ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE

CAPÍTULO I – UM AMOR JAMAIS ADORMECIDO

Mãe, já esperei demais! Vou atrás da atrás do amor da minha vida.

Não é quem estou pensando! É?! Se for, tenha juízo e desista dele!

Há dois anos que ficou viúvo. Venceu o prazo de luto pela falecida.

Com tanto homem solteiro, você vai investir seu amor justo nele?!

Sem falar na filha do viúvo que tem da falecida todos os traços.

Em nada puxou o pai fisicamente, quiçá nem na personalidade.

A senhora tá certa, mãe! O amor quer me por nesses embaraços.

E o meu coração se recusa fugir dessa nova desafiadora realidade.

Eu já o amava antes dele namorar, noivar e casar com a defunta.t5

Todavia a falecida não possuía timidez; logo ela passou na frente.

Casaram. Tiveram a primogênita. A doença com a morte se junta.

Leva a distinta. Meu amor pelo viúvo, que nunca havia adormecido,

Vê agora uma nova chance de ser vivido com vigor reciprocamente.

A esperança se alia com a certeza. Meu amor se torna fortalecido.

CAPÍTULO II – FUTURO MATERNO

Filha, meu conselho foi dado. Faça dele o que melhor lhe aprouver.

Você é adulta, vacinada e senhora do seu nariz. Se der algo errado,

Não se acanhe. Eu estarei sempre do seu lado, haja o que houver.

Na casa e no meu coração sempre lhe haverá um lugar reservado.

Obrigado, mamãe! Eu sei que sempre posso contar com seu apoio.

Mesmo contrariando seu conselho, eu vou em busca da felicidade.

Se não a conseguir é porque eu não soube separar do trigo o joio.

O viúvo me retribuindo no amor, serei feliz por toda eternidade.

Depois de casada, realizarei um sonho que lhe deixará jubilosa.

Tão cedo a senhora será vovó e paparicará os seus lindos netos.

O viúvo é um bom homem, mãe, e tornará minha vida maravilhosa.

Amém, minha amada filha! Vê-la feliz, seja com quem for, me basta.

Quanto aos netinhos, com eles meus dias serão afluentes em afetos

E a abundante alegria em nosso viver jamais será efêmera ou gasta.

CAPÍTULO III – O PRIMEIRO ENCONTRO

Moça, não corra! O cadarço direito do seu tênis está desamarrado.

Vou interromper a minha corrida para amarrar o cadarço. Obrigada.

Com seu consentimento, deixo seu cadarço direito bem amarrado.

Assim você voltará a corrida como se não tivesse acontecido nada.

Eu aceito. Grato pela sua gentileza. Como assim, nada acontecido?

Eu estou tendo a satisfação de lhe conhecer. Então, aconteceu sim.

O que está faz aí encostado no carro? O viúvo mostra-se contido.

Espero a minha filha. Estuda naquela escolinha. A aula está no fim.

Que bacana! Quantos anos ela tem? Cinco anos. É o meu tesouro.

há dois anos perdeu a mãe, minha esposa. Ele ao falar lacrimeja.

Calado. A falta dela nos dói e dá-nos a tristeza como logradouro.

Eu nem a conheço e estou aqui lhe expondo o meu sofrimento...

Isso mostra que lhe inspiro confiança e tenho uma aura benfazeja.

Acho que sua filha está vindo. Tchauzinho e grato pelo momento.

CAPÍTULO IV - SEQUÊNCIAS

O primeiro encontro do viúvo com a moça não foi coincidência.

A jovem engendrou a situação que agora acontece habitualmente.

Gosto de você, mas não a amo. Não vou mentir, tenho decência.

Meu coração e o meu amor é daquela que faleceu recentemente.

Se a alma não tivesse enlutada, você seria para mim a esposa ideal.

Também não sei se minha filha queria tê-la no lugar da mãe dela.

Não quero ficar no lugar da falecida. Quero ser seu novo amor real.

Não me vejo nova mãe de sua filha. Jamais lhe causarei tal mazela.

Vejo-me amiga dela ou um ser feminino para lhe servir de padrão.

Vocês dois não podem viver de luto para sempre. Isso não é certo.

Deem o direito de serem felizes, sem essa terrível dor no coração.

Viver em luto eterno, não trará de volta a esposa/mãe falecida.

