
Românticos momentos de seresta!
J. Udine
**ODE À CERVEJA**
Depois de uma semana atribulada,
Libertos das ciladas e perigos,
Faz-se preciso abrir alguns postigos
Que abrandem a difícil caminhada.
Aquela cervejinha bem gelada,
No seio da família ou com amigos,
Não nos será motivo de castigos,
Ideia, com certeza, abençoada.
Cerveja, que refresca e nos anima,
Que faz diminuir o nosso entrave
E põe o nosso astral mais para cima.
Cerveja amarga, lager, puro malte,
Ou pilsen, bem mais leve e mais suave,
Espero que, nenhuma, nunca falte!
Luciano Dídimo
**ODE AO PÃO**
Vens da semente posta em terra boa,
Das espigas brotadas em fartura,
Dos mil grãos da eficaz triticultura,
Da dádiva que o Céu nos abençoa;
Da mó que faz o pó que o fruto doa
À essencial matéria da mistura,
Do humor vital, do sal, da levedura;
A sova e a assada ao gosto da patroa.
És, portanto, este corpo são, doirado
O alimento completo e tão sagrado,
O regente das quebras matutinas,
E vais bem com café, com queijo minas…
Tu és a verdadeira comunhão,
Não consigo viver sem este Pão!
Paulino Lima
**ODE A DIADORIM. Nº 7674**
Jagunço leva amor no peito e informa:
–Um sentimento oculto, nunca espalma;
sem toque duplo, bando foge à norma,
a virgem mostra espelho puro da alma.
Evoluída, luta e o grupo forma.
A voz seduz, olhar de medo, acalma;
beleza jovem traz seu corpo, em forma;
bem decidida aponta uma arma, em palma.
Guerra local garante do “estro” causa.
Gesto traduz, janela U “ubris” certa,
“élan” sensível, “homo” sente pausa.
A relação causal revê pronúncia...
Grande Sertão Veredas vem, desperta:
–Querer amar alguém requer renúncia.
-
Sílvia Araújo Motta
**ODE AO ESPELHO**
Acordo de manhã e te procuro,
quero te olhar e me encontrar agora,
eternamente em ti eu me emolduro,
és o primeiro que me vê na aurora!
Depois da noite, quando cessa o escuro,
a tua refulgência insiste... aflora...
mostra o presente sempre com apuro
e já mostrou-me as lágrimas de outrora.
Bem sei que não te deixo sem cuidado,
estás em segurança... pendurado,
pois se te quebro, como vou me ver?
Bem sei que não te deixo para trás,
pois se te esqueço, perco a minha paz,
és a duplicação do meu viver!
Janete Sales
**ODE AO RIO MADEIRA**
Nascidas na algidez da cordilheira,
vêm da Bolívia as tímidas correntes
que crescem, atravessam a fronteira
e neste solo chegam, imponentes.
Adentram a floresta brasileira
as águas do maior dos afluentes
à destra do Amazonas, a primeira
de nossas maravilhas existentes.
Lambendo ribanceiras no caminho,
ziguezagueia nosso rio amado
que traz no colo troncos e, portanto,
recebe o nome dado com carinho,
profusas vezes dito e celebrado:
Madeira, espelho mágico, de encanto!
Jerson Brito
**ODE À CHUVA**
Quando a chuva se ausenta do sertão,
Morre o gado de fome sem comida.
Falta sombra com água na bebida.
A barragem secou o seu porão.
Migram aves buscando solução,
Que o braseiro do sol assola a vida.
A lavoura pouquinha e ressequida
Serve apenas de adubo para o chão.
Mas bombando o trovão na madrugada
É o prenúncio da chuva programada
Que escutei o carão anunciando.
Chuva traz abundância em quantidade,
Vai embora a tristeza e que saudade
Da ramagem no chão se esparramando.
Troya D'Souza
**ODE AOS MEUS FILHOS**
Pequenininhos, frágeis, delicados...
Chegaram os meus gêmeos – Que alegria! –
E eles me ensinam mais, em poesia,
Do que as lições de todos os tratados.
Pude sentir a esplêndida magia
Do nascimento, enquanto ouvia os brados
Dos meus bebês, a darem-me recados
De que, de fato, um pai também nascia.
E ali eu contemplava o lindo brilho
Do olhar inédito de cada filho,
Quais fossem a obra-prima de um pintor.
Murilo e Augusto, no ato de nascer,
Fizeram que eu pudesse conhecer
A face mais autêntica do amor.
Gilliard Santos
**ODE À MINHA INFÂNCIA**
Existe um bem que guardo na memória,
Do qual meu coração jamais se cansa:
Voltar no tempo e ler a linda história
dos meus dourados tempos de criança.
Em meio à natureza... quanta glória!
E junto aos milharais, ah, que festança,
Entre os canaviais, porção notória,
nas verdes matas, vívida esperança!
Alegro-me ao lembrar, banhar na chuva,
Caía em minha pele feito luva,
e, ao sol, pulando corda sem espanto.
À noite era belíssimo o luar...
Só nunca ouvi na vida alguém falar,
que o fato de crescer doía tanto!
Marlene Reis