A vida não congela o tempo, ela o segue, deixando em aberto

Como vivê-la. Nossas escolhas a deixarão mais ou menos colorida.

CAPÍTULO V – O SIM

Sei que você me ama e muito. O Mesmo não posso dizer de mim.

Você é consciente disso, todavia acredita que eu dia posso amá-la

E que nós dois, eu e você, podemos viver um amor recíproco enfim.

Tal pai, tal filha. Um trabalho semelhante terá para conquistá-la.

Com tudo isso você ainda insiste que pode ser feliz ao meu lado?

Sei que eu e minha filha já deveríamos ter nos livrados do luto.

Não conseguimos e sofremos sem cessar com esse mal instalado.

Minha filha não merece viver assim. Então estou bastante resoluto.

Vou direto ao assunto sem enrolação. Digo sim ao nosso namoro.

Porém lhe peço: tenha paciência comigo e minha filha; quiçá de Jó.

Terei sim. Por nossa felicidade, nosso amor, a impaciência devoro.

Um débil beijo entre os dois opta em dar as caras, ou será lábios?

Beijo de um coração de luto. Quem conhece o sabor é a moça só.

Será que a decisão tomada teria respaldo dos homens mais sábios?

CAPÍTULO VI – A MÃE DA NAMORADA

O viúvo nunca levou a namorada dele para conhecer sua casa.

A moça só via a filha do viúvo quando o casal ia a uma sorveteria,

Um restaurante, ou cinema. A convivência duas era bastante rasa.

Carinho por parte dele era eventual, já o da moça era todo dia.

A mãe da moça observava tudo de longe e achava muito esquisito.

A minha filha está entrando numa terrível barca para lá de furada!

Outro dia eu conheci o namorado da minha filha. Ele não é bonito.

O viúvo veste bem, é educado e, sem exagero, parece alma penada.

Perguntei a razão de não trazer a filha. A mesma visitava a avó.

Não tocamos no assunto da esposa falecida, apenas nos triviais.

Aprovou minha comida, a educação dada minha filha, sem xodó.

A bobona se desmanchando pelo viúvo e ele lá bastante formal.

Rezo pra minha filha voltar à realidade e não ser tarde demais.

Ela merece algo melhor! Um homem solteiro, sem filho e jovial.

CAPÍTULO VII – NOIVADO

O casal resolve noivar, fazer chá de panela e tudo a que tem direito.

pois durante o noivado a data de casamento também foi marcada.

Para o viúvo só o comunicado aos familiares após o pedido feito,

Mas a noiva quis confraternizar essas datas por ela tão sonhada.

A filha do viúvo não está presente. Há um novo pretexto em favor.

O noivo não demonstra felicidade. Está lá para noiva não reclamar.

A mulherada fala sobre roupa do casamento, estilo, tecido, cor...

De futebol, trabalho, mulher, carro estão os homens a conversar.

Padrinhos dos noivos foram todos escolhidos entre os presentes.

A dama de honra será a filha do viúvo. O pai não queria aceitar.

Fora o noivo que se mantém formal, todos estavam contentes.

Alguns amigos se oferecem pra cantar e tocar no casório da igreja.

Já outros à festa que haverá após o casamento na igreja finalizar.

Tudo de bom se conspira numa noite dessa de aroma benfazeja.

CAPÍTULO VIII – O CASAMENTO

No casamento o noivo estava com a cara de tanto faz e tanto fez.

A noiva pelo contrário. Estava com um vestido de noiva estupendo,

Com ares de felicidade em seus olhos e no sorriso. Quanta altivez!

Os convidados pela prosperidade do dileto casal estavam torcendo.

Você ainda não entrou na igreja. Quer mesmo casar com esse cara?

Mãe, não agoure meu casamento. Abençoa-o para eu ser bem feliz.

Eu o amo e ele se apaixonará por mim; meu coração crê e declara.

Tá bom, confiarei no seu amor! Não farei mais comentários hostis.

A dama de honra, filha do noivo, vem com as alianças emburrada.

Ela ficou assim à cerimônia toda. Parecia estar brigada com alguém.

Na hora de dizer aceito, vê sua filha que está com a face carregada.

Pensa na falecida. Eu não lhe traio. Meu amor por você é infinito.

Caso-me para que a nossa amada filha não seja da tristeza refém.

Terá uma boa companhia feminina e poderá sair desse dó maldito.

CAPÍTULO IX – LUA DE FEL

Ao abrir a carteira do marido, uma tristeza lhe invade sua visão.

Dentro da carteira havia foto do marido com a filha e a falecida.

Entrega ao funcionário do hotel a gorjeta com tremedeira na mão.

Mal ele sai do banho, teremos uma conversa para mim bem doída.

Viu as postagens da cidade em que estamos para a lua de mel?

Veja os locais para curtimos e termos nossos dias maravilhosos!

Opa! Você está chateada! O que ou quem lhe derramou o Fel?

O mensageiro que aqui veio lhe fez comentários indecorosos?

Com a nossa bagagem então aconteceu alguma coisa de ruim?

Você não está gostando do hotel? Da cidade que fora escolhida?

Fale, querida, para que nós possamos em sua tristeza dar o fim.

A esposa vai até a mesa central pega trêmula a carteira do marido.

Por que traz consigo uma fotografia de sua ex-esposa falecida?

A minha foto deveria estar aqui. Cadê-la? Eu sou todo ouvido!

CAPÍTULO X – A FOTOGRAFIA

Querida, a foto que está na minha carteira é foto da minha família.

Então eu não pertenço à sua família, é o que você está me dizendo?!

Você está me vendo na foto? Nela estão você, a falecida e sua filha.

Se não sou membro de sua família, sou o quê? Está entendendo?

Com a mão no rosto sai chorando compulsivamente para o quarto.

O marido vai atrás da esposa. o que eu quis dizer você inferiu mal.

A porta estava fechada. Abra, querida! Peço-lhe! Entenda-me! Parto

Do princípio que eu me expressei de forma errada! Ouça-me afinal.

Ao se recompor, abre a porta, apesar de trazer os olhos vermelhos.

Querida, você faz parte sim da minha nova família, não a da antiga.

Eu Já estou tirando a foto da carteira e peço-lhe perdão de joelhos.

O que você quer que eu faço com a foto? Rasgue-a? Jogue-a fora?

O que eu não quero é vê-la chorar justo em nossa lua de mel. Diga!

Dê a fotografia para a sua filha. Será útil a ela, não somente agora.

CAPÍTULO XI – LAR AMARGO LAR

A sua casa, a moça pediu a mãe para alugá-la de porteira fechada.

A mãe acatou o pedido da filha. Alugou a casa e tudo que há nela.

Agora casada, a moça foi morar na casa do marido e sua enteada.

Mal chegou da viagem o pai foi abraçar a filha e dar um beijo nela.

Agradeceu muito sua tia por ter ficado com a menina. Dispensou-a.

A menina olha com desdém Pai, é com a gente que ela vai morar?

Não quero. Não é mamãe. A moça é esposa do pai. Aceite na boa?!

Ela será minha madrasta. Toda madrasta é má. Ela vai me castigar.

Menina, eu não sou má e foi por isso que seu pai casou comigo.

Querido, dê aquela foto à sua filha. Creio que ela gostará bastante.

Ao pegar e ver a fotografia, a menina chora. Eis de volta o inimigo.

Levarei minha filha para o quarto dela e conversar? Você importa?

Não, querido. Ao olhar para parede da sala leva um susto gigante.

Na parede de fronte a porta existe um enorme quadro da Morta.

CAPÍTULO XII – INSANIDADE

Atordoada a esposa anda pela casa. Acha mais quadros da defunta.

Além da sala, há um no corredor que dá acesso ao quarto do casal;

Outro na copa e mais um na biblioteca. Putz! É muita loucura junta!

Meu Deus! Entrei num hospício! Que será da minha vida conjugal?

Pai e filha obcecados numa mulher morta. Não aceitam a realidade.

Ignoram a morte com quadros enormes em pontos cruciais do lar.

O que fazer para livrá-los dessa situação e devolvê-los à sanidade?

Uma coisa é certa: não quero ficar louca! A cura deles, onde achar?

O pai desce com a filha já tranquila. A esposa fala para a enteada:

Não quis fazê-la chorar ao pedir seu pai para lhe dar a fotografia.

Achei que você com ela terá uma boa lembrança para ser olhada.

Ouça-me: não quero ocupar o lugar de sua mãe. A moça insiste.

Quero de ser sua amiga e quem sabe sua melhor amiga um dia.

Papai ficará triste se você for embora. Não quero meu pai triste.

CAPÍTULO XIII – NOVOS QUADROS

Os quadros novos que comprei deixarão as paredes mais animadas.

Eu tiro o quadro da morta da sala e ponho a do meu esposo e eu,

cuja foto foi tirada quando as nossas as alianças foram abençoadas.

Antes de serem postas em nossos dedos, um juramento aconteceu.

Na copa será colocada o quadro da Santa Ceia. Atitude tradicional.

Comer à mesa é algo sagrado, como Cristo sempre nos mostrou.

O da foto do pai e com a filha no corredor. Acho que ficará legal.

Na biblioteca, quadro da enteada lendo o livro que o pai indicou.

A enteada chega da escola. Não vê os quadros da mãe. Esbraveja.

Bruxa má! Por que fez isto? Onde pôs minha mãe? Fala para mim.

Querida, Tem quadro com você lendo, você com seu papai... Veja!

A menina vai pro quarto pisando duro e faz nervosa uma ligação.

Alô, Filha! Por que você está tão nervosa? O que a fez ficar assim?

Pai, ela tirou os quadros da mamãe da parede sem sua permissão!

CAPÍTULO XIV – DE VOLTA À PAREDE

Chegando do serviço, mal abriu a porta de casa, o marido esgoela.

Eu quero os quadros de volta; para tirá-los você não foi autorizada.

Você não pode tirar os quadros das paredes porque a casa é dela!

Querido, baixe o tom de sua voz já! Não estou entendendo nada!

A casa e dela! Dela quem? Sou a sua esposa! A casa é dela quem?

Será que vai ter audácia de me dizer que o lar pertence a falecida?!

Sei que você e sua filha não me pertencem e agora mais essa, hein!

Casou comigo para quê ? Para eu ser babá de sua filhinha querida?

Sem discussão, querida. Diga-me onde estão os quadros, por favor!

Se não me dizer, vou procurá-los até encontrá-los. O que prefere?

Estão no quarto de despejo dentro de um armário. Que desolador!

Se você não quer fazer a devolução dos quadros, eu mesmo a faço!

Tenho os pés e as mãos sadios. Não faça mais isso, porque nos fere.

Aos quadros novos... há outras paredes para que não haja rechaço.

CAPÍTULO XV – RELACIONAMENTOS ATRAVANCADOS

Senhor meu marido, o jantar está pronto e as panelas no fogão.

Se tiver com fome, vá lá e sirva-se. Faça o mesmo com sua filha.

Vou pro quarto das visitas. No “seu “quarto de casal ficarei não.

Deita-se com fantasma da ex-mulher. Pra você vai ser maravilha!

Separe uniforme e o material escolar que sua filha usará amanhã.

Dê dinheiro para que a mesma possa comprar um lanche na escola.

Ah, se vocês quiserem sobremesa, na geladeira tem torta de maçã.

Marido, só uma sugestão: tire a morta do seu coração e da cachola.

Queria mandar todos àquele lugar. Minha educação não permite.

Boa noite pra vocês. Como diz a canção “amanhã vai ser outro dia”.

Madrasta com raiva... ela que fez coisa errada! Filha, não dê palpite!

Hora de dormir. Marido e esposa dormirão em quartos separados.

A tristeza na casa é duplicada, porque o casamento beira a agonia.

Antes só luto. Hoje, luto e relacionamentos familiares atravancados.

CAPÍTULO XVI – A VISITA MATERNA

Ouvi meu coração, mesmo sem comunicar vim lhe fazer uma visita.

Que bom! Nós temos um caminhão de assuntos para pôr em dia.

Quem é a moça do quadro da sala? Ela é uma pessoa muito bonita.

É a falecida, mamãe. Tem mais três apela casa. Filha, eu os tiraria.

Já fiz isso, mãe, mas o meu marido e enteada os pediram de volta.

Por causa disso, nós estamos dormindo em quartos separados.

Meu casamento está por um fio, se não houver uma reviravolta...

Por hoje ser domingo, saiu com a filha, como haviam planejados.

Pare de ser boba, filha! Procure a igreja e a justiça e peça anulação.

Você tem seu emprego, casa, sua mãe. Não precisa passar por isso.

Amor sem reciprocidade é de fato um cruel sofrimento sem razão.

Não jogo no campo do inimigo. Vamos agora para a minha casa.

Lá nós conversaremos à vontade sem ameaça de interrupção. Disso

Tenho certeza. Mande o recado no celular do marido e agente vaza.

CAPÍTULO XVII – SOB AS ASAS DA MÃE

Para curar um sofrimento de um amor, somente um outro amor.

Se você me ouvisse daria uma senhora banana pro seu casamento.

Embora você ache a ideia do término um verdadeiro ato de horror.

Afirmo que eu estou do seu lado, apesar do seu posicionamento.

Para manter o seu matrimônio, tenho duas opções, se aceitá-las.

Procurar já um psiquiatra e psicólogo para seu marido e enteada.

Eles estão doentes da cabeça. A mente deles…precisam ajustá-las.

Certo é guardar luto por um ano. Depois a vida volta ser apreciada.

Se o pai não tivesse desequilibrado, a menina aceitaria a situação.

Caso não fazem o tratamento, meu conselho é: abandone o barco.

Querida filha, vem do mundo celestial a minha segunda opção.

Reze aos anjos, santos, Cristo, lhe ajudarem consolidar seu casório.

Ore com muita fé, pois se não seu objetivo nas preces será parco.

Some a qualquer das opções muita paciência pra sair desse velório.

CAPÍTULO XVIII – ASSUNTO CHATO

Os rueiros já estão em casa. Cada um no canto chorando seu tanto.

A esposa chega ao marido e diz que precisa bastante da ajuda dele.

Para salvar o casamento que está indo pro ralo abaixo. No entanto,

Necessita do apoio do cônjuge e da ajuda da medicina. Não apele.

Todos nós precisamos de tratamento psiquiátrico e psicológico.

Você e sua filha para saírem desse luto anormal e interminável.

Eu para dar suporte a vocês deixarem tal comportamento ilógico.

Querida, por considerar uma ideia absurda, realizá-la é inviável.

Vou dizer de novo em alto e bom som: eu ainda estou enlutado.

Só quem um grande amor a morte levou sabe que estou passando

Você casou sabendo da minha dor viuvez, desse meu triste estado.

Jamais durante nosso namoro lhe enganei ou lhe omiti algum fato.

Dê tempo ao tempo. Quem sabe um dia estaremos nos amando?!

Vamos cuidar de nossa vida e encerrar de vez esse assunto chato.

CAPÍTULO XIX– OMISSÕES E MENTIRAS

Vou desmenti-lo, meu marido. Você foi omisso e também mentiu.

Omitiu-me que havia na casa onde moramos quadros da falecida.

Não me disse que arrumação da casa segue o gosto da que partiu.

Não me aproximou de sua filha para sermos uma da outra querida.

O mesmo juramento que fez à falecida, também foi feita a mim.

Você jurou que estava me recebendo como sua legítima esposa...

Se os quadros da falecida estão na casa é não os meus denota sim,

Que para você, a morta é seu cônjuge. Eu apenas uma prestimosa.

No altar você prometeu me amar por todos os dias da nossa vida.

Como irá me amar se pro meu amor seu coração é impenetrável?

Não por minha culpa, mas essa insanidade que está em si inserida!

Você também prometeu me respeitar. Se eu não tenho autonomia

Para administrar a casa onde moro, onde está o respeito inefável.

Espiritualmente falando, você vive comigo uma relação de bigamia.

CAPÍTULO XX– A GRANDE MENTIRA

Não obriguei casar comigo. fez isso por livre e espontânea vontade

Por mais que soubesse que não me amasse e sim que ama a finada.

Peguei muito no seu pé para casar comigo. Não nego essa verdade.

Casamos um com outro porque quisemos. Ninguém obrigou nada.

Você vive para si mesmo e para todos na mentira todo santo dia.

A criança segue exemplo do pai, daí a filha ter o coração enrijecido.

Viver a mentira como a mais pura verdade é caso para psicologia

E psiquiatria. Por tudo que disse, querido, se dê por convencido?

Querida, você pode estar certa, mas minha resposta ainda é não.

Não preciso de médico. Não estou doido. Você é que está maluca,

Forçando a barra pra que eu tire a amada falecida do meu coração.

Você quer ir ao psiquiatra e psicólogo, vá! Não me oponho, apoio.

Eu e minha filha irem a um médico de doido, tire tal ideia da cuca.

Ponho ponto final na conversa. Já deu para separar o trigo do joio.

CAPÍTULO XXI – PRECES À FALECIDA

Rezamos na Oração do Pai Nosso que seja feita a vontade divina

E não a nossa. A minha mesmo é de manter o meu casamento,

nos padrões normais. Eu e meu esposo nos amando e a menina,

Minha enteada, minha grande amiguinha e sem ressentimento.

Se a falecida fosse viva, dir-lhe-ia olhando na cara toda verdade.

Sendo ela uma alma, o jeito que vejo é dirigir a ela minhas orações.

Pedi-la que fale ao esposo, a filha dela e comigo, se tiver vontade.

Ela sabe. Tenho pelos entes queridos dela as melhores intenções.

Recordo-me dela viva. Não era minha amiga mas sim conhecida.

Era justa, amigável, bem alegre, trabalhadora, sociável e religiosa.

Pelos atributos ditos creio que está num bom lugar após falecida.

A intercessão da morta no meu casamento será a última cartada.

Se não acabar com a neura do marido, deixo essa relação danosa;

Lamentando por ter vivido uma experiência amorosa tão frustrada.

CAPÍTULO XXII – MINHA AMADA ESTÁ AQUI

Sinto um sopro sensual em meu ouvido. A minha amada está aqui.

Apareça! Apareça minha amada! Não tenho medo! Deixa-me vê-la!

Você sabe o quanto sofro pela sua ausência. Desejo muito estar aí,

Mas tenho a missão de criar nossa filha, se não quem irá exercê-la?

Não é justo deixar a nossa menina órfã total e sozinha no mundo.

Não tenho coragem de tirar minha vida, ainda mais da nossa cria.

Adiciona a isso meu sentimento de culpa gigantesco e profundo.

Não era pra você ter morrido. Em seu lugar era eu quem deveria.

Achei que o carro estava longe. Obriguei-a comigo atravessar a rua.

O veículo ao desviar de mim, atingiu-a. Foi uma batida bem forte.

Arremessou-a muito longe. O condutor fala pra mim: a culpa é sua!

Veio ambulância com a sirene ligada. Rápidos agem os socorristas.

De chofre você é arrancada das mãos dos paramédicos pela morte.

Ainda no local tive a cruel notícia. Fui acudido. Turvou-me as vistas.

CAPÍTULO XXIII - O PEDIDO DA AMADA

Saiba que “não cai uma folha da árvore sem que Deus queira?! ”

Esse provérbio é pura verdade. Morri porque chegou minha hora.

Por isso não se culpe. Carregar com você tal infortúnio é besteira.

Não sou mais sua esposa, pois a morte nos separou. Eu fui outrora.

Além da morte, você casou de novo. Fez os mesmos votos no altar.

Jurou diante de todos presentes, do padre e Deus, principalmente.

As juras, esqueceu? Á nova noiva você vai ser fiel, respeitar, amar;

Na saúde, na doença, na alegria e tristeza, até a morte novamente

Levar um dos cônjuges. Sua esposa atual lhe ama. Pode ter certeza.

Morando aqui é como se ela estivesse não no céu e sim no inferno.

Ela não foi embora. Ficará aqui até suas forças perderem a firmeza.

Tire o luto do coração. Abra-o à nova consorte. Você será tão feliz

Como foi comigo. Terá um novo amor verdadeiro, corajoso e terno.

A falecida se materializa para se despedir de seu ex-marido infeliz.

CAPÍTULO XXIV – DESAPEGA

O homem abraça, beija, acaricia o fantasma amado. Quantos anos...

O ser materializado não retribui a demonstração material do amor.

O marido chora rios ao sentir sua amada. Tínhamos tantos planos...

Meu amado, quer me fazer feliz? Sim. Peça que farei. Seja o que for.

Pare de chorar já! Queime os quadros com as minhas fotografias.

Deixe apenas a foto que sua atual esposa deixou com nossa filha.

Agora vivo na morada do Senhor. Então ore por mim todos os dias,

Traga-me em suas lembranças. Mesmo sem mim, siga a sua trilha.

Em seu novo caminhar, o Senhor pós uma mulher encantadora.

Saio eu, entra ela. Não negue o amor dela e nem a deixe solitária.

Dê seu coração à sua atual esposa. Ela será sua força renovadora:

de cumplicidade, compreensão, amor, cuidados e perseverança.

Ajudar-lhe-á na criação da nossa filha de forma extraordinária.

Topado de emoção, o homem dorme... vou visitar minha criança.

CAPÍTULO XXV - RALHANDO COM A FILHA

Ao sentir que a coberta é posta em seus ombros, a menina acorda.

O que ela vê a assusta. Mamãe! Você morreu! Foi enterrada e tudo!

Fique tranquila! É mamãe! Eu morri sim. Você está certa. Concorda.

Moro com Papai do Céu. Se fosse má, estaria agora com o chifrudo.

Porque a mamãe está aqui? A mamãe veio pra lhe chamar atenção.

Por que não está tratando bem a moça com quem o papai casou?

Eu ensinei você fazer coisa feia? Claro que não! Dei-lhe educação.

Mãe é insubstituível. Eu sou sua mãe para sempre. O que achou?

Que a moça ficaria no meu lugar? Quem lhe disse isso mentiu feio.

Ela casou com papai pra fazê-lo feliz e você também. De que jeito?

Sendo nova esposa do papai e sua nova amiga. Pra isso que veio.

Quem a enviou? O próprio Papai do Céu! Ele não os quer sofrendo.

Eu idem. Ajudem a moça amar vocês. Deem-na carinho e respeito.

À medida que o tempo passe, as suas tristezas irão desaparecendo.

CAPÍTULO XXVI - BOA-DRASTA

Se Deus não quer a gente triste, por que Ele deixou você morrer?

Isso é coisa d’Ele. Sem resposta. Sei que Ele me chamou e pronto!

A moça é minha madrasta. Madrastas são más, deu pra entender?

Bom ou mau faz parte do caráter. Há mães más que nem de conto.

A moça que casou com o papai não tem nada, nada de maldade.

Ela tratará você bem e você vai chamá-la, sabe de quê? Boa-drasta.

Se é você que está falando, minha mãe, só pode então ser verdade.

Ela não vai gostar de mim. Fui má. Peça-lhe desculpa. Só isto basta!

Mamãe, pedirei sim desculpa pra moça que casou com papai, viu.

Prometo que nunca mais eu vou agir assim com ninguém, tá bom?

Ótimo, filha! Tão ótimo que a zanga da mamãe com você sumiu.

Vendo você vejo que não é mais criança e sim uma linda mocinha.

Deita na sua cama que farei uma coisa que você gosta. Tá bom.

A filha mesmo atenta, dorme ao ouvir da mãe uma bela estorinha

CAPÍTULO XXVII – O FANTASMA E A ESPOSA

Ao ver a esposa se benzendo, o fantasma pede para ela acalmar.

Vim aqui para atender as suas preces feitas com muitíssima fé.

Conversei com a minha filha e agora seu esposo. É só aguardar.

Eu não posso obrigá-los a fazer o que é certo. Você sabe como é.

Existe o livre-arbítrio. Por conhecê-los bem, optarão pela verdade.

Por essa certeza, passo-lhe o bastão. Minha família doravante é sua.

Fico em paz por saber que estará em ótimas mãos. Tenho-lhe afeto

pelo seu amor, pela sua resiliência, fé, determinação e honestidade.

Passado o tremendo susto, a esposa faz agradecimento ao espírito.

Muito obrigada por vir ao meu socorro e aos elogios feitos a mim.

Por nada! Caso me ouçam, darão um término a esse período crítico.

A assombração desaparece. Tudo que era para ela fazer fora feito.

A esposa sai do quarto de visita. Os dois estão num sono sem fim.

Retorna ao aposento. Eu vou dormir e esperar o novo dia. É o jeito.

CAPÍTULO XXVIII –“INDEPENDÊNCIA OU MORTE”

A esposa acorda apavorada com fumaça entrando em seu nariz.

Minha Nossa Senhora! Fogo! Será que a casa está pegando fogo?

Não é a casa. A fumaça está vindo lá de fora. A esposa fica feliz

Com o que vê ao se aproximar da janela. Acho que virou o jogo!

Imediatamente vai para o terreiro e vê de perto o acontecimento.

Meu querido, por que você está queimando os quatros da falecida?

Só porque os guardei num quarto fui vítima de terrível xingamento.

Agora você faz pior. O que o fez tomar essa atitude tão descabida?

Querida, vou lhe contar, mas você vai me dar como doido. Paciência!

A falecida apareceu para mim ontem à noitinha. Juro que é verdade!

Pediu-me pra queimar os quadros dela e fazer minha independência.

Disse-me para eu não caminhar só, já que tenho você ao meu lado

Por não pertencer mais nosso mundo e sim o mundo da divindade.

Pediu-me também que orasse pra ela, pois seria um bom agrado.

CAPÍTULO XXIX – PERDÃO

A falecida morreu foi por minha causa. Isso eu não lhe contei.

Fomos atravessar a rua com sinal vermelho. Um carro a atingiu.

Ela não queria. Eu insisti. Após o acidente vi a burrada que dei.

Sua morte colocou-me um sentimento de culpa que nunca se viu.

A falecida absolveu-me. Disse para mim que foi obra do acaso.

Depois que ela foi embora, paz e alívio em mim estabeleceram.

Percebi o quanto que a nossa vida sofreu um gigantesco atraso.

A menina caminha em direção do casal. Ambos para ela olharam.

Minha filha, ainda é cedo. Volte para cama e durma novamente.

Estou sem sono. Quero fazer uma coisa que minha mãe mandou.

Sua mãe também apareceu para você? E você? Ficou contente?

Sim, papai. Minha mãe disse para eu pedir desculpa à sua esposa.

Moça, me perdoa! Fui má para você, mas eu não sou má! Eu sou?!

Perdoo-lhe e sei que você não é má. Sabe o que me deixa vaidosa?

CAPÍTULO XXX – “COMEÇAR DE NOVO E CONTAR COMIGO...”

Ter casado com homem bonito e ter uma menina bonita pra cuidar.

O elogio é pago com beijo. Filha, minha esposa também é bonita!

É sim, papai! Mas a minha mãe é mais. Enteada, não vou discordar.

Querida, nós vamos começar tudo de novo quase do zero. Reflita!

A única coisa que fizemos direito foi casar. O casamento foi real.

Contudo, namoramos de mentira, noivamos também de mentira.

Não de sua parte mas sim da minha. Se aceitar, querida, que tal

A gente namorar e noivar de novo com tudo que o amor inspira?

Findando novo namoro e noivado faremos a renovação das bodas.

Tudo ocorrerá dentro do nosso casamento e deixe a vida nos levar.

O que acha da proposta? E do cumprimento das suas etapas todas?

A sua ideia achei maravilhosa! Que no projeto sua filha seja inclusa.

Nada dela ficar com parentes. Diz um velho e sábio ditado popular:

“Aonde vai a tampa, vai o balaio. ” Sendo assim, ótimo, sem recusa.

CAPÍTULO XXXI – VIVENDO UM NOVO PRESENTE

Querida, que acha de vender essa casa para ter uma outra, nova?

E de tudo novo! Bairro, móveis, utensílios domésticos e por aí vai!

Vivamos novo presente desprezando tudo que a felicidade reprova.

Eu também terei o direito de ter uns brinquedinhos novos, Papai?

O pai e a madrasta da menina caem numa gostosa gargalhada.

Seja bonzinho e diga sim ao desejo de sua filha muito querida.

Direi sim, mas com uma ressalva. A filha olha o pai ressabiada.

A doação dos brinquedos que não use mais. Ressalva atendida?

A filha concorda abraçando o pai e a madrasta pela primeira vez.

As duas ficam surpresas com a ação ocorrida. Que bom! Aconteceu.

O pai aliviado vê a esposa e a filha abraçadas com olhar de altivez.

Novamente o padre diz: “o que Deus uniu, o homem não separe. ”

Era a cerimônia da renovação dos votos do casal. Invisível apareceu

Por lá a falecida: agora a minha família tem um ser que a ampare.

O FILHO DA POETISA

Filho da Poetisa
Enviado por Filho da Poetisa em 27/02/2023
